Foto: Divulgação/Dnit
A Rodovia BR-319, oficialmente Rodovia Álvaro Maia, é a única ligação terrestre entre o Amazonas e o restante do Brasil. Com 885 km de extensão, ela conecta as capitais Manaus (AM) e Porto Velho (RO), sendo essencial para o escoamento de produtos, deslocamento de pessoas e integração regional. No entanto, o chamado ‘trecho do meio’, entre o km 250 e o km 655, permanece como um dos maiores gargalos logísticos do país.
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Apesar de ter sido completamente asfaltada em sua inauguração, em 1976, a BR-319 sofreu com o abandono ao longo das décadas. O pavimento se deteriorou rapidamente, principalmente no trecho central, em meio à Floresta Amazônica, e em 1988 o tráfego regular foi interrompido. Hoje, o caminho só é percorrível por veículos com tração especial e em condições climáticas favoráveis.
A partir do km 215, logo após o rio Tupana, a rodovia perde a pavimentação e se transforma em estrada de terra batida, com longos trechos de barro. Essa região, conhecida como ‘trecho do meio’, é cercada por 28 unidades de conservação ambiental, o que torna a obtenção de licenças para obras um processo complexo e controverso.
De acordo com André Marsílio, ex-presidente da Associação dos Amigos da BR-319, o estado de abandono do trecho central da rodovia não foi acidental. Ele afirma que a estrada foi alvo de sabotagem durante os anos 1980. “A estrada foi criminalmente explodida. Temos testemunhas oculares que presenciaram isso. Houve interesses econômicos e políticos por trás da deterioração desse trecho”, declarou.
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Marsílio destaca ainda que o pavimento original era extremamente robusto. “Em alguns pontos ainda é possível ver a espessura do asfalto original, que chega a quase um metro. Isso mostra que o projeto da época, feito pelo governo militar, levava em conta as dificuldades do terreno amazônico, com áreas alagadas e solos instáveis”, explica.
Atualmente, enquanto os trechos entre Manaus e o km 215, e entre Humaitá e Porto Velho (do km 655,7 em diante) são transitáveis e até repavimentados, o trecho central permanece em estado crítico. “É a única estrada no mundo que é reconhecida como rodovia em seus extremos, mas o trecho central é tratado como se nunca tivesse existido”, critica Marsílio.
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A repavimentação do trecho do meio esbarra em questões ambientais e políticas. Críticos argumentam que a obra colocaria em risco a biodiversidade da região. Já os defensores apontam que não se trata de construir uma nova estrada, mas de recuperar uma via já existente e vital para o desenvolvimento da Amazônia.
A discussão sobre o futuro da BR-319 segue polarizada. Enquanto isso, o trecho do meio permanece como um símbolo do desafio de integrar a Amazônia sem comprometer sua preservação — e da negligência histórica com a infraestrutura da região Norte.