Pesquisadores analisaram 27 cenários diferentes onde apenas 1 modelo é sustentável, mas atende apenas 31% da demanda do mercado atual.
A pesquisa realizada pelo Laboratório de Silvicultura Tropical (Lastrop) da Esalq da USP, junto de pesquisadores internacionais apontam que o sistema da produção madeireira em concessões florestais se esgota em 35 anos. O artigo intitulado Sustainability of Brazilian forest concessions foi publicado no periódico Forest Ecology and Management, em junho deste ano, e contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
As concessões florestais têm o objetivo de administrar as florestas públicas brasileiras, promover a produção sustentável e estimular o desenvolvimento econômico regional, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Entretanto, Edson Vidal, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, alerta que, se não for reavaliado, o modelo de produção madeireira se esgotará em 35 anos, mesmo se a área de produção for aumentada em mais de 20 vezes. Em estudo recém-publicado, os pesquisadores analisaram 27 diferentes cenários de produção e apenas um modelo é sustentável, mas atende a apenas 31% da demanda do mercado atual de madeira. “Precisamos repensar o manejo de floresta nativa”, afirma Vidal.
Atualmente, as concessões florestais na Amazônia brasileira ocorrem em 1,6 milhão de hectares, porção que já não atende à demanda atual de madeira de 11 milhões de metros cúbicos por ano, mas a estimativa dos especialistas é de que a área total do potencial de concessões seja mais de 20 vezes maior, cerca de 35 milhões de hectares. Segundo Vidal, se estendida para 35 milhões de hectares de concessões potenciais, a taxa atual de exploração madeireira poderia atender a 91% da demanda. No entanto, esse nível de produção diminuiria gradativamente, até o esgotamento completo, em 35 anos.
Foram testados 27 cenários, combinando diferentes variáveis em três diferentes condições, como a proporção de árvores de interesse comercial com mais de 50 centímetros de diâmetro, nas áreas (20%, 50% e 90%); a intensidade de corte (10, 20 e 30 metros cúbicos por hectare); e o período de ciclo de corte (20, 35 e 60 anos).
Os resultados mostram que, das combinações possíveis, apenas um cenário é sustentável, porém atende a 31% da demanda atual por ano. O pesquisador explica que, nesse cenário, seria necessário reduzir pela metade a intensidade de corte (10, em vez de 20 ou 3m3 por hectare/árvore), aumentar o período de rotação (65, em vez de 35 anos) e que 90% das árvores da espécie tenham valor de mercado – o que, nas palavras de Vidal, está longe da situação atual: “Hoje, apenas 20% das espécies de árvores são comercializadas e, nos padrões atuais, a recuperação é muito lenta para recuperar estoques de madeira”, completa.
Para avaliar as condições de sustentabilidade dos atuais e potenciais sistemas de concessões florestais com a demanda anual da indústria madeireira, os pesquisadores se apoiaram em um sistema integrado de equações simultaneamente dependentes, chamado de Dinâmica de Volume com Equações Diferenciais (VDDE). A avaliação contou com dados do Tropical Managed Forests Observatory (TmFO), por meio da colaboração de pesquisadores estrangeiros. Os cálculos estimam o volume total e fluxo de crescimento das árvores, aplicados por 3.500 hectares de parcelas monitoradas há 30 anos, em diferentes regiões da Bacia Amazônica.
A política de concessões florestais é vigente desde 2006, regida pela Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei 11.284/2006), que permite ao poder público conceder a pessoas jurídicas, o que inclui empresas, cooperativas e associações de comunidades locais, a permissão para realizar o manejo florestal sustentável para extrair produtos madeireiros, como informa o Serviço Florestal Brasileiro (SFB). As técnicas de manejo florestal sustentável buscam garantir um equilíbrio entre a exploração e a sustentação da floresta, por isso as áreas cedidas para produção passam por rodízios, ou ciclos de corte, que visam à recuperação da floresta e à continuidade da extração.