Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública entre os anos de 2018 a 2021, apontam que existam 53 facções criminosas brasileiras em atividade atualmente.
As facções criminosas presentes nos Estados brasileiros são um problema de segurança pública recorrente das cidades que protagonizam episódios de violência e mortes.
Um dos casos que mais chamou a atenção no Amazonas, por exemplo, aconteceu no dia 1 de janeiro de 2017, quando uma rebelião aconteceu no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. No total, 56 pessoas foram torturadas e assassinadas.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, o motim foi causado por confrontos de organizações criminosas rivais. As negociações duraram cerca de 17 horas. O massacre foi considerado o segundo maior do Brasil, ficando atrás apenas do Massacre do Carandiru, quando 111 detentos foram mortos, a maioria por policiais que entraram no local para conter a rebelião.
A grande maioria das rebeliões em presídios são causadas pelas disputas entre facções. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública entre os anos de 2018 a 2021 aponta que existam 53 facções criminosas brasileiras em atividade atualmente.
Na Amazônia Legal, 34 facções foram registradas, divididas entre os Estados do Amazonas, Amapá, Acre, Pará, Mato Grosso, Roraima, Rondônia, Tocantins e Maranhão.
As principais facções são: Comando Vermelho (CV), Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC). O CV e o PCC estão em 8 dos 9 estados da Amazônia Legal. Diferente dos outros Estados, o Mato Grosso é o único comandado unicamente pelo Comando Vermelho (CV).
Considerada a maior facção do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC) age não apenas na compra de drogas como maconha e cocaína de países produtores, mas também exporta toneladas de drogas para Europa, África e Ásia por meio de navios de carga que atracam na costa brasileira.
Em segundo lugar, está o Comando Vermelho (CV), que já é a facção mais antiga. Apesar de ter sido a primeira a chegar no Paraguai, onde busca drogas e armas, o CV não tem tradição de exportar cocaína para outros continentes, apesar de haver registros de envio de droga para fora do Brasil.
Das 27 unidades federativas do País, apenas São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Piauí têm o domínio de uma só facção em seu território.
Atuação nos Estados da Amazônia Legal
De acordo com o Anuário Brasileiro, o Estado amapaense concentra facções locais mais fortes e mais violentas do que as também presentes PCC e CV. As locais são: Família Terror do Amapá, Amigos Para Sempre e União do Crime do Amapá.
Além das facções do Amapá, uma das principais atuantes no Norte do País é a Cartel do Norte (antiga Família do Norte), tida como a principal da região. Ela tem como base o Amazonas, mas existem ramificações registradas em áreas do Pará. No Acre, PCC, Bonde dos 13 (B13) e Ifara são as facções que fazem frente ao CV. As autoridades apontam que, depois da morte de Jorge Rafaat Toumani, em junho de 2016, a B13 perdeu influência no Estado juntamente com o PCC.
Até 2021, no Acre, quem dominava o Vale do Juruá e Cruzeiro do Sul, próximo da fronteira com o Peru e com a Bolívia, era o CV. Aquela região é importante para o tráfico internacional de drogas porque é de lá que chega boa parte da cocaína produzida em território peruano no Brasil. O CV controla todos os afluentes do Rio Juruá, exceto o Moa, que é da B13, e também controla todo o tráfico de drogas em Cruzeiro do Sul.
Estruturado por Fernandinho Beira-Mar quando esteve no presídio federal de Porto Velho, o CV é a facção criminosa mais antiga em Rondônia, com registros de presença desde pelo menos 2009. Lá, existem núcleos duros do grupo nas cidades de Ariquemes e Vilhena. O PCC se instalou em meados de 2012, com núcleos em Rolim de Moura e Cacoal. A rivalidade entre PCC e CV é maior dentro das cadeias do que nas ruas. Pelo Estado, PCC e CV escoam pasta base de cocaína que vem de Guayaramerín, na Bolívia. Parte da droga fica estocada no Estado. O restante segue para Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, como destinos temporários, antes de chegar para São Paulo ou Rio de Janeiro, os destinos finais.
Já Roraima é dominado pelo PCC depois de a facção ter exterminado integrantes do CV e do CDN. Há poucas disputas territoriais, já que o mercado local é fraco. Lá, o PCC é voltado para os negócios com grupos da Venezuela e da Guiana. Indígenas são tidos como público-alvo para o tráfico de maconha, de acordo com as autoridades de segurança pública locais. No Pará, o PCC foi detectado em 2006, está bem estruturado e segmentado. Seu principal inimigo é o CV, já seu principal aliado é o Comando Classe A. A facção paulista é influente dentro dos presídios, mas não hegemônica nas ruas. Já o CV foi detectado em 2009 e, atualmente, é a principal facção do Estado.
O CV cresceu utilizando a mesma tática que usou em outros Estados: fez cooptação para batismos e fomentou cisões no PCC. Ainda no Pará, há a presença do CDN, que é menor do que o PCC e o CV. Sem alianças, está quase em extinção na localidade. O CCA, também conhecido pela sigla 331, surgiu em Altamira, tida até hoje como muito forte. Antigamente, era aliada do CV, agora é do PCC e tem emissários no Peru.
Menores, ainda existem a Equipe Rex, que tem seu QG ("quartel general") no bairro Terra Firme, na periferia de Belém, é aliada ao CV, mas está em processo de extinção. A Equipe Real, também aliada ao CV, é influente em Ananindeua, na região metropolitana da. E o Bonde dos 30 foi criado em 2014 depois da morte de um líder de um grupo de extermínio, mas vem perdendo força.
No Tocantins, o PCC era absoluto até 2009. Depois de uma rebelião ocorrida naquele ano, lideranças da facção foram transferidas para o sistema penitenciário federal. Com isso, o CV se fortaleceu no local, chegando a ser a maior facção até 2016. Em 2018, o PCC voltou a se recuperar no território e é, até hoje, a facção predominante no local. O Estado é usado pelas duas facções como um local de entreposto da cocaína que chega dos países produtores. O clima é tido como tenso entre as duas facções dentro e fora dos presídios