Imagem colorida mostra reprodução de possível dinossauro sauropodes. Imagem: Divulgação/Museu de Queensland
Em 2020, trabalhadores que atuavam em uma obra de terraplanagem no município de Davinópolis, no Maranhão, encontraram vestígios do maior dinossauro já encontrado, que mudariam o cenário da paleontologia no estado. Durante a preparação do terreno para a instalação de uma estrutura ferroviária, ossos fossilizados foram localizados e, diante da dimensão e peculiaridade do achado, equipes ambientais entraram em contato com especialistas.
A primeira coleta ficou sob responsabilidade do professor Elver Luiz Mayer, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), que coordenava o Grupo de Estudos em Paleontologia do Instituto de Estudos do Xingu.
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O material foi recolhido com urgência e transferido ao Pará para evitar danos e permitir sua preservação. Estudantes de Ciências Biológicas iniciaram um minucioso trabalho de preparação, que envolveu a remoção de rochas incrustadas, catalogação e restauração de fragmentos. Mais de 250 peças foram recuperadas, muitas em estado fragmentado, o que transformou o processo em uma espécie de quebra-cabeça científico.
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Análises e relevância científica
As análises mostraram que os fósseis pertenciam a um dinossauro gigante do grupo dos saurópodes, conhecidos por seu porte avantajado, pescoço e cauda alongados e cabeça proporcionalmente pequena. Estimativas preliminares indicam que o animal poderia alcançar até 23 metros de comprimento, tornando-se o maior dinossauro já identificado no Maranhão.
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Outro aspecto relevante é a idade do material. As rochas onde os fósseis foram encontrados datam do Cretáceo Inferior, com idade estimada entre 100 e 125 milhões de anos. A maior parte dos fósseis de dinossauro encontrados no Brasil provém do Cretáceo Superior, o que torna a descoberta ainda mais significativa para os estudos sobre a fauna pré-histórica do território nacional.
O processo de análise incluiu medições detalhadas, registros fotográficos, criação de modelos virtuais e comparações com outros espécimes já descritos. A pesquisa contou com a colaboração de especialistas de diferentes instituições, como o professor Manuel Alfredo Medeiros, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e o paleontólogo Julian Cristian Gonçalves da Silva Junior, pós-doutorando da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
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Pesquisas em andamento e perspectivas futuras
Os fósseis do dinossauro de Davinópolis têm se tornado objeto de estudos contínuos, envolvendo técnicas modernas de digitalização em 3D e comparações em bancos de dados internacionais. Esses métodos auxiliam na compreensão do parentesco evolutivo do animal em relação a outros saurópodes encontrados no Brasil e em outros continentes.

De acordo com os pesquisadores, o esforço conjunto entre Unifesspa, UFMA, Unesp e USP tem permitido não apenas aprofundar o conhecimento sobre a espécie, mas também incentivar a formação de novos pesquisadores.
Para eles, o achado é considerado um marco para a paleontologia maranhense e reforça o potencial do estado para novas descobertas. Até então, os principais registros fósseis no Maranhão estavam concentrados em áreas mais ao norte, mas a descoberta em Davinópolis aponta que outras regiões do interior também podem guardar importantes vestígios pré-históricos.
Exposição em São Luís

Com o avanço das pesquisas, parte do material retornou ao Maranhão e foi incorporado ao acervo do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia, localizado na Rua do Giz, no Centro Histórico de São Luís. Está aberta ao público a exposição que apresenta tanto fósseis originais quanto réplicas, além de painéis explicativos sobre o processo de escavação, análise e preservação.
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Segundo a paleontóloga Agostinha Araújo Pereira, responsável pelo setor de paleontologia do centro de pesquisa, a exposição busca aproximar a população maranhense de seu patrimônio científico e destacar a relevância da região nos estudos da pré-história. Para o professor Manuel Medeiros, da UFMA, que também trabalha com o acervo, a mostra tem importância pedagógica, contribuindo para a formação de estudantes e pesquisadores.
A exposição está disponível por tempo indeterminado e pode ser visitada por moradores e turistas. Além de promover o acesso à ciência, a mostra reforça a importância da preservação do patrimônio fossilífero brasileiro e consolida o Maranhão como referência no estudo de dinossauros.
