Padre Nazareno. Foto: Reprodução
Você sabia que um padre que atuou na região amazônica pode ser beatificado? Em abril deste ano, o papa Francisco declarou a beatificação do padre romano Nazareno Lanciotti, missionário que dedicou três décadas ao trabalho pastoral no Brasil e foi assassinado em 2001, no interior do Mato Grosso. O religioso ficou conhecido na região por denunciar esquemas de tráfico de drogas, exploração de menores e redes de prostituição.
Lanciotti nasceu em Roma, em 3 de março de 1940, e foi ordenado sacerdote em 1966. Após atuar por alguns anos na capital italiana, se envolveu com a Operação Mato Grosso, movimento de voluntariado que oferece atividades educacionais, culturais e serviços comunitários. Chegou ao Brasil em 1971 e se estabeleceu na aldeia de Jauru, na fronteira com a Bolívia.
Durante três décadas, o padre desenvolveu intenso trabalho missionário. Fundou, em 1974, a Paróquia Nossa Senhora do Pilar, onde foi o primeiro pároco, e ajudou a criar 57 comunidades eclesiais rurais. Também construiu a casa de repouso Coração Imaculado de Maria e abriu uma escola que fornecia educação e alimentação para crianças.
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Em 1987, Lanciotti ingressou no Movimento Sacerdotal Mariano, se tornando presidente nacional. A partir dessa função, organizou encontros de oração em todo o país e também idealizou um projeto de ampliação para um pequeno hospital local, motivado pelo elevado número de mortes infantis na região.
Em nota, a Arquidiocese de Cuiabá afirmou que o Padre Nazareno se destacou pelo compromisso com a justiça social. Denunciou a exploração de crianças e adolescentes, os esquemas de prostituição e tráfico de drogas no oeste do Estado, confrontando interesses escusos. Por isso, tornou-se alvo de perseguições e ameaças.
Ainda de acordo com a Arquidiocese, o reconhecimento de seu martírio pelos dicastérios da Santa Sé, confirmado pelo Papa Francisco, abre caminho para sua beatificação.
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Assassinato do padre e investigações inconclusivas
Na noite de 11 de fevereiro de 2001, após celebrar uma missa, Lanciotti jantava com colaboradores quando foi surpreendido por dois homens encapuzados. Segundo a polícia, eles exigiram dinheiro.
O sacerdote teria respondido que poderia conseguir o valor no dia seguinte, quando os bancos abririam. Um dos criminosos disparou contra o padre, atingindo sua quarta vértebra, e teria cochichado que ele “incomodava gente poderosa”.
Nazareno foi levado de avião para um hospital em Cuiabá, mas morreu em 22 de fevereiro de 2001, aos 61 anos. As investigações nunca chegaram a uma conclusão definitiva sobre os mandantes do crime.

Como funciona o processo de beatificação?
No Vaticano, o processo de reconhecimento da santidade segue etapas rigorosas. Primeiro, o candidato é declarado servo de Deus. Após investigações mais profundas sobre sua vida e virtudes cristãs, pode receber o título de venerável.
Se comprovada a fama de santidade, o caso é encaminhado ao papa com pedido de beatificação. Dois teólogos, que não se conhecem e juram sigilo, analisam todo o dossiê. Se houver divergência, um terceiro parecerista é convocado.
A beatificação exige a comprovação de um milagre atribuído à intercessão do candidato. A canonização, quando a pessoa é declarada santa, requer a confirmação de dois milagres por meio de rigorosa análise científica e teológica.
Com a proclamação feita por Francisco, padre Nazareno Lanciotti passa a ser oficialmente beato, podendo ser cultuado pelos fiéis, sobretudo nas comunidades onde atuou e deixou marcas profundas de fé, solidariedade e defesa dos mais pobres.
