Artista plástico Cláudio Andrade conseguiu misturar sua arte com a natureza

Caminhar pelas trilhas do espaço onde vive o artista plástico Cláudio Andrade é conhecer a Amazônia, a floresta, os rios, os animais, as lendas, em poucos minutos. O artista vive num ambiente ecológico de mil metros quadrados criado por ele mesmo e sem um pingo de egoísmo, abre as portas do local para quem quiser visitá-lo, aos sábados e domingos.

Cláudio Andrade nasceu numa família sem grandes posses, na Cachoeirinha, filho de um pai marceneiro, que trabalhava incessantemente, e uma mãe dona de casa que teve e cuidou de onze filhos. “Cresci vendo meu pai trabalhar e minha mãe se desdobrar para cuidar de nós”, lembrou. Quando Cláudio Andrade estava com 14 anos, o artista Cláudio Andrade nasceu. “Pintei meu primeiro quadro quando tinha essa idade e nunca mais parei. Não aprendi com ninguém, também nunca estudei artes”, falou.

Andrade não tem um estilo clássico definido de pintura, mas seu estilo é próprio. Em traços leves e cores vibrantes, o artista delineia animais e imagens amazônicas. A beleza de seus quadros lhe deu fama e hoje, além de Manaus, o pintor tem trabalhos expostos e à venda em galerias de São Paulo e Paris. Mas não são os grandes colecionadores que interessam a Cláudio. “Desenvolvo o projeto ‘Arte para Todos’ cujo objetivo é popularizar meus quadros. Um quadro meu custa, em São Paulo, por exemplo, R$ 3 mil, mas aqui ele é vendido a R$ 300, com o restante sendo subsidiado por uma multinacional. E ainda pode ser pago com cartão, em quatro vezes. Meu interesse é que qualquer pessoa tenha uma obra minha em casa”, garantiu.

Foto: Walter Mendes/Jornal do Commercio 
Num dos cantos da galeria de sua casa, em local de destaque, o primeiro quadro, aquele, de quando ele tinha 14 anos. Mostra um barco, num rio, a primeira cena amazônica pintada pelo artista. No espaço em baixo do quadro, Cláudio fechou um canto e lá ‘guarda’ todas as latas de tintas utilizadas até hoje, em 45 anos de pintura.

A própria roupa do artista já é uma obra de arte, suja com mil cores das tintas que ele usa enquanto vai pintando e na qual limpa o pincel. “Eu não costumo receber ninguém com essa roupa, mas hoje aconteceu de eu estar com ela. Pode ser que seja outra obra minha. O tempo dirá”, disse.

Arte com concreto envelhecido

Mas o que chama mais atenção em Cláudio Andrade é o seu lado paisagista. Sua casa, seu ateliê e o terreno onde tudo foi construído não possuem um espaço em que não haja um objeto decorativo criado pela imaginação do artista. Logo na entrada uma sucuri ocupa toda a calçada e um tronco com bromélias embelezam a porta de entrada. Mas tudo é obra do artista, feitos com ferro revestido de concreto envelhecido. “Foi uma técnica desenvolvida por mim e que eu considero um passatempo, um hobby”, garantiu.

Quando comprou o terreno onde mora e trabalha, o local era praticamente inabitável, conta. “Há 35 anos, tudo aqui era num charco, que talvez ninguém quisesse”, lembrou. Pois o charco foi transformado num paraíso, um pedaço da floresta amazônica encravado dentro da cidade. No gigantesco jardim fica difícil dizer o que é uma árvore e o que uma obra do artista. O grosso tronco de árvore caído no chão, é uma obra. Algumas das árvores, em pé, em meio às outras, verdadeiras, são obras de arte. “Quando vim pra cá já havia uma mata nativa, que eu mantive, e outras foram nascendo”, explicou.

Sem que se perceba os visitantes passam sob uma sucuri de 32 metros, que faz voltas e aparece adiante, na terra. Um jacaré saindo de uma gruta é a mais nova obra de Cláudio. “Li sobre ele e resolvi recriá-lo. Originalmente tinha 16 metros, mas ia ficar muito grande aqui, então fiz só quatro metros, saindo da gruta. A bocarra aberta é proposital para que as pessoas entrem e tirem fotos. Até a próxima semana estará terminado”, adiantou. No caminho fica difícil perceber os trabalhos de Cláudio espalhados por todo o terreno, inclusive no alto das árvores, tudo com a mesma técnica: ferro recoberto com cimento envelhecido imitando galhos e troncos de árvores. Uma pequena ponte passa por sobre uma nascente que forma um igarapé onde nadam carpas chinesas, presentes de um amigo.

Aberto a todos

Mais adiante um lago, onde vivem dezenas de tambaquis, e uma piscina com águas azuis. “Tudo aqui era uma piscina, então resolvi reduzir a piscina e criar o ‘Lago do Ontem’ onde flutuam vitórias-régias (de concreto), uma canoa de ribeirinho e uma casa de caboclo, estas de madeira. Lago do Ontem porque representei aqui a casa onde nasci e tive uma infância muito feliz com meus pais e irmãos”, contou.

Nas margens do lago, representações do boto se transformando em homem e da Iara, e até uma cachoeira saindo de entre pedras e mata, além de garças, tucanos, araras, papagaios, sapos. “Começo a pintar as 2h30 da manhã e gosto de ver o dia nascendo”, disse. A genialidade de Cláudio contrasta com sua humildade. “Muito dificilmente vou ao exterior. Gosto daqui. Apesar de muitos artistas e personalidades já terem vindo conhecer meu estúdio e ateliê, gosto mesmo é de receber as pessoas humildes. Deixo que pessoas pobres pesquem no lago e levem o tambaqui”, afirmou. Comprovando o que fala, aos sábados, das 8h às 17h, e aos domingos, das 8h às 12h, Cláudio abre as portas de seu espaço (o ingresso custa R$ 5,) para quem quiser visitá-lo e conhecê-lo. “Eu mesmo e minha esposa fazemos questão de receber os visitantes e todo esse ambiente pode ser fotografado, inclusive podem passear na canoa. Pra mim é uma satisfação compartilhar a minha obra na qual natureza e arte se misturam”, falou.
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