Infestação por cipós no sul da Amazônia é prejudicial para a floresta, aponta pesquisadora

Os pesquisadores quantificaram a infestação de cipós em mais de 16.000 árvores em 27 parcelas distribuídas nas florestas remanescentes ao longo da borda sul da Amazônia.

O artigo científico, Causes and consequences of liana infestation in Southern Amazonia, em português Causas e consequências da infestação por cipós no sul da Amazônia, ganhou repercussão internacional ao ser publicado em versão impressa esta semana na revista científica Journal of Ecology, pela egressa da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) Simone Matias de Almeida Reis.

Os pesquisadores quantificaram a infestação de cipós em mais de 16.000 árvores em 27 parcelas distribuídas nas florestas remanescentes ao longo da borda sul da Amazônia. (Foto:Divulgaçaõ/Unemat)

Em seu artigo, Simone Reis, doutora em Biodiversidade e Biotecnologia, revelou pela primeira vez que os cipós estão prejudicando as florestas no sul da Amazônia. Segundo a autora, mais da metade de todas as árvores que crescem na borda sul da Amazônia estão infestadas por cipós, que retardam em 1/3 o crescimento dessas plantas.

“Os cipós sempre foram uma característica natural da borda sul da Amazônia, mas agora levantamos evidências de que estão infestando muito mais as árvores por causa do desmatamento, que transforma as florestas em pequenos fragmentos. Os cipós dificultam a absorção de carbono pelas árvores. Quando alcançam o dossel, suas folhas podem cobrir a copa das árvores e deixá-las sem luz. Isso reduz a capacidade natural da floresta de remover o excesso de dióxido de carbono da atmosfera”, conclui Simone.

Os cipós dificultam a absorção de carbono pelas árvores. (Foto:Divulgação/Unemat)

O estudo desenvolvido por pesquisadores da Unemat em parceria com seis universidades do Reino Unido é o primeiro a avaliar a infestação de cipós em larga escala no sul da Amazônia. Os pesquisadores quantificaram a infestação de cipós em mais de 16.000 árvores em 27 parcelas distribuídas nas florestas remanescentes ao longo da borda sul da Amazônia. Além do desmatamento, a região é marcada por mudanças climáticas, tendo passado recentemente por várias secas severas e aumento da temperatura.

A doutora em Ecologia e professora da Unemat, Beatriz Schwantes Marimon, que estuda essas florestas há mais de 20 anos, supervisionou esta pesquisa e aponta os fatores de risco que podem levar à infestação de árvores por cipós.

“Quanto maior a copa da árvore, maior a probabilidade de ela estar infestada. Mas algumas espécies são especialmente suscetíveis, incluindo aquelas com madeira mais dura e com crescimento mais lento”, explicou a pesquisadora.

De acordo com o professor Oliver Phillips da Universidade de Leeds/Inglaterra, considerado uma das maiores autoridades mundiais em florestas tropicais e co-autor do estudo, os cipós frequentemente reduzem a vantagem das árvores mais altas, retardando seu crescimento.

“Na natureza, os cipós podem ajudar a promover um ambiente florestal dinâmico e evitar o domínio excessivo de árvores maiores. Mas, uma vez que a floresta se torne altamente fragmentada, os cipós podem assumir o controle e prejudicar seriamente a capacidade da floresta de armazenar carbono”, conclui o cientista.

Simone Matias de Almeida Reis foi aluna de graduação, mestrado e doutorado da Unemat, onde atualmente é professora colaboradora do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação. Neste estudo, a pesquisadora foi orientada pela professora Beatriz Marimon e co-orientada pelo professor Oliver Phillips.

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