Ocupações indígenas na comunidade Boa Esperança
Localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, a comunidade Boa Esperança é a maior e mais populosa da reserva com cerca de 300 habitantes. Desde 2012, pesquisadores realizam escavações e coletas de materiais arqueológicos na área. O material já identificou quatro ocupações indígenas classificadas pela análise de vestígios de cerâmica, que demonstram diferentes modos de produção.
A pesquisa utiliza sementes arqueológicas como instrumento capazes de fornecer dados sobre os modos de vida das populações que viviam na área por volta do ano 1000 d.C.
A data foi escolhida por se tratar do período onde os dados arqueológicos demonstram ter ocorrido uma transformação na organização social, política e econômica que resultaram na adoção de economia mais dependente de práticas agrícolas, além da intensificação das técnicas de manejo de recursos.
Da Amazônia Antiga aos ribeirinhos de hoje: ‘gostos’ e sistemas agroflorestais semelhantes
Foram identificados registros arqueológicos de cacau (Theobroma cacao), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), piquiá (Caryocar sp.), açaí (Euterpe sp.), bacaba (Oenocarpus sp.) e tucumã (Atrocaryum aculleatum), espécies amplamente cultivadas e consumidas na comunidade.
Para a pesquisa, foram analisadas sementes carbonizadas que, para auxílio na identificação das espécies, foram comparadas ao material que compõe a coleção de referência de vegetais carbonizados do Instituto Mamirauá e da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).
De acordo com o estudo, os resultados apontam a continuidade do uso da terra baseado em sistemas agroflorestais. Mesmo quando as populações da Amazônia Antiga passaram a cultivar plantas domesticadas, fizeram-no em convergência com as atividades de caça, pesca e coleta.
“As populações não passam a depender apenas do cultivo agrícola. Ou seja, continuam usufruindo do que a floresta proporciona em épocas diferentes e se relacionando com o espaço de diferentes formas, numa interação mútua com a paisagem, que vai além das questões de subsistência, mas também abarca a visão de mundo destas populações”, explica a pesquisadora Emanuella Oliveira.
Atualmente, os ribeirinhos têm práticas de manejo semelhantes. Isso, definem os autores, “demonstra que a paisagem permanece sendo modelada pelas populações que habitam o local”.
A pesquisa será apresentada no 16º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon), que começou nessa terça-feira (2) e vai até o dia 5 na sede do Instituto Mamirauá, em Tefé, no estado do Amazonas.