Peixe-frito-pavonino. Foto: Rudimar Narciso Cipriani/Reprodução
Em meio à vasta biodiversidade das florestas sul-americanas, um pássaro chama atenção não apenas por sua beleza exótica, mas também por seu nome curioso: o peixe-frito-pavonino. Também conhecido como cuco-pavão (Dromococcyx pavoninus), o nome popular pode remeter à culinária regional, mas essa ave não tem nada a ver com a cozinha — embora desperte o ‘apetite’ dos observadores da natureza.
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Espécie da família Cuculidae, o peixe-frito-pavonino habita regiões tropicais e subtropicais úmidas de baixa e alta altitude, e pode ser encontrado em países como Brasil, Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia, entre outros. Apesar de sua ampla distribuição na América do Sul, é uma ave de ocorrência irregular, frequentemente ausente em áreas onde se esperaria encontrá-la, o que reforça seu ar enigmático.
Com plumagem predominantemente castanha escura na parte superior e mais clara na inferior, o peixe-frito-pavonino ostenta uma cabeça e crista marrom-enferrujadas, além de detalhes amarelados no supercílio, garganta e peito. Em voo, sua silhueta inusitada lembra o bater de asas de uma borboleta — cauda aberta, batidas lentas e elegantes —, um espetáculo raro devido ao comportamento extremamente tímido da ave.
Pouco se sabe sobre seus hábitos cotidianos. Solitário por natureza, é mais ouvido do que visto, sendo identificado sobretudo por seu canto peculiar, levemente diferente do do seu parente próximo, o saci-faisão.
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Um parasita com estratégia surpreendente
Um dos aspectos mais intrigantes dessa espécie é sua forma de reprodução. O peixe-frito-pavonino é um parasita de ninhada, comportamento pouco comum entre aves amazônicas. Em vez de construir seus próprios ninhos e cuidar da prole, a fêmea deposita um único ovo nos ninhos de outras espécies, como o olho-falso, o tororó e a choquinha-lisa.
Segundo Pedro Meloni Nassar, biólogo e analista de pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Mamirauá, o peixe-frito-pavonino deixa o trabalho de criar seus filhotes para outras aves.
Ouça o canto do peixe-frito-pavonino:
“Ela parasita o ninho de outras aves, ou seja, vai lá e põe os ovos no ninho de uma outra espécie. E aí, a outra espécie que cuida dos filhotes do peixe frito”, explica o especialista.
O comportamento é ainda mais extremo, pois ao nascer, o filhote do peixe-frito-pavonino elimina a concorrência, matando os filhotes hospedeiros ou removendo seus ovos, garantindo assim exclusividade nos cuidados parentais.
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Alimentação
A dieta do peixe-frito-pavonino ainda é um mistério para os cientistas. No entanto, se acredita que se alimente principalmente de insetos, em especial ortópteros (como grilos e gafanhotos). Costuma ser avistado no solo ou no sub-bosque da floresta, onde provavelmente caça suas presas.
Apesar das incertezas sobre sua biologia, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classifica a espécie como “pouco preocupante” em termos de conservação. Embora se estime uma tendência de queda na população, não há ameaças concretas que coloquem a espécie em risco iminente.