Livro Vermelho da Fauna: Amazônia tem 180 espécies sob risco de extinção

Considerando o conjunto de espécies avaliadas, a Amazônia é o bioma com maior riqueza de espécies da fauna
 
Detentor do maior sistema fluvial do mundo e da mais expressiva variedade de anfíbios e primatas, o Brasil contabiliza atualmente 1.173 espécies da fauna com sua perpetuidade sob risco. Na Amazônia, são 180 espécies que correm risco de extinção.

As informações estão no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, resultado de um estudo que contou com a participação de 1.270 pesquisadores e que foi divulgado pelo Instituto de Conservação da Biodiversidade Chico Mendes (ICMBio).

Considerando o conjunto de espécies avaliadas, a Amazônia é o bioma com maior riqueza de espécies da fauna, seguido da Mata Atlântica e do Cerrado. A Mata Atlântica é o bioma que apresenta maior número de espécies ameaçadas, tanto em números absolutos quanto em proporcionais à riqueza dos biomas.
 

Tartaruga-da-Amazônia Foto: Divulgação 

Do total de espécies ameaçadas do Brasil, 15,3% se encontram na Amazônia, que representam 180. Desse total, 124 espécies são endêmicas desse bioma, ou seja, que existem apenas na Amazônia.

Por todo o país, os principais fatores de pressão às espécies continentais estão relacionados às consequências de atividades agropecuárias, seja pela fragmentação e diminuição da qualidade do habitat em áreas em que a atividade está consolidada ou pelo contínuo processo de perda de habitat onde a atividade está em expansão.

Para as espécies que ocorrem na Amazônia, os principais fatores de pressão identificados são os empreendimentos relacionados à obtenção de energia, principalmente as hidrelétricas, e atividades agropecuárias, afetando, respectivamente, 95 e 94 espécies que ocorrem nesse bioma. As hidrelétricas afetam de forma direta majoritariamente os peixes e algumas aves, em especial as que necessitam de ambientes de várzea, além dos mamíferos aquáticos (boto-cor-de-rosa, Inia geoffrensis e o peixe-boi-da-amazônia, Trichechus inunguis).

Por provocarem perda de habitat, afetam algumas espécies de aves, primatas e mamíferos carnívoros. As atividades agropecuárias estão em expansão e têm provocado fortes alterações ambientais nas porções leste e sul da Amazônia, no chamado arco do desmatamento, região com muitas espécies endêmicas, especialmente de aves.

A retirada de indivíduos da natureza, incluindo caça, pesca e captura, é a terceira maior causa que afeta a fauna da Amazônia, com 52 espécies afetadas pelas atividades. Assim como a pesca, a caça tem como principal finalidade o consumo (principalmente de mamíferos e aves), porém também é praticada como forma de retaliação pela predação de animais domésticos. Já a captura de indivíduos vivos é realizada principalmente para o tráfico de animais, para a criação como animal doméstico e para a aquariofilia.

Outros fatores, como mineração, extração florestal e empreendimentos de transportes estão entre as causas para as espécies que estão sob risco de extinção na Amazônia.

Livro Vermelho da Fauna

Diferindo do mais antigo levantamento nacional já registrado, realizado em 1968 pelo então órgão ambiental competente, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), o livro aborda, de forma inédita, o risco de extinção da vida animal no Brasil, uma vez que abrange todos os vertebrados que existem no país. Se considerada somente essa parcela, o total de espécies chega a quase 9 mil.

Com 4.200 páginas, a nova edição da lista oficial de animais sob risco de extinção dá continuidade a relatórios produzidos em 2003, 2004, 2005 e 2008. Os números vigentes revisam as listas publicadas pelo Ministério do Meio Ambiente no final de 2014, conforme as portarias nº 444 e 445 da pasta, e o Livro Vermelho 2008. Além disso, atualiza algumas das nomenclaturas de espécies anteriormente empregadas nesses documentos.

Ao comparar dados do livro de 2008 com a edição mais nova, é possível notar que 716 espécies animais do território brasileiro entraram para a lista daquelas consideradas sob ameaça de extinção, enquanto 170 deixaram de integrá-la.

Conforme o ICMBio, ao longo de todos esses anos, a quantidade de espécies ameaçadas só cresceu. Da lista da década de 1960, por exemplo, constavam 44 espécies nessa condição, incluindo mamíferos, aves e répteis, e ainda 13 da flora brasileira. Desse total, 30 ainda são hoje mencionadas, por merecer alerta.

Para a elaboração do Livro Vermelho 2018, os pesquisadores tiveram como escopo o exame de 12.254 táxons (unidades de classificação de seres vivos), dos quais 226 (1,8%) foram incluídos na categoria Não Aplicável (NA) para a avaliação, por não pertencer de fato à fauna local. “A maioria dessas espécies é de aves, peixes marinhos ou mamíferos marinhos, muitas com comportamento migratório, ampla distribuição fora do Brasil e ocorrendo apenas ocasionalmente em território brasileiro”, explica a autarquia.

Conservação

No livro, o ICMBio lembra que as unidades de conservação (UC) são o instrumento de proteção do habitat mais utilizado no país, hoje em dia. “Ao final de 2017, o Brasil tinha um total de 1.544.833 quilômetros quadrados de áreas protegidas, ou 2.029 unidades de conservação em todo o país, 325 delas geridas pelo Instituto Chico Mendes. Das espécies ameaçadas de extinção, 732 têm ocorrência registrada em unidades de conservação, das categorias previstas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Incluem, por exemplo, os registros de espécies que ocorrem apenas ocasionalmente nas UC, como por exemplo, espécies marinhas que fazem grandes deslocamentos, como os cetáceos e alguns elasmosbrânquios”, escreve a autarquia em trecho do livro.

“Para 429 táxons não há registro em unidades de conservação, embora 29 deles tenham ocorrência provável. Os peixes continentais são o grupo com o maior número de espécies sem registro em UC e também o grupo com o maior número de espécies que sabidamente não ocorrem em UC”, completou.

O ICMBio lembra ainda que, apesar do papel que vêm desempenhando as unidades de conservação, a preservação da biodiversidade não pode delas depender, sendo necessário desenvolver “uma matriz de conservação”. O instituto aponta as atividades feitas no âmbito dos planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção (PAN) e os planos de Redução de Impactos à Biodiversidade causados por Atividades Antrópicas (PRIM), que ainda estariam sendo devidamente estruturados.

Conforme a publicação, foram implementados, até o momento, 60 PANs, em conjunto com o Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, tendo beneficiado 700 espécies ameaçadas, das quais 526 são espécies de vertebrados, 87 de invertebrados e 91 da flora. 

O impacto das ações de proteção foi, segundo Oliveira, algo que se confirmou com a baleia jubarte, conhecida por sobrenadar o perímetro do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no litoral da Bahia. “Esse é o melhor exemplo. Vários esforços de conservação de 20, 30 anos melhoraram sua avaliação [quanto ao risco de extinção].”
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