Podcast “O Rio que mudou de cor” ganha espaço em rádios comunitárias na Amazônia

A comunicação popular é um dos principais instrumentos de luta e resistência do território e dos povos amazônicos

Devido a necessidade de levar informação ao maior número de pessoas possível sobre os problemas que o garimpo tem causado na região do Tapajós, o WWF-Brasil articulou com lideranças locais para enviar os podcast Um rio que mudou de cor para cinco rádios comunitárias da região do Tapajós, para que possam ter acesso a informações que dificilmente chegaria por meio dos veículos de massa até os territórios. Aproximadamente mil pessoas ouviram os programas nas rádios comunitárias. Essa é uma forma de democratizar o acesso à informação que dificilmente essas pessoas teriam somente a partir das mídias digitais.

O podcast faz parte da Campanha Chagas do Garimpo, uma realização do WWF-Brasil junto a outros coletivos como a Plataforma Cipó, Instituto Kabu e o Iepé -Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, foi criada para engajar novas audiências contra o garimpo ilegal em Terras Indígenas e incidir no debate público.

Rádio Comunitária Uxicara – Vila Brasil
© Márllon Ribeiro

O podcast Um rio que mudou de cor, é uma produção da Trovão Mídia para o WWF-Brasil, que conta com a narração de Priscila Tapajoara. Ao longo de oito episódios, indígenas como a Maria Leusa Kaba Munduruku e Maial Payakan, e também procuradores, garimpeiros, ambientalistas e pesquisadores contam sobre como o garimpo ilegal se construiu ao longo do tempo na Amazônia, principalmente na Bacia do Tapajós, culminando na alteração da cor do rio.

Os podcasts foram exibidos até em festividades religiosas, como a Festa de Santo Antônio de Pádua, padroeiro do distrito de Boim, na Resex Tapajós Arapiuns, para que mais pessoas pudessem ter acesso aos conteúdo dos podcasts, bem como já estão na expectativa para que nas próximas oportunidades mais informações sejam enviadas para os territórios e também para compartilhar pelo whatsapp. “É uma grande importância para a gente porque vai nos ajudar muito para o povo tomar consciência”, diz Marlon Ribeiro, da comunidade Vila Brasil, uma das regiões que recebeu o conteúdo.

Ariane Lobato, moradora do distrito de Boim, localizado na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns (Resex Tapajós Arapiuns), margem direita do rio Tapajós, falou sobre os podcasts que escutou na programação de uma dessas rádios: “Adorei os podcasts, achei interessante e bem produzido, a gente curtiu demais por aqui, acho que tem que mandar mais conteúdo sobre o tema que é bastante interessante”, comenta.

Rádio é onda

A comunicação por rádio continua em alta, principalmente na Amazônia, onde o acesso à informação, por meio das mídias digitais, ainda não é possível em algumas partes do bioma, sendo o rádio o único veículo de comunicação eficaz nesses territórios. Por isso, falar em democratização da Comunicação na Amazônia é falar em fortalecer as rádios, principalmente as comunitárias, que nascem da necessidade de informar o que as mídias de massa locais não contam. Sem contar que esse formato dialoga com um aspecto muito importante da cultura de comunidades tradicionais amazônicas, que é a oralidade.

É através do rádio que pode ser conversado, principalmente com as populações tradicionais, sobre desenvolvimento regional, cultura, levar informação sobre saúde e qualidade de vida e qualquer outro tema. Levando em consideração que em alguns locais nem energia elétrica tem, o que inviabiliza de todas as formas o uso de TV e celular, o rádio à pilha é a ferramenta mais importante que se tem em mãos para comunicar com o público.

Para Isabelle Maciel, jornalista, que atua como comunicadora popular de um coletivo de comunicação independente na região do oeste do Pará, “o rádio, que é o primeiro veículo de comunicação, e em um primeiro momento não foi tão acessível para o povo, a partir de um certo momento na história ele passou a ser um veículo bem acessível, qualquer pessoa poderia comprar um programa de rádio, poder ouvir a programação. Isabelle considera que o rádio, na Amazônia é o principal veículo de comunicação, “é raro você não encontrar um rádio nas casas que você visita, seja na cidade e principalmente no interior, por isso, o rádio é um veículo de comunicação democrático porque ele é de fácil acesso para todas as pessoas”.

Dessa maneira as pessoas que vivem em locais mais distantes dos centros urbanos podem ter acesso a informação, seja ela sobre o que está acontecendo no mundo, ou até mesmo para mandar um recado de alguém do interior para a cidade. “O Norte tem uma relação intrínseca com o rádio, principalmente as rádios comunitárias, elas são muito importantes, pois a programação é feita por pessoas que moram naquela comunidade, a rádio comunitária tem esse papel de prestar um serviço, ser um instrumento para a comunidade. Enquanto as rádios FM da cidade cobram para usar um espaço da programação para anunciar alguma coisa, a rádio comunitária está a serviço dos comunitários e a programação dela pode ser levada pelos próprios comunitários”, pontua a jornalista.

A comunicação popular, que é a comunicação que vem do povo é uma ferramenta de luta para defender os territórios, são muitas ameaças e invasões que acontecem diariamente na Amazônia, a juventude está alerta sobre o que vem acontecendo, e estão utilizando as tecnologias, principalmente redes sociais para, além de denunciar os perigos que rodeiam os territórios, mostrar também as produções culturais locais, e a produção econômica.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade