Projeto de manejo de pirarucu na Amazônia ganha prêmio de Empreendedorismo, nos Estados Unidos

A implementação do manejo de pirarucu (Arapaima gigas) na Amazônia resultou em projeto premiado pelo Prêmio Rolex de Empreendedorismo de 2019, nos Estados Unidos. O Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), foi instituição pioneira ao implementar acordos de pesca que possibilitaram a recuperação populacional da espécie na região do Médio Solimões, na Amazônia Central. 

 

O projeto é de autoria do biólogo João Campos Silva, cuja pesquisa mostrou os resultados na conservação da biodiversidade e qualidade de vida das populações ribeirinhas em áreas de manejo.

Foto: Divulgação/Rolex 

Os premiados deverão receber quantia em dinheiro para continuidade dos trabalhos. Os outros quatro empreendedores são da França, Índia, Uganda e do Canadá.

 

Manejo do pirarucu: ferramenta de conservação da biodiversidade

 

Foi durante os estudos de mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (Inpa), onde o pesquisador trabalhou em um programa de monitoramento da biodiversidade, que o pesquisador teve contato com a temática do desenvolvimento sustentável.

 

“Percebi então que não é possível pensar a conservação de forma isolada do componente humano e, nessa época, conheci o manejo do pirarucu na região do Médio Solimões protagonizado pelo Instituto Mamirauá e comunidades locais e me chamou muita atenção a possibilidade de unir a proteção da biodiversidade alinhada à melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas”, conta.

 

Motivado por essa ideia, sua pesquisa de doutorado buscou avaliar os benefícios sociais, ecológicos e econômicos do manejo comunitário, com foco no pirarucu, que acabou sendo um dos principais temas de sua tese. Os resultados, explica o biólogo, mostram que o manejo do pirarucu é um exemplo de sucesso da pesca sustentável.

 

O plano funciona com períodos de defeso da espécie – de 1º de dezembro a 31 de maio, época de cheia da várzea amazônica. De 1999 a 2018, a população do pirarucu saltou de 2.507 a 190.523 espécimes na área abarcada pelo manejo na região do Médio Solimões. Os dados são do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá.

 

O estudo mostrou também que outras espécies são beneficiadas com a proteção das áreas: é o caso de quelônios, jacarés e diversos peixes.

Foto: Bernardo Oliveira/Instituto Mamirauá 

“Esses expressivos resultados ecológicos já seriam suficientes para consagrar o manejo comunitário como uma grande ferramenta de conservação”, avalia o pesquisador. 

 

Mas não é só isso. O manejo proporciona melhorias significativas na qualidade de vida das populações ribeirinhas que vivem na região. A renda, além de beneficiar os manejadores, pode ser utilizada coletivamente em reformas de áreas comuns das comunidades.

 

O protagonismo feminino na pesca é outro fator destacável. “Vimos também que cada vez mais as mulheres estão recebendo renda da pesca, coisa que não era comum”, afirma.

 

“Ninguém pensará no verde se sua vida estiver mergulhada no vermelho. ”

 

A pesquisa conclui que o manejo de pirarucu mostra que as comunidades locais desempenham um papel fundamental na manutenção das florestas e do bioma amazônico. O uso sustentável dos recursos, defende o pesquisador, é a melhor forma de garantir a conservação de todas as espécies. Inclusive da humana.

 

É como uma ‘via de mão dupla’. “Ninguém pensará no verde se sua vida estiver mergulhada no vermelho. Ao proteger o pirarucu, a segurança alimentar das comunidades é garantida, assim como a renda e o amplo leque de benefícios sociais. Tudo isso combinado faz com que as comunidades rurais se comprometam ao proteger os ambientes aquáticos, o que garante também a recuperação do pirarucu”, diz.

 

O objetivo final do projeto premiado é a elaboração de um modelo de conservação e desenvolvimento local para além das unidades de conservação por onde passa o rio Juruá, as reservas extrativistas Baixo Rio Juruá e Alto Rio Juruá.

 

“É um rio bastante assimétrico. As comunidades que estão nas reservas possuem uma qualidade de vida mais alta do que as que estão do lado de fora. A ideia é levar a perspectiva da conservação para além dos limites das áreas protegidas para promover uma transformação social que possibilite a melhoria da qualidade de vida das comunidades desassistidas que se encontram fora das reservas”, diz.

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