Plantas utilizadas no chá de ayahuasca são estudadas por pesquisadores

O chá conhecido pelas propriedades alucinógenas faz parte de rituais religiosos e indígenas para cura do corpo, mente e espírito. 

Conhecido como ayahuasca ou santo daime, o chá utilizado por religiosos e indígenas na Amazônia para cura do corpo, mente e espírito. O ritual ficou muito conhecido no último ano e atrai turistas de várias partes do mundo que desejam experimentar. De acordo com o site Ayahuasca Portal, estudiosos dizem que a bebida chegou aos indígenas através dos incas, que já a utilizavam há mais de 5 mil anos. Na linguagem Quíchua, aya significa espírito ou alma, e huasca significa chá ou vinho.

Entre os cientistas, padronizou-se o uso do termo ayahuasca, que é uma palavra em língua quíchua, usada pelos grupos do Peru, que significa “cipó dos mortos”.

A bebida é feita a partir de duas plantas que podem ser encontradas na floresta amazônica: o cipó mariri ou popularmente conhecido como jagube (Banisteriopsis caapi) e folhas de chacrona(Psychotria viridis), que causam efeito psicoativos. As plantas são maceradas e submetidas a um cozimento longo, resultando na preparação da bebida. 

Foto: Reprodução / IStock

Com isso, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) estão realizando estudos das plantas usadas na bebida com o objetivo de documentar e realizar o sequenciamento genético das plantas para entender melhor o motivo de ocasionar a alteração da consciência.

O primeiro artigo do trabalho realizado pelos pesquisadores Alessandro Varani, Saura Silva, Simone Lopes, Jose Figueiredo Barbosa, Danilo Oliveira, Maria Alice Corrêa, Ana Paula Moraes, Vitor Miranda e Francisco Prosdocimi foi publicado em outubro de 2022, intitulado ‘The complete organellar genomes of the entheogenic plant Psychotria viridis (Rubiaceae), a main component of the ayahuasca brew‘, na revista PeerJ, onde o grupo analisou os genomas organelares da chacrona.

Liderado por Francisco Prosdocimi, que é responsável pelo Laboratório de Genômica, Bioinformática e Biodiversidade da UFRJ, a vontade de estudar as plantas surgiu a partir de uma experiência vivida pelo próprio pesquisador em 2016, durante um ritual que participou na região de Machu Picchu, em Pisac, localizado no Peru. 

Prosdocimi diz que um dos objetivos da análise do sequenciamento é encontrar as vias bioquímicas que produzem o dimetiltriptamina (DMT), a substância psicoativa presente na chacrona. “Queremos entender quais são as enzimas dessa planta que efetivamente produzem o DMT”, diz. Atualmente, existe um campo emergente que estuda o uso de psicotrópicos em tratamentos de doenças mentais e o chá ayahuasca também tem sido objeto de investigação. “Entender quais genes estão funcionalmente associados à produção de DMT pode trazer contribuições para essa abordagem”, diz.

Cipó usado na produção da ayahuasca. Foto: Reprodução / Fapesp

O pesquisador da UFRJ conta com um grupo multidisciplinar que inclui neurocientistas, geneticistas, biólogos moleculares, botânicos e especialistas no sequenciamento genético. O trabalho compreende, em um primeiro momento, a interpretação e tratamento dos dados brutos do sequenciamento e, em um segundo momento, a análise e separação dos genes de interesse.

As amostras da chacrona e do cipó-mariri sequenciadas no estudo foram coletadas em um núcleo da União do Vegetal, uma das religiões brasileiras que usa o chá e que é parceira no projeto, que fica na floresta da Cantareira, na zona norte da cidade de São Paulo. O sequenciamento foi realizado em equipamentos de última geração localizados na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

Os cientistas já sabem que as alterações na consciência do chá da ayahuasca são causadas pela ação bioquímica de duas substâncias principais: a dimetiltriptamina (DMT), encontrada nas folhas da chacrona, e alcaloides presentes no cipó mariri, que prolongam e potencializam o efeito da DMT. O objetivo do projeto é, pela primeira vez, obter um sequenciamento detalhado do genoma de ambas as espécies, o que, além de aumentar o conhecimento sobre suas propriedades, também pode abrir possibilidades para a produção de conhecimento aplicado a partir da flora brasileira. Uma vez estabelecido o perfil desse genoma, o grupo de pesquisadores quer identificar quais os genes da Psychotria viridis associados à produção de enzimas responsáveis pelas substâncias psicoativas que ocasionam o fenômeno de alteração de consciência em quem bebe o chá

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