Pesquisadores da UFPA indicam que o açaí pode proteger a retina de diabéticos

A Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que a retinopatia diabética é a terceira principal causa da perda total da visão no Brasil.

 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 11 pessoas tem diabetes no mundo. O diabetes é uma doença metabólica, ou seja, os portadores não conseguem “quebrar” moléculas de glicose de forma correta ou na velocidade satisfatória. O acúmulo de glicose no sangue pode trazer diversas consequências negativas para o indivíduo.

A retinopatia diabética é causada por danos aos vasos sanguíneos no tecido da retina, o que pode resultar em perda de nitidez da visão, em dificuldade de distinguir cores e até mesmo em cegueira. A OMS afirma que a retinopatia diabética é a terceira principal causa da perda total da visão no Brasil.

Foto:Divulgação

O Projeto de Pesquisa Utilização de produtos naturais da Amazônia na prevenção de disfunções visuais: investigação do efeito antioxidante do açaí (Euterpe oleracea) durante o desenvolvimento de retinopatia diabética em modelos animais acometidos por diabetes induzida teve início em 2014. “O diabetes provoca estresse oxidativo, e isso causa lesões nos neurônios da retina. Então nosso objetivo foi saber se o açaí, com o seu efeito anti-inflamatório e antioxidante, também poderia proteger a retina no quadro do diabetes”, afirma o neurocientista Fernando Allan de Farias Rocha, coordenador do projeto.

O estudo é realizado no Laboratório de Neurofisiologia Eduardo Oswaldo Cruz, do ICB, em parceria com os Programas de Pós-Graduação em Neurociências e Comportamento (PPGNC/NTPC) e em Neurociência e Biologia Celular (PPNBC/ICB). Os animais escolhidos para a pesquisa foram ratos Wistar, pois são considerados ótimos modelos experimentais. Todo o processo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da UFPA.

“Primeiro, foi necessário induzir um quadro diabético em alguns animais. Em seguida, dividimos a população em três grupos: os ratos saudáveis, ou ‘controle’; os ratos com diabetes, que receberam apenas ração padrão; e os que receberam a ração padrão misturada com o açaí”, explica o professor.

Para medir o funcionamento da visão dos animais, foi usado um eletrorretinograma. Nesse procedimento, os animais são sedados e os eletrodos são posicionados na região do globo ocular. Estímulos são realizados na forma de feixes de luz liberados por uma fonte luminosa. Ao receberem a iluminação, há uma reação natural da retina, a qual gera uma corrente elétrica que pode ser lida pelo aparelho. “Assim foi possível conferir se o padrão de resposta gerado pelo indivíduo ‘controle’ se assemelha ao padrão gerado pelo indivíduo com diabetes alimentado com açaí”, explica Fernando Rocha.

Foto:Alexandre de Moraes/UFPA

Estudo será ampliado antes de teste em humanos

A retina é uma membrana ocular que possui milhões de células fotorreceptoras. Sua função é transformar as ondas luminosas em impulso neural. Por meio das variações elétricas geradas pela membrana neural foi possível medir a amplitude dessas ondas em cada indivíduo estudado. “Em um paciente com diabetes, ocorre uma diminuição da amplitude da onda. Nós observamos que a amplitude de indivíduos com diabetes alimentados com açaí foi similar à do animal ‘controle’, ou seja, fisiologicamente a resposta foi semelhante. Já nos animais doentes, que não receberam alimentação com açaí, a resposta foi significativamente menor”, revela Fernando Rocha.

Em uma pessoa com diabetes, a quantidade maior de radicais livres pode oxidar e danificar células sadias do organismo. “Os resultados mostram que o açaí agiu como neuroprotetor na retina do animal tratado, por causa da sua propriedade antioxidante”, revela Fernando. “Houve, no entanto, um aumento no nível de glicemia dos indivíduos, por isso pretendemos aprofundar a pesquisa”, afirma o neurocientista.

Fernando Rocha conta que o estudo deve realizar mais testes das funções morfológicas e fisiológicas dos animais no futuro, além de analisar como a dieta afeta o comportamento dos roedores. “Há algumas questões que devem ser estudadas com cuidado antes de realizar qualquer tipo de teste em humanos. Acreditamos que essa pesquisa é um dos primeiros passos para encontrar um elemento natural que possa proteger a retina frente às injúrias do diabetes, o que pode ajudar diversas pessoas”, conclui Fernando Allan de Farias Rocha.

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