Você sabia que existe um oceano subterrâneo na Amazônia?

O Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA) é uma reserva de água doce capaz de abastecer a região amazônica por 250 anos 

A região amazônica ocupa mais de 60% do território brasileiro e surpreende a todos pelas suas peculiaridades. Entre as curiosidades, podemos citar a árvore dinamite, que joga ‘bombas’ em invasores e o rio subterrâneo que existe abaixo do Amazonas, o rio Hanza, descoberto em 2010.

Por falar em descobertas subterrâneas, você sabia que além do rio Hamza, existe um oceano subterrâneo na Amazônia?

Descoberto em 2013, é uma grande reserva de água doce que existe no subsolo amazônico, com 162 mil km³ de volume de água, chamado de Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA).

O Portal Amazônia conversou com o geólogo Francisco de Assis Matos de Abreu, da Universidade Federal do Pará, que ajudou a descobrir esse oceano.

Anteriormente, esse aquífero já era conhecido como o aquífero Alter do chão, e, durante a tese de doutorado do engenheiro André Montenegro Duarte, decidiram colocar um número para esse aquífero. Além disso, decidiram estender a área da reserva, anteriormente restrita à região de Santarém e entorno. 

Arte: Vivian Seixas

“O chamado aquífero alter do chão é uma denominação que já existe a bastante tempo. Então, durante a tese de doutorado do engenheiro André Montenegro Duarte, nós colocamos um número para essa reserva, estendemos essa reserva, que antes era restrita ali a região de Santarém e seu entorno, para a região amazônica como um todo e passamos a denominar a grande reserva de água, não mais alter do chão, como era a denominação histórica, mas passamos a chamar de Sistema Aquífero Grande Amazônia. Então, o SAGA é uma substituição, é um alargamento da denominação original do aquífero Alter do chão que já é conhecido há bastante tempo na literatura geológica.” afirmou o pesquisador.

Esse oceano subterrâneo é considerado o maior aquífero do Brasil e do mundo, título designado anteriormente ao Aquífero Guarani, localizado no Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, com 40 mil km³ de água. O SAGA, (Sistema Aquífero Grande Amazônia) é quatro vezes maior, com um volume de 162 mil km³ de água. De acordo com os pesquisadores, essa reserva é capaz de abastecer o planeta durante 250 anos.

Localizado no vale amazônico, composto pelas cidades de Manaus, Santarém e Parintins, que são cidades que já utilizam essa água armazenada através de poços que foram construídos e captam essa água. O aquífero se encontra a partir de 120 a 170 metros de profundidade.

 Mas, afinal, o que é o Sistema Aquífero ?

De acordo com o geólogo Francisco de Abreu, o aquífero é uma camada geológica que tem a possibilidade de armazenar e liberar água.

“Vamos usar uma metáfora: você imagina que o sistema aquífero grande amazônia são uma série de camadas geológicas com a forma tabular e que nós podemos dizer que as camadas, elas se comportam como se fosse uma esponja. Então, elas tem os grãos minerais e tem espaços vazios. Então, nesses espaços vazios é exatamente onde está a água. Então, a água é colocada e aprisionada, preenchendo esses vazios dessa grande ‘esponja’. Essas camadas geológicas têm essa característica de poder armazenar e liberar a água” 

explica

Esse sistema aquífero tem um papel importantíssimo, já que essa reserva de água ocupa 84% de toda a água do ciclo hidrológico da Amazônia, enquanto que os rios e lagos representam 8% e os outros 8% da água estão presentes nas atmosfera.

Segundo Francisco, as camadas geológicas que compõem o sistema aquífero grande amazônia, foram depositados por processos geológicos a partir de 70, 80 milhões de anos atrás e se acumulando com o tempo. Com a capacidade de armazenamento de água, as camadas geológicas foram ficando pouco a pouco saturadas, sendo então preenchidas pelas águas. 

“O processo como um todo, ele é longo. Inicia com a formação das “esponjas”, das camadas geológicas e posteriormente o seu preenchimento pela água, principalmente a partir da água da chuva que precipita e que infiltra até chegar nessas regiões. Então, não é uma coisa que aconteceu da noite para o dia. É um processo longo e muito eficiente e importante.”

Comenta o geólogo

Para entender como o armazenamento da água acontece, precisamos entender primeiro, como a água chega na amazônia. A ligação com a floresta e a água é de extrema importância, já que a floresta é responsável por fazer a evapotranspiração da água das chuvas, devolvendo para a atmosfera. Além disso, as águas que vem do oceano atlântico e entram no continente é outro ponto importante.

Francisco explica que para ‘guardar’ esse volume de água que vem para a Amazônia, as árvores coletam a água da chuva e internalizam no continente.

“Quando a água é internalizada, a água que vem do oceano atlântico entra no continente,e quando chove, as árvores evapotranspiram essa água,colocando ela de volta na atmosfera. Essa água faz com que chova de novo, as árvores fazem esse papel e como a terra gira em anti-horário, essas águas vão sendo internalizadas cada vez mais no continente. Elas entram na região de Belém, na região do marajó, com a chuva, as árvores evapotranspira a água e essa umidade é internalizada um pouco mais, até que essa água chega no paredão dos Andes, entretanto, ela não pode ultrapassar, então ela é derramada e sofre uma rotação em função da rotação da terra, sendo transferida para o centro-sul do brasil.” 

afirma o geólogo.

 

Importância do aquífero para a Amazônia


Uma coisa muito importante para dizer sobre as águas subterrâneas da amazônia é que em grande medida, a água subterrânea é quem sustenta o funcionamento do rio por um ano inteiro. De acordo com Francisco de Abreu, existem períodos diferentes de chuvas na região amazônica, no qual um período chove bastante, enquanto que em outro período chove menos, e aquele que praticamente não chove. Apesar dessas diferenças comportamentais, o rio continua correndo, e com isso, quem alimenta o rio é exatamente a água que se infiltra, a água da chuva que se infiltrou no aquífero, que vai liberando lentamente a água para o rio, mantendo o fluxo do rio e a corrente do rio durante o ano inteiro.

Além disso, esse oceano subterrâneo faz parte do processo da circulação do ciclo hidrológico da amazônia, através da formação dos chamados rios voadores, que atuam como um “spray” de umidade na atmosfera, levando aproximadamente 8 quatrilhões de litros por ano, para a região centro-sul do Brasil.

O oceano subterrâneo pode ser utilizado para irrigação e  para agricultura, Segundo Francisco de Abreu. Ela pode ter um impacto econômico positivo, se for utilizada para uma atividade econômica, principalmente no sistema agrícola pecuária, podendo ser usada de forma intensiva, pois o volume é muito grande e a recarga atua de forma de forma eficiente, já que tem uma quantidade de chuvas muito grandes.


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Trata-se de um verdadeiro oceano subterrâneo, com volume total de 162 mil quilômetros cúbicos, e que é chamado pelos cientistas de Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga).

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