“No entanto, o acesso a esses benefícios, como a aposentadoria, por exemplo, ainda é limitado. Além disso, a maior parcela dos pescadores dessa região são pessoas com baixo nível de escolaridade, fator que impossibilita muitas das vezes o ingresso em atividades com melhores remunerações”,
aponta.
O estudo aplicou questionários com pescadores residentes na zona urbana e rural da cidade de Barcelos, localizado no médio Rio Negro (AM). As entrevistas tiveram a participação de 97 pescadores. Dos respondentes, 71,14% tinham de 18 a 82 anos, com uma média de idade de 48 anos. A baixa escolaridade, com maioria possuindo apenas o ensino primário incompleto ou a total inexistência de vivência na educação formal e um perfil de trabalho familiar, de aprendizado da função de pai para filho, foram os principais achados da pesquisa.
Segundo Oliveira, ao contrário dos pescadores da zona urbana, a pesca em comunidades é realizada de forma artesanal, com emprego de linha e anzol ou zagaia, por meio de canoas em lagos. Além disso, em áreas rurais, pescadores em determinadas épocas praticam agricultura familiar e a extração de produtos da floresta. No entanto, existe também uma íntima relação com a floresta.
A pesquisa também aponta agravantes para as dificuldades enfrentadas pelos pescadores artesanais, como as mudanças sazonais nos níveis dos rios, com alternância de regimes de secas e inundações, sendo que nesta há grande dispersão dos peixes pelos igapós. Outros fatores citados são a competição pelos recursos pesqueiros com barcos grandes e equipados com geladeiras e a baixa comercialização do pescado pela falta de compradores.
Oliveira lembra que os pescadores são os principais usuários dos recursos pesqueiros locais, e seu amplo conhecimento sobre as espécies de peixes e os ecossistemas devem ser considerados na formulação de políticas públicas para a região. “Especialmente nas comunidades rurais, estabelece-se uma territorialidade de áreas e locais de pesca. Assim, proibindo a pesca excessiva ou até mesmo o uso de apetrechos (rede de pesca maiores), acreditamos que eles podem participar das políticas públicas e da construção dos planos de manejo por meio da gestão compartilhada, como tem ocorrido em outras regiões da Amazônia”, afirma o pesquisador.