Pororoca: o fenômeno que cria ondas dignas das Olimpíadas

Ondas com altura de até 6 metros são surfadas na região Amazônica

O fenômeno natural chamado  de Pororoca,  acontece na foz do rio Amazonas nos estados do Pará, Amapá e Maranhão. Ele ocorre ao entrar em contato com a maré do oceano Atlântico, ocasionando ondas de 3 a 6 metros de altura em extensão pelo rio de aproximadamente 20 km. A pororoca provoca um som bastante alto e característico, o que explica a origem da palavra: do tupi “poro’roka,poro’rog”, significa “estrondar”. 

As ondas acontecem apenas uma vez ao dia, nos meses de janeiro a maio, no período de lua cheia ou lua nova.

Por conta disso, a pororoca é muito procurada por surfistas que se aventuram nas ondas dentro da região amazônica. No Amapá, o rio Araguari era considerada a maior pororoca do mundo, porém o fenômeno entrou em extinção na região no ano de 2015, em decorrência da construção de 3 hidrelétricas, a abertura de canais e a degradação causada pelo pisoteio de búfalos na região.

A pororoca que ocorria no rio Araguari chegou a ser transformado em cenário para o filme Surf Adventures 2 e chegou a receber visitas de grandes nomes do surf mundial, como o australiano Ross Clarke-Jones e o californiano Gary Linden. Além disso, campeonatos de surf eram realizados como o Campeonato Brasileiro de Surf na Pororoca realizado no Amapá. 

Foto: Divulgação

 O portal amazônia entrevistou o recordista do Guinness Book, Serginho Laus, batendo a marca de 11,8 km surfando a onda por 36 minutos no ano de 2009.  Serginho já havia batido um recorde em 2005, surfando 10,1 km na mesma onda sem parar durante 33m15s. De 1996 a 2005, o recorde pertencia ao inglês David Lawson, que surfou 9,1 km do rio Severn, na Inglaterra.

Segundo Serginho Laus, o sentimento de surfar na pororoca é indescritível a forma como a conexão entre surfista e natureza é feita, e como a mudança no ecossistema onde se pratica o esporte, influencia na descoberta de fenômenos novos.

“A gente sai do padrão de estar surfando na praia, onde a gente tem água clara, areia, coqueiros e vai para o meio da floresta amazônica. Então, a gente muda o ecossistema onde praticamos nosso esporte, e acaba encontrando um fenômeno que é totalmente único. Formando uma onda apenas, a pororoca é somente uma onda por dia, que é a maré que vem transbordando, fazendo com que a gente tenha as ondas mais longas do mundo, então encarar essas ondas são sensações indescritíveis, de muita adrenalina, de muita emoção, onde a gente pode estar em contato com a natureza, é algo muito grandioso. Uma experiência de vida que vou carregar pelo resto da minha história.”

Além da conexão com a região amazônica, Laus afirma que praticar o surf na pororoca requer muita responsabilidade e respeito com a natureza. Em sua primeira vez surfando a pororoca, no rio Araguari em 2000, foi algo apaixonante, uma aventura que ele não sabia o que enfrentaria.

“Fomos a segunda equipe a desbravar o rio Araguari e também uma das primeiras a ir na região das ilhas caviana, mexiana, na foz do rio Amazonas. Então, foi uma aventura e tanto. Passamos por muito perrengue, mas encontramos condições extremamente perfeitas, uma onda super longa e que fez com que eu me apaixonasse. Todo mundo fala que quando você toma água do rio Amazonas, você volta, e eu acho que aconteceu isso. E eu acho que esse bichinho me pegou, com todo o folclore, todas as lendas, encantando com a magia da selva, isso daí fez com que eu me apaixonasse pela pororoca, e fez com que eu conquistasse os recordes.” comenta.

Foto: Reprodução / Julio Bazanella.

 Com sua principal motivação, o surfista ressalta a convivência e experiência que sente ao ir em busca da pororoca, onde ele pôde encontrar a onda mais perfeita já surfada por ele.

“É de estar num ambiente muito selvagem, 100% natural, estar com pessoas incríveis, com ribeirinhos que nos ensinam tanto, de como viver simples a vida, como respeitar a natureza e sobreviver na natureza. Além disso, encontrei uma onda perfeita, que todo surfista procura e eu acabei encontrando essa onda no meio da Amazônia, nos rios do estado do Amapá, do Pará e do Maranhão, que é onde acontecem o fenômeno. Então a minha motivação é de poder estar tendo toda essa experiência e todo esses sentimentos de uma única vez. Ali na pororoca, consigo testar todos os dias, todos os tipos de prancha. Consigo fazer um treino muito superior do que no mar, porque fico muito mais tempo em cima da prancha, então, isso me motiva bastante para poder fazer isso, uma aventura praticamente sem fim.”

Foto: Divulgação

Com a extinção da pororoca no rio Araguari devido ao secamento da foz, o fenômeno da pororoca ainda pode ser encontrado nos estados do Pará, no município de São Domingos do Capim, considerada a capital nacional da onda, e no estado do Maranhão, no município de Arari, banhado pelo rio Mearim.

“O sentimento é de tristeza, de desespero, por ter perdido a melhor pororoca do mundo. As pessoas não deram a devida importância, elas foram alertadas com bastante antecedência, pois a criação desordenada dos búfalos na foz do rio Araguari, causaram essa catástrofe, além das usinas hidrelétricas que contribuíram para a perda de força da vazão de água do rio. Então há uma união de fatores para que isso possa ter acontecido. Lógico que a natureza é inconstante, ela se modifica, ainda mais com uma força tão grande como um fenômeno desse. Mas se a natureza tivesse no seu ciclo natural, a gente ainda teria o rio Araguari funcionando perfeitamente durante muitos e muitos anos e isso influencia não somente para o esporte, como para o turismo, para economia sustentável regional, os ribeirinhos que vivem naquela região; para os parques ambientais que estão ali, como a reserva do lago do piratuba, que é uma reserva biológica. Então, a perda da pororoca do rio Araguari, foi uma catástrofe ambiental sem precedentes e a gente perdeu um fenômeno grandioso ali. Mas ele continua acontecendo em outros locais. Lembrando que onde há natureza, não existe miséria. Então a gente tem que preservar, a gente tem que ter a consciência de preservação, não somente do meio ambiente, mas da nossas espécies, que estão diretamente ligadas à sobrevivência do ecossistema e aprender que a gente possa ter empatia, mais amor ao próximo, são ensinamentos que aprendi muito convivendo com os ribeirinhos, e com essa natureza tão rica, tão forte que tem uma energia muito grande.” Afirma Serginho Laus.

Para saber mais sobre a Pororoca, o Portal Amazônia  traz um vídeo feito pelo Amazonsat sobre o fenômeno natural. Confira:

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