Veneno ou remédio? Conheça ritual com a rã-kambô

Espécie com toxinas utilizadas para fins medicinais tem chamado a atenção para uso no ambiente urbano, fora dos espaços indígenas 

Se você já utilizou produtos naturais com propriedades terapêuticas ou é um entusiasta da medicina tradicional, provavelmente deve conhecer o veneno da perereca kambô, cuja toxina é extraída causando efeitos alucinógenos e é utilizada por indígenas de etnias como Kaxinawá para fins medicinais. A perereca, de nome científico Phyllomedusa bicolor, tem chamado a atenção para o seu uso indiscriminado fora do contexto cultural.

Mas afinal, quais são as propriedades do veneno da rã-kambô? Ela pode ser utilizada como medicamento alternativo fora das comunidades indígenas? Quais são as consequências? 

Foto: Pedro H. Bernardo/Folhapress

Para discutir os efeitos do uso do veneno extraído, é necessário entender o ritual. Essa espécie de rã pode ser encontrada na Amazônia brasileira, nas Guianas, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e região leste do Equador. 

O ritual é tradicionalmente feito pelos grupos indígenas katukinas, kaxinawás e yawanawás onde é amarrada as quatro extremidades do animal e extraem o veneno coçando suas costas com uma espátula. 

Foto: Divulgação

O veneno seca em um pedaço de bambu antes de ser aplicado. Os indígenas acreditam que o medicamento atua em três frentes: física, mental e espiritual.

Foto: Divulgação

A chamada “vacina do sapo” age no corpo por cerca de 15 minutos provocando alucinações e é utilizada no fortalecimento da imunidade e afastamento do “panema” (má sorte). Apesar das crenças acerca do veneno, não existem estudos sobre o potencial farmacológico e propriedades medicinais da toxina. Cientistas advertem que as propriedades “milagrosas” não foram científicamente comprovadas.

Em 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a propaganda sobre o procedimento. No Brasil, já foi registrada a morte de um homem de 52 anos no município de Pinhamonhangaba (SP) após aplicação da toxina. Porém, o veneno da kambô é citado em vários estudos que apontam seu potencial futuro no combate às superbactérias (bactérias resistentes a antibióticos).

Com o uso indiscriminado da espécie por pessoas fora das comunidades indígenas, e importante a criação de medidas de conservação da espécie para prevenção da biopirataria e da perda gradual do seu habitat, devido ao desmatamento intenso na Amazônia.

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