Cine Casarão será inaugurado no final de setembro, com 30 lugares

Quem conheceu os cinemas do centro de Manaus sabe que, em termos de diversão nos finais de semana, não existia coisa melhor. Durante décadas eles imperaram. Mas aí vieram os shoppings, com suas magníficas salas, ar-condicionado, cadeiras estofadas, som estéreo e pipocarias e, um a um, os cinemas do centro, que não tinham essas modernidades, foram fechando suas portas.

Passaram-se 15 anos e eis que num revival, o produtor cultural João Fernandes resolveu abrir uma sala de cinema no centro de Manaus. A sala de cinema se chamará Cine Casarão e funcionará numa das salas do Casarão de Ideias. “A tela e o projetor foram comprados em São Paulo e já estão a caminho de Manaus. A tela mede 1m40 por 3m15, e tem padrão Cinemascope”, disse Fernandes. A previsão de estreia do Cine Casarão é o final desse mês.

João é cearense e está em Manaus também há 15 anos, por isso não conheceu nenhuma das salas pré-shoppings. “Não estou abrindo uma sala de cinema para ganhar dinheiro com isso. O objetivo é agregar mais um espaço cultural ao Casarão de Ideias”, explicou. No espaço serão colocadas 30 cadeiras, e mais uma vez o revival se faz presente nesses móveis. Elas são bem parecidas com a das salas de antigamente, porém, estofadas. “Eu as vi na OLX e comprei”, disse.

Foto: Walter Mendes/Jornal do Commercio
Os filmes do Cine Casarão serão do catálogo da Distribuidora Vitrine Filmes, de São Paulo, que possui uma lista com 80% de filmes produzidos no Brasil e o restante de filmes estrangeiros. “Seguiremos duas vertentes na escolha dos filmes que serão exibidos: uns serão aqueles lançados no Brasil, mas que nunca chegaram a Manaus pelo fator comercial, os outros serão as estreias, faladas, comentadas e esperadas pelos cinéfilos. A exibição dos filmes do primeiro grupo acontecerá às quartas e quintas-feiras, os demais serão exibidos nas sextas e sábados”, adiantou.

O Casarão de Ideias já existe há oito anos, o que, segundo Fernandes garantiu um público ‘cativo’, que prestigia todos os eventos realizados no espaço. “Para você ter uma ideia, ficamos esse tempo todo num casarão na rua Monsenhor Coutinho e há uma semana estreamos nesse casarão, aqui na rua Barroso, com o ‘Mova-se’ e circularam mais de mil pessoas em nossos espaços”, revelou.

Os ingressos para o Cine Casarão custarão R$ 10 e R$ 5, e os horários serão 18h30 e 20h30. A falta de estacionamento no centro não preocupa João Fernandes. “Escolhemos esses horários exatamente porque é quando essa região começa a ficar vazia de carros estacionados e camelôs mas, dependendo da demanda, poderemos criar horários alternativos”, garantiu o produtor cultural.

Os espaços do Casarão

O Casarão de Ideias é uma associação cultural sem fins lucrativos cuja finalidade é a promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico. Concebido inicialmente para ser a sede da Cia. de Ideias, hoje a entidade desenvolve as mais diversas atividades culturais.

Os amplos espaços do secular casarão respiram cultura. Numa das salas está a galeria, atualmente com a exposição do artista plástico Charlles Marcley. Mais adiante uma loja vende os mais variados produtos, de roupas a pequenos objetos de decoração, além do futuro Cine Casarão. No andar superior uma biblioteca abriga centenas de livros sobre as mais diversas artes e inúmeros discos de vinil. Lá também está a Sala Cênica, onde acontecem exibições de teatro, dança, música e performances. No terceiro piso, um espaço melhor que uma pipocaria. Um bistrô com cervejas e tira-gostos.

“Em outubro vamos abrir um edital de ocupação da galeria. A ideia é ocupá-la com diversificadas artes, além da pintura, tipo escultura, fotografia, arte tecnológica. Queremos que cada artista fique ao menos um mês ocupando o espaço”, adiantou. “A Sala Cênica já está funcionando, mas também vamos lançar um edital para profissionalizar cada vez mais os espaços”, revelou.

Curiosidades sobre as salas EdLincon Barros é o maior pesquisador da história dos cinemas de Manaus. Durante as décadas de 1980 e 1990, EdLincon circulou pelas salas de cinema do centro como mais um dos cinéfilos existentes na cidade. “Comecei a pesquisar essas histórias em 1994 e as faço até hoje. A primeira exibição de cinema aconteceu em 1897, no Teatro Amazona, mas a primeira sala só foi inaugurada em 1907, ou seja, há 110 anos. Foi o Julieta, que depois virou Alcazar e acabou como Guarany, o mais icônico dos cinemas de Manaus”, disse.

Barros disse que a cidade já teve mais de 30 salas, nesses 110 anos, entre pequenas e grandes, ‘poeiras’ e executivas, sendo o maior deles o Ipiranga, na Cachoeirinha, que chegou a ter 1.500 lugares. Em 1980 o espaço foi reduzido para 500 e esta reinauguração teve grande divulgação, destacando a sala para fumantes.

O menor foi o Carmem Miranda, que deveria ter uns 165 lugares. “O Carmem Miranda pertenceu ao empresário Joaquim Marinho, o maior proprietário de salas de cinema que Manaus já teve. Marinho chegou a possuir dez salas de cinema, sempre homenageando algum artista: Chaplin, Oscarito, Grande Otelo, Cantinflas.  O Chaplin foi o primeiro cinema do grupo, inaugurado em 1980, e também a última sala do centro a fechar suas portas, em 2002”, listou.

Outra curiosidade descoberta por EdLincon foi sobre o Polytheama, cujo prédio existe até hoje. Segundo o historiador Mário Ypiranga Monteiro, o prédio foi inaugurado em 1912, montado sobre uma estrutura de ferro, que por sua vez ficava sobre o igarapé dos Remédios, depois Aterro, que passa ali embaixo”, finalizou.
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