O principal intuito é potencializar as vozes das anciãs, jovens e lideranças mulheres que protegem seus territórios e suas culturas
Com o tema ‘Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais’, a terceira edição da Marcha das Mulheres Indígenas pretende reunir mais de seis mil participantes de 150 povos originários de todos os cantos do país e do mundo. O evento segue até quarta-feira (13) em Brasília.
O terceiro encontro tem o objetivo de chamar a atenção para a conservação ambiental. “O nosso bioma está sendo destruído a todo tempo. E que a gente tá aqui pra dizer pro mundo que nós precisamos ser respeitadas, porque se a Amazônia for destruída, nós também vamos juntas”, alerta a liderança Watatakalu Yawalapiti.
“Tenho orgulho de ser uma das primeiras do movimento de mulheres do território indígena do Xingu. Enfrentei muitas barreiras para que a minha filha e as minhas netas possam chegar um dia sem precisar passar por tudo que nós vivemos.”
Organizada pela rede de Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), o principal intuito é potencializar as vozes das anciãs, jovens e lideranças mulheres que protegem seus territórios e suas culturas. Por isso, toda a programação foi criada para fortalecer a atuação das mulheres indígenas, debatendo os desafios e propondo diálogos de incidência política.
Para conquistar e demarcar mais espaços de poder, logo no primeiro dia 500 lideranças participaram da sessão solene ‘Reflorestando o Congresso’, impulsionada pela Bancada do Cocar, que é chefiada pela deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG). Vale destacar que, pela primeira vez em sua história, o Brasil possui uma Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; e uma indígena presidente da Funai, Joênia Wapichana.
Marcha das Mulheres Indígenas
O evento é um grande chamado à humanidade para proporcionar uma nova forma de nos relacionar com a Mãe Terra e promover o bem-viver entre nós, seres que nela vivem.
“As mulheres indígenas e seus povos têm um papel fundamental no combate à emergência climática. A gente tem feito esse trabalho há milhares de anos, e ainda dá tempo de salvar o planeta se todos nós repartimos essa responsabilidade”, explica Puyr Tembé, membra da ANMIGA que ajudou a organizar este momento.
“Depois de dois anos preparando, chegar hoje e ver a quantidade de mulheres de todos os biomas que estão presentes, inclusive mulheres internacionais, é a certeza de que a gente está no caminho certo”.
Com seus cantos, rituais e vestimentas tradicionais, guerreiras dos seis biomas brasileiros abriram mais uma edição da Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, que ocorre de dois em dois anos.
Segundo a ANMIGA, no centro da marcha está um poderoso apelo por direitos iguais para as mulheres indígenas. São inúmeros os desafios e injustiças ao longo de suas vidas, mas elas se recusam a continuar sendo silenciadas. Exigem acesso a cuidados de saúde de qualidade, educação e oportunidades econômicas, e lutam pela proteção da terra e de suas riquezas naturais, que vêm sendo explorados por muito tempo.
Futuro é ancestral
Para combater as emergências que o mundo enfrenta hoje, é necessário e urgente nos conectarmos com a Mãe Terra e com os saberes de quem dela cuida há milhares de anos. É essencial para a manutenção da vida e para o bem-viver de todos.
A fome, a violência, o desemprego, as desigualdades, o racismo, a LGBTFOBIA e o machismo colocam milhões de pessoas em situação de risco, e são sintomas de um modelo predatório falido, que empurra o mundo a um ponto de não-retorno.
A Marcha das Mulheres Indígenas joga luz nos conhecimentos, na riqueza cultural e nas tecnologias ancestrais das mulheres indígenas, que são exemplos concretos de solução e de que é possível vivermos e convivermos de outra forma.
Precisamos de um modelo de reconstrução que se baseie no cuidado com a Terra e na troca de saberes ancestrais dos povos que há anos convivem com a natureza. Para isso, é crucial a articulação política das mulheres indígenas, a escuta ativa e o apoio de toda a sociedade.
Marco Temporal Não
A uma semana do julgamento do século, as esperanças e as expectativas também estão presentes na Marcha das Mulheres Indígenas. Até o momento, o placar no Supremo Tribunal Federal (STF) está a favor dos povos indígenas: 4 x 2 contra o Marco Temporal. Ainda faltam cinco votos – a votação continuará em 20 de setembro.
Se aprovado, o Marco Temporal vai impossibilitar a demarcação de territórios originários, piorando a insegurança para os povos indígenas e a crise climática. As Terras Indígenas são essenciais para o equilíbrio ecológico e para o clima global, conservando mais de 100 milhões de hectares de florestas. O Marco Temporal coloca o mundo inteiro em risco e os povos indígenas estão na linha de frente defesa do planeta.