Satélite, cabos de fibra ótica ou rede de rádio? A alternativa mais eficaz e inteligente para levar conectividade digital a populações ribeirinhas e regiões afastadas na Amazônia seria o conjunto de todas essas tecnologias. É o que dizem especialistas que participaram nesta quarta-feira (12) do “I Seminário sobre conectividade digital em áreas remotas da Amazônia”, realizado pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS), na sede do órgão, em Manaus, em conjunto com o Banco Mundial, a Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Seplancti) e a empresa de Processamento de Dados Amazonas S.A (Prodam).
Poder público, empresas e universidade debateram desafios e soluções para internet no interior do Amazonas e compartilharam iniciativas que deram certo. Os resultados preliminares de um estudo de viabilidade técnica, financeira, social e cultural para levar conexão de internet a comunidades ribeirinhas situadas em Unidades de Conservação (UC) do Amazonas foram apresentados pelo consultor, engenheiro e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Ademir Lourenço. “A solução, a curto e médio prazo, passa pelo uso de satélites e, nas comunidades, a utilização de sistemas rádio. O satélite em conjunto com uma rede de rádio seria a solução imediata”, disse.
“O déficit (de conectividade digital na Amazônia) é quase total. É uma região diferente do resto do Brasil, as dificuldades são imensas. No estudo apontamos as tecnologias com base em nove Unidades de Conservação onde a FAS atua e estabelecemos parâmetros do que existe hoje e do que é possível ser feito. Basicamente se aponta que num curto e num médio prazo a solução para essas áreas é uso de satélite em conjunto com redes de rádio. Satélite provém internet e a rede rádio distribui a internet dando conectividade digital para as comunidades”, ressaltou Ademir Lourenço.
A tecnologia por cabos de fibra ótica já implantada em certas regiões do Estado pelo Projeto Amazônia Conectada, dos governos federal e estadual, também é uma alternativa, segundo Ademir Lourenço, de longo prazo. “É uma solução que demanda tempo. O melhor dos mundos seria sim a fibra ótica. O (projeto) Amazônia Conectada é uma solução que já está bem avançada, mas temos problemas. Se fibra quebra, qual o tempo de manutenção disso? Será que o ribeirinho, o pessoal da comunidade, consegue esperar seis meses para consertar uma fibra? É muito difícil”.
Cidades conectadas
O projeto Amazônia Conectada, que desde 2014 instala cabos de fibra ótica para levar conectividade às cidades do interior do Amazonas, deve ser retomado pelo novo Governo do Estado, segundo o diretor da Prodam, João Guilherme de Moares. “O governo entendeu que todo gasto com tecnologia de informação e comunicação não é despesa, e sim um investimento. Estamos empenhados em implantar esse projeto (Amazônia Conectada), só falta definir quem do Exército vai comandar as ações e aí reativar as negociações”, disse. “Temos o gasoduto Coari-Manaus, o Linhão de Tucuruí, a fibra ótica da Oi, a fibra ótica da Embratel, tudo dentro do data center da Prodam. A ideia é montar a rede estadual de telecomunicações interligando todas essas redes num objetivo único de desenvolver o Estado”.
Na região por onde passa o gasoduto Coari-Manaus, o projeto Amazônia Conectada instalou cabos de fibra ótica e levou conectividade às cidades de Manaus, Iranduba, Manacapuru, Caapiranga, Anori, Codajás e Coari. “Só Anamã não foi possível instalar devido a cheia dos rios. É uma cidade que fica toda debaixo d’água durante a enchente.
A fibra chega lá, só não colocamos o equipamento ainda”, explicou Guilherme de Moraes, da Prodam. “Precisamos conectar os outros 53 municípios que faltam. Precisamos do braço forte do Exército para, em conjunto implantarmos, o programa Amazonas Conectada, da Prodam. Custaria menos que a construção da Arena da Amazônia e menos que a construção da Ponte Rio Negro”, disse.
Desafios geográficos
Os desafios geográficos também são entraves para conseguir levar conectividade digital às regiões mais remotas da Amazônia, segundo disse o comandante do 4º Centro de Telemática de Área do Exército Brasileiro, coronel Júlio Cesar Brasil, palestrante no seminário. Para ele, é necessário investir em infraestrutura e recursos humanos. “A Amazônia é desafiadora pela própria geografia dela. É uma área que impõe uma série de fatores, mas, em compensação nos motiva porque não temos em nenhum lugar do mundo um lugar como aqui. A infraestrutura das telecomunicações ainda precisam de um aporte maior de recursos, seja humano seja material, e o que nós, do Exército, pudermos fazer para somar. É nossa missão”.
A infraestrutura da região também foi ressaltada pelo gerente de Universalização e Ampliação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Eduardo Jacomassi, durante participação do evento. “Muitos municípios onde a fibra ótica ainda não chegou sofrem para garantir uma internet de qualidade, o serviço móvel tem cobertura muito baixa e, às vezes, a população entende como uma falha de qualidade, mas por vezes é por causa da quantidade de torres na infraestrutura é que abaixa”, disse.
Novas infraestruturas de tecnologia 4G devem ser instaladas, ao longo dos próximos anos, em localidades mais remotas do Amazonas fora da zona urbana dos municípios do interior, conforme informou Eduardo Jacomassi, da Anatel. “São localidades menores que precisam mais. Temos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, o Fust, que vem sendo arrecadado, mas não vem sendo utilizado. Precisamos liberar os recursos e fazer investimento necessário em infraestrutura, ampliar os cabos de fibra ótica que interligam os municípios e também ampliar a cobertura móvel 3G e 4G para que, a partir do básico, que é infraestrutura, as pessoas possam desenvolver negócios, melhorar educação e saúde. Sem infraestrutura não dá para começar nada. E isso é em médio a longo prazo”.
Próximos passos
Com atuação em comunidades ribeirinhas situadas dentro de Unidades de Conservação (UC) do Amazonas, em cooperação estratégica com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), a FAS pretende utilizar os resultados do estudo de viabilidade técnica de conectividade digital para subsidiar estratégias de ação para melhorar a internet nessas regiões. É o que confirma o superintendente-geral do órgão, Virgílio Viana.
“Temos um desafio enorme de fazer com que nas 581 comunidades onde a FAS atua as pessoas possam ter acesso à internet, tanto para investir no turismo de base comunitária quanto para uma emergência de saúde, melhorar a educação, etc. O objetivo é que a gente possa identificar as opções mais atraentes nas diferentes circunstâncias e aplicar diferentes soluções para cada uma”, disse.
A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) é uma organização brasileira não governamental, sem fins lucrativos, que promove o desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populações que vivem em Unidades de Conservação (UC) no Amazonas, em cooperação estratégica com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).