Florestas públicas não destinadas: 36,5% do desmate na Amazônia em 2023

Florestas públicas não destinadas ocupam hoje 56,5 milhões de hectares na Amazônia brasileira, o equivalente ao tamanho da Espanha.

Da esquerda para direita: Marcelo Trevisan, representante do MMA; Lívia Laureto, pesquisadora do IPAM; o deputado Nilto Tatto (PT); e Marcos Woortmann, do IDS. Foto: Bibiana Garrido/IPAM

As florestas públicas não destinadas concentraram 36,5% do desmatamento na Amazônia em 2023, segundo dados do PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), analisados pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e apresentados em audiência pública no Senado Federal no dia 11 de dezembro. No ano passado, foram 187,3 mil hectares desmatados nestas áreas.

A audiência pública foi realizada pela Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas em parceria com o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) e o IPAM. O objetivo envolveu o debate de soluções legislativas e administrativas visando a garantia da proteção e do uso sustentável das florestas públicas.

O que são as florestas públicas não destinadas

Florestas públicas não destinadas ocupam hoje 56,5 milhões de hectares na Amazônia brasileira – o equivalente ao tamanho da Espanha. Estas áreas, sob domínio estadual ou federal, ainda não receberam uma definição de uso, à luz da lei de gestão de florestas públicas de 2006, para terra indígena ou unidade de conservação, por exemplo, e são frequentes alvos da grilagem, do desmatamento e da extração ilegal de madeira.

Observatório com dados abertos

A pesquisadora lembrou o Observatório de Florestas Públicas, plataforma criada pelo IPAM e pela iniciativa Amazônia de Pé para oferecer a consulta livre de dados como a localização das florestas não destinadas e o avanço dos registros de CAR (Cadastro Ambiental Rural) sobrepostos a estas áreas.

O desmatamento acumulado nas não destinadas até 2024 soma mais de 4,3 milhões de hectares, conforme os dados do PRODES analisados pelo Instituto e apresentados na reunião. Se fosse um município, essa área desmatada seria a 21a maior cidade do Brasil.

De maneira a contribuir também com a redução de registros fraudulentos de CAR, como ferramenta para grilagem e desmatamento em terras públicas, o IPAM vem atuando ao lado de Ministérios Públicos, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e da Abrampa (Associação Brasileira de Membros do Ministério Público de Meio Ambiente) para consolidar o cálculo do dano climático do desmatamento ilegal em termos de emissões de gases do efeito estufa. 

Ponto-chave para o Estado de Direito

Marcos Woortmann, diretor adjunto do IDS, afirmou a destinação como ponto-chave em diversos aspectos para o país.

“É um ponto-chave não somente no que tange a políticas públicas, mas a todo o funcionamento do Estado de Direito. Como sabemos, inclusive por dados do IPAM, 51% do desmatamento ilegal que ocorreu na Amazônia foi em florestas públicas não destinadas”. E citou a influência do crime ambiental organizado: “É algo muito vinculado à inserção do crime organizado nestes ambientes. Antigamente, o Estado tinha uma primazia logística sobre o crime organizado, de comunicações, acesso a internet, coisa que hoje já não existe”.

O deputado Nilto Tatto (PT) presidiu a reunião e destacou o desafio de destinar as florestas públicas: “É um desafio enorme o Brasil dar uma destinação para estas áreas. A gente tem exemplos de destinação dessas áreas públicas que ajudam nessa estratégia, do ponto de vista da conservação e dos compromissos assumidos internacionalmente, mas também da melhoria da qualidade de vida das populações que sobrevivem dos recursos das florestas não destinadas. Há uma importância fundamental em fazer este debate e procurar a saída”.

Representando o Procurador-Geral da República Paulo Gonet, ele acrescentou uma reflexão sobre a remuneração “de quem mantém a floresta em pé”: Temos várias críticas ao mercado de carbono, principalmente em experiências que vêm sendo questionadas pelo MPF, mas não se pode descartar algum tipo de remuneração para quem mantém a floresta em pé”, afirmou.

“É um entendimento coletivo que a gente vive uma crise climática, que a gente imaginava que chegaria a médio prazo, mas já estamos sofrendo eventos climáticos extremos a todo momento. Temos vários exemplos que nos demonstram a condição urgente de tratar do clima e, quando a gente fala de floresta, temos que lembrar das florestas públicas já destinadas, das ainda não destinadas e outras áreas fundamentais também em outros biomas, além de florestas, todas muito importantes para a conservação”, complementou Marcelo Trevisan, diretor do Departamento de Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo IPAM

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