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Em meio à estiagem severa no Norte do Brasil, pesquisadores conseguiram avançar nas descobertas de fósseis encontrados no Rio Purus. Vértebras do Purussaurus brasiliensis, conhecido como lagarto do Rio Purus, que viveu na Amazônia há mais de 8 milhões de anos, e é definido como o maior crocodilo do mundo, foram encontradas em escavações.
A última descoberta foi durante uma ação de campo, entre os dias 15 e 18 de agosto, no Sítio Cajueiro em Boca do Acre, no Amazonas.
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O Rio Purus entra no Brasil pelo Acre no município de Santa Rosa do Purus, a quase 300 km da capital Rio Branco, onde está o Rio Acre, principal bacia do estado — e que na sexta (21) chegou a menor cota já registrada na história, de 1,25 metro.
O pesquisador Edson Guilherme, paleontólogo da Universidade Federal do Acre (Ufac), comandou a expedição. Ele afirmou que e o período de seca está sendo aproveitado para entrar em campo e tentar encontrar novas pistas e fósseis de animais antigos que podem ajudar a revelar parte da história da região.
“Nós tivemos a oportunidade de encontrar espécies novas para a ciência que ainda vão ser estudadas. Nós vamos ainda preparar o material e oportunamente vamos divulgar sobre esses achados”, afirmou.
Segundo o paleontólogo, para os estudos, a seca foi importante pois como as águas dos rios mais baixas, os barrancos ficaram expostos e ficou mais fácil retirar os ossos que estavam enterrados. “Facilita muito o nosso trabalho”, complementou.
Histórico e processo de descoberta
Desde 2019, pesquisadores têm explorado uma área localizada em Boca do Acre, no Amazonas. O sítio concentra fósseis, em ótimo estado de preservação, dos principais animais da megafauna amazônica do mioceno, período que vai de 23 milhões a 5 milhões de anos atrás.
“Nós recolhemos o crânio de um quelônio [tipo de tartaruga] que ainda é desconhecido e ainda vai ser estudado e também recebemos o pós crânio de um eremotério [preguiça gigante de até 6 metros] que saiu de uma terra indígena na Região do Purus”, conta Guilherme.
O processo de descoberta conta com o trabalho de muitos pesquisadores até que os fósseis estejam prontos para exposição. Um deles é o biólogo Leonardo Aldrin. Em entrevista à Rede Amazônica, ele explicou como é feito o trabalho em laboratório.
“Primeiro a peça é identificada parcialmente no campo. Depois, os pesquisadores que estão na expedição trazem o material com essa identificação. Primeiro, a gente vê essa identificação, justamente para ver qual estrutura está faltando. Começa a colagem, começa a limpar, tirar os sedimentos, areia, argila, seja, o que quer que seja que esteja incrustado na peça” explicou.
“Na sequência, a gente começa colar ela toda e depois a gente tomba o material, que é como se desse uma identificação para ele. E esse número passa a ser a identidade da peça, com todas as informações”, complementou.
Todo esse processo laboratorial é para garantir que a identificação do animal encontrado não seja perdida. Qual o animal, a localidade onde viveu e a época também são catalogadas nesse momento.
A estudante Isabela Pessoa destaca como o trabalho da paleontologia ajuda a compreender melhor a região amazônica. “Através da paleontologia a gente consegue traçar um caminho evolutivo que todas as espécies que vivem atualmente na Amazônia passaram. Esse trabalho no sítio Cajueiro é muito importante, porque é um sítio pouco explorado, que foi recém descoberto e a partir desse estudo e da preparação desses fósseis, a gente vai conseguir, quem sabe até achar uma novidade para a ciência”, disse ela.
Purussaurus
Podendo chegar a mais de 12 metros, o Purussaurus foi o maior crocodilo que viveu no planeta em qualquer tempo. O primeiro fóssil do animal foi achado em 1892 às margens do Rio Purus e chegou até as mãos do botânico João Barbosa Rodrigues, responsável pelo Museu de Botânica da Amazônia na época do império e também o primeiro a classificar o crocodilo.
O que estudos sobre o Purussaurus brasiliense apontam, que ele seria um parente distante do jacaré-açu. Ele ocupava a Amazônia ocidental e foi o maior crocodilo já registrado em todo o mundo.
A mordida do Purussaurus era duas vezes mais forte que a do Tiranossauro Rex, o mais notório dos dinossauros. O jacaré pré-histórico, segundo as pesquisas, precisava comer uma média de 40 quilos de carne diariamente.
Na Ufac também está guardado mais um fóssil que pode ser do animal. O material foi achado em 2019 pelo pequeno pequeno Robson Cavalcante, que tinha 11 anos na época. O fóssil estava enterrado às margens do Rio Acre, no município de Brasileia, no interior do estado.
*Por Lucas Thadeu e Hellen Monteiro, da Rede Amazônica AC