No Brasil, mais precisamente na Região Amazônica, uma pesquisa recente, realizada no Campus da UFPA em Altamira, detectou a presença de microplástico em peixes da região, alguns bastante consumidos pela população. A pesquisadora Tamyris Pegado Silva trabalhou na dissertação Primeira evidência de ingestão de microplásticos por peixes do estuário do rio Amazonas, defendida no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação, com orientação do professor Tommaso Giarrizzo.
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Foram encontradas 228 partículas de microplástico em 26 dos 189 peixes analisados. As 46 espécies analisadas foram capturadas no estuário do rio Amazonas (Costa Norte do Brasil), algumas, inclusive, com importância econômica e de consumo humano, como Caranx hippos (Xaréu), Lutjanus synagris (Ariacó), Cynoscion microlepdotus (Corvina) e Macrodon ancylodon (Pescada gó).
Foram encontradas quatro categorias de microplástico, entre 0.38 mm e 4.16 mm: pellet amarelado (esferas cilíndricas ou discoidais consideradas matéria-prima para a produção de diversos tipos de materiais plásticos), filamento azul, fragmento amarelo e tecido transparente. Todos os indivíduos da espécie Xaréu analisados apresentaram microplástico no trato gastrointestinal. Essa espécie contribuiu com 40.3% do total de microplástico encontrado nos peixes. No estômago de um único Xaréu, foram encontradas 50 partículas.
Os peixes foram capturados por meio do arrasto industrial do camarão rosa (Farfantepenaeus subtilis). O arrasto é uma arte de pesca que não captura apenas a espécie-alvo, pois, na rede, são capturados outros grupos de organismos, inclusive peixes, chamados de fauna acompanhante ou bycatch. Os peixes foram disponibilizados para o estudo por meio da parceria entre o Centro de Pesquisa e Manejo de Recursos Pesqueiros do Litoral Norte do Brasil (CEPNOR) e o Grupo de Ecologia Aquática (GEA), da UFPA.
Poluentes podem causar problemas reprodutivos e congênitos
A pesquisadora Tamyris Pegado Silva explica que a ingestão de microplástico pode afetar física e fisiologicamente os peixes. “O atrito entre as partículas ingeridas e o tecido do trato gastrointestinal, por exemplo, pode causar lesões internas. Além disso, os microplásticos podem causar respostas imunotoxicológicas, alteração das vilosidades intestinais, estresse hepático etc. Outro problema é a adesão de alguns poluentes na superfície dos materiais plásticos, como Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) e metais pesados. Sendo assim, os plásticos se tornam via de exposição a esses poluentes e, uma vez ingeridos, podem causar problemas endócrinos, reprodutivos, congênitos etc.”, explica a autora da dissertação.
Os microplásticos podem ser divididos em primários e secundários. Os primários têm tamanho inferior a 5 mm e são utilizados para dar origem a diversos objetos plásticos. Já os secundários são gerados pela degradação/quebra de objetos maiores. Para a pesquisadora, a intensa produção de plástico, o uso habitual de descartáveis e a precária coleta seletiva de lixo ocasionam o descarte indevido ou acidental. “Esse material não é biodegradável. O que ocorre é a quebra dos objetos maiores, aumentando a quantidade de microplástico acumulada, principalmente, no ambiente aquático”, informa.
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A pesquisa mostra que a poluição por plástico já chegou ao rio Amazonas, ambiente particular por apresentar ecossistemas como mangues, ilhas, planícies de marés, além de ser uma zona altamente produtiva que sustenta pescarias artesanais e industriais.
Questionada sobre o risco de consumir peixes contaminados por microplástico, a pesquisadora observa que, apesar das incertezas científicas, “nosso corpo pode responder aos poluentes presentes na superfície desse material, causando problemas de saúde”. Tamyris Pegado alerta que a sociedade precisa iniciar um uso consciente dos materiais plásticos, evitando, assim, catástrofes futuras.