O encontro discutiu o compartilhamento de propostas dos governos locais, iniciativas da sociedade civil organizada e das comunidades científicas para o desenvolvimento regional sustentável e conservação do bioma amazônico.
Realizada em Belém, a Universidade Federal do Pará (UFPA) se fez presente nas discussões da ‘I Conferência para uma Amazônia que queremos’, com organização do Painel Científico para a Amazônia (SPA, da sigla em inglês). O evento é realizado no momento em que a capital se prepara como candidata brasileira para sediar a COP 30, em 2025.
Em sua primeira edição, o encontro discutiu o compartilhamento de propostas dos governos locais, iniciativas da sociedade civil organizada e das comunidades científicas para o desenvolvimento regional sustentável e conservação do bioma amazônico. A ideia foi reunir sugestões de temas prioritários também para elaboração do Plano Estratégico 2023-2025 do SPA.
Convidado para o painel de abertura, ‘A Amazônia no Centro do Desenvolvimento Sustentável do Brasil’, moderado pela jornalista do Valor Econômico Daniela Chiaretti, o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, falou sobre o papel estratégico da Universidade na conservação do bioma amazônico e na promoção do desenvolvimento social e econômico da região, apontando que o tema do desenvolvimento sustentável tem hoje lugar de destaque na Ciência. Para Tourinho, pensar o futuro da Amazônia exige estabelecer uma agenda de trabalho que faça a diferença para os povos da região.
“A Amazônia que queremos passa necessariamente pela Universidade e depende do conhecimento científico sobre as nossas riquezas naturais, sobre as nossas riquezas culturais, sobre a nossa diversidade étnico-racial. A UFPA tem papel fundamental na produção de conhecimento sobre essas realidades, sobretudo para que políticas públicas que venham a ser desenhadas para a região sejam sólidas e sintonizadas com as necessidades dos povos da Amazônia”, defendeu o reitor.
Tourinho levou à audiência que prestigiava o evento a sugestão de temas considerados prioritários para discutir os avanços para a região. “O investimento nas instituições de pesquisas já instaladas na Amazônia – universidades e institutos de pesquisa; o protagonismo efetivo dos povos da Amazônia nos novos negócios de economia sustentável; e a resolução dos graves problemas fundiários são pontos que consideramos necessários para reflexão sobre o futuro da região”, apontou durante o pronunciamento.
O painel de abertura contou também com as presenças do secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil (MMA), João Paulo Capobianco; da secretária nacional de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Márcia Barbosa; do presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, Roberto Waack; e do diretor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Oriental), Wakymário Lemos.
Ciência e Amazônia em foco
O protagonismo das instituições de pesquisa e dos cientistas da Amazônia foi destaque durante os dois dias de programação. Mais de 30 trabalhos de pesquisas em andamento na UFPA estiveram expostos durante o evento. Professores e pesquisadores da instituição também acompanharam de perto as discussões.
“Estivemos presentes com trabalhos nas áreas de clima, de conservação de biodiversidade, de tecnologias de alimento, de aproveitamento da biodiversidade para fármacos, de direito ambiental. Enfim, apresentamos um painel de trabalhos que mostram um pouco do que a Universidade está fazendo pela, para e na Amazônia”, orgulhou-se a pró-reitora de pesquisa e pós-graduação, Iracilda Sampaio, destacando a posição estratégica da UFPA para a expansão da fronteira do conhecimento na região amazônica. “Temos, atualmente, registrados no CNPQ, mais de oitocentos grupos de pesquisa, muitos deles centrados na temática ‘Amazônia’. Saímos do evento com a responsabilidade de olhar pra frente, de pensar o futuro e focar em soluções sociobioresponsáveis”, completou.
Com experiência na área de Direito Ambiental e Direito Minerário, principalmente na temática de licenciamento ambiental voltado para a mineração, a professora do Instituto de Ciências Jurídicas da UFPA, Ana Cláudia Cruz da Silva, avaliou positivamente as discussões levantadas. Para ela, a presença de pesquisadores de diferentes áreas com interesse em comum foi um dos pontos altos.
“A Amazônia é plural e diversa. Pesquisar a região exige esse olhar atento e conectado a múltiplas realidades e por isso é tão importante estar aqui e ouvir quem faz e vive a região. A Conferência foi ótima por promover essa interlocução entre as áreas e entre os pesquisadores. Foi sem dúvida um bom ensaio para a COP 30 que estamos na expectativa de sediar”,
avaliou.
Para o professor do Instituto de Ciências Biológicas, Leandro Juen, a conservação da Amazônia só será possível com uma junção de esforços que, segundo ele, atravessa necessariamente a ciência e o conhecimento produzidos dentro da Amazônia. O pesquisador defende a valorização efetiva de cientistas e instituições da Amazônia. “Claro que é muito necessária e bem-vinda a ajuda que recebemos de pesquisadores e das Instituições de fora, isso porque ciência é feita em conjunto, mas é extremamente necessário que os pesquisadores e Instituições que são da Amazônia sejam incluídos e ouvidos em qualquer contexto de discussão sobre ela”, disse.
O pesquisador, que desenvolve projetos nas linhas de pesquisa de ecologia e conservação avaliando como a alteração da integridade afeta a biodiversidade, destacou a importância da UFPA no desenvolvimento de estudos cujos resultados são fundamentais no auxílio e proteção dos ecossistemas amazônicos e para o subsídio de ações e projetos para o desenvolvimento sustentável da região. Para ele, a proteção e a conservação da Amazônia exige conhecimento real da biodiversidade.
“Realizar pesquisas na Amazônia é uma tarefa complicada, pois requer muitos recursos em virtude do ‘custo amazônico’, que ocorre devido a sua grande extensão territorial. Muitas vezes temos que usar avião, carro e barco para acessar nossas áreas de estudos, o que encarece ou até mesmo inviabiliza a realização dos mesmos. Então, ouvir pessoas que já trabalham na Amazônia e que, apesar de toda a dificuldade existente, ainda estão realizando pesquisas e gerando conhecimento de qualidade, mostra nossa capacidade de discutir o futuro da Amazônia com propriedade”
apostou.
Atuante nas áreas de biocombustíveis e biomassas residuais, na valorização de resíduos e nos estudos com óleos e gorduras vegetais e de cianobactérias, o presidente da Comissão do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado na UFPA (Sisgen-UFPA), Luís Adriano Santos do Nascimento elegeu a bioeconomia como uma das temáticas chave para região e que estiveram em pauta no evento. Para o pesquisador, o futuro da Amazônia perpassa a utilização econômica e sustentável da floresta.
“Manter a floresta em pé pode ajudar todo o nosso planeta. Assim, a preservação ambiental e a conservação da biodiversidade serão sempre temas prioritários assim como agora o é também a temática da bioeconomia. A geração de emprego e renda por meio de atividades que garantam qualidade de vida para os povos e ao mesmo tempo mantenham a floresta viva e em pé deve ser entendido como prioridade para desenvolver uma Amazônia sustentável”, apontou.