Onça-parda assusta equipe de monitoramento em unidade de conservação no Acre

O registro do animal, que encarou a equipe, foi durante a amostragem do programa nacional de monitoramento da biodiversidade do ICMBio.

A equipe da Estação Ecológica Rio Acre (Esec) foi surpreendida ao ficar a poucos metros de uma onça-parda que habita a Estação Ecológica Rio Acre, no município de Assis Brasil, interior do Acre, que faz fronteira com o Peru.

O registro do animal foi durante a amostragem do programa nacional de monitoramento da biodiversidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Os monitores da biodiversidade Fernanda Monteiro e Abias Bandeira, ao percorrerem 2.850 metros, avistaram o animal agachado olhando fixamente para eles.

“Foi uma emoção e, ao mesmo tempo, uma tensão que eu nunca tinha sentido na vida. Demoramos cerca de cinco minutos para fazermos os registros, até que o animal levantou e começou a caminhar em nossa direção. Para nossa segurança e respeitando o animal em seu habitat natural, finalizamos nosso dia de amostragem naquele local e retornamos à base”, 

contou.

Onça-parda encara equipe que fazia monitoramento dentro da reserva. Foto: Fernanda Monteiro/Esec

Como o animal passou alguns minutos encarando a equipe, é possível ver um ferimento em um dos olhos. Sidney Oliveira, analista ambiental e biólogo da ESEC Rio Acre, explica que alguns fatores podem ter causado a lesão.

“Ao observar essa magnífica espécie, é evidente o olhar profundo e marcante, porém vazado, revelando uma história de coragem e superação. As possíveis causas desse ferimento ocular podem incluir confrontos com outros animais, impactos contra objetos inesperados, acidentes ou até mesmo doenças oculares”, avalia.

Para fazer o monitoramento, a equipe conta com trilhas dentro da reserva. Foto: Divulgação/Esec

Sobre a espécie 

Segundo Oliveira, essa espécie pode chega até 100 quilos e é encontrada em todo o continente americano. “Também é conhecida como suçuarana, onça-vermelha, onça-parda ou puma. É um verdadeiro predador solitário, com porte médio e uma beleza indomável. Quanto aos seus hábitos alimentares, a onça-vermelha é um carnívoro oportunista, que seleciona com maestria sua dieta”, pontua.

Na natureza, a expectativa de vida média deste felino varia entre 10 e 15 anos, embora alguns indivíduos possam superar essa marca em cativeiro.

“A reprodução ocorre ao longo do ano, sem um período específico de acasalamento. A onça-vermelha é uma criatura predominantemente crepuscular e noturna, atingindo o ápice de sua atividade ao amanhecer e ao anoitecer. No entanto, ela é capaz de caçar e se movimentar com destreza mesmo durante as horas mais escuras da noite. Durante o dia, é comum vê-la descansando e se refugiando em locais sombreados, como densas vegetações ou até mesmo cavernas, buscando abrigo contra o calor. Mas, é importante destacar que seu comportamento se molda às circunstâncias do ambiente, como a disponibilidade de presas, a temperatura e até mesmo a pressão da caçada,” explica.

A onça-parda, no entanto, enfrenta ameaças que colocam em risco sua existência, segundo o biólogo. “A perda e fragmentação de seu habitat, a caça ilegal e o crescente conflito com seres humanos são desafios que não podem ser ignorados. Para garantir a preservação desses felinos majestosos, é fundamental unirmos esforços contínuos, protegendo seus territórios sagrados, combatendo a caça ilegal e promovendo uma convivência harmoniosa com as comunidades locais”, alerta.

Programa de monitoramento

Luan Rocha, biólogo e chefe da unidade de conservação, explica que esse tipo de monitoramento é comum na unidade como forma de controle e preservação.

“O programa consiste em realizar ações de longo prazo que permitam avaliar as respostas de populações e ecossistemas às práticas de conservação e aos impactos de fatores externos, como exemplo, a perda de habitat, mudanças climáticas, alterações na paisagem, entre outras. As informações obtidas servem para criar estratégias de mitigação dos impactos e conservação da biodiversidade”, destaca.

Para isso, há trilhas de monitoramento implementadas na unidade, além de servidores e colaboradores capacitados para a coleta desses dados em campo. A coleta de dados consiste em caminhar ao longo de trilhas de 5 km observando a fauna de aves e mamíferos, anotando em fichas de campo e registrando os animais com câmeras fotográficas, quando possível.

“Além do monitoramento de aves e mamíferos, é realizado o monitoramento de outros alvos, buscando sempre obter o máximo de informação do estado de conservação do local”, 

explica Rocha.

Câmeras flagram invasão dentro da reserva no interior do Acre. Foto: Divulgação/Esec

A gestão da unidade também utiliza armadilhas fotográficas (câmera trap), que são instaladas em pontos estratégicos, objetivando a captura de imagens e informações sobre a fauna e também para identificar invasões e demais crimes ambientais que possam ocorrer na unidade de conservação.

Sobre a Esec

Com uma área de 79.395,22 hectares praticamente intactos, a Estação Ecológica Rio Acre é um território imprescindível para a preservação da flora e fauna do Estado acreano. Criada em 2 de junho de 1981 pelo decreto federal n° 86.061, fica no município de Assis Brasil, interior do Acre, onde faz divisa com o Peru.

Nos últimos anos, o local foi usado para muitas pesquisas, onde foram realizadas descobertas e registros importantes para a fauna e flora da região amazônica e do país. Atualmente, é classificada como uma das unidades de conservação federal mais isoladas e de difícil acesso na Amazônia e tem o papel de proteger e preservar as nascentes do Rio Acre e toda sua biodiversidade.  

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