Defensores da Amazônia: Jaider Esbell e o legado de vó Bernaldina

Artista multimídia, escritor e produtor cultural, Jaider Esbell nasceu em Normandia, hoje Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Indígena da etnia Makuxi, o artista mantém em seu ateliê a ‘Galeria de Arte Indígena Contemporânea’, em Boa Vista, com exposição de suas obras e de outros artistas indígenas da região. A arte de Jaider como militância em defesa da Amazônia vem de berço. Ele é filho da liderança Bernaldina José Pedro, a avó Bernaldina, que faleceu em junho de 2020, vítima de Covid-19.

Exemplo de resistência da cultura Makuxi, vó Bernaldina foi recebida pelo Papa Francisco, em 2018, quando entregou uma carta denunciando o interesse do Governo em reverter a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Conversamos com Jaider Esbell sobre a urgência em proteger o território amazônico para a manutenção da humanidade e relembramos a trajetória de Vó Bernaldina.

Portal Amazônia: Como aproximar a sociedade e chamar atenção para a urgência de defender a Amazônia, não só para povos indígenas, não só para Amazônia, mas para o mundo inteiro?

Jaider Esbell: Eu acredito que a sensibilização na educação seja a forma mais eficiente de fazer com que o brasileiro comum crie uma consciência da importância da preservação das áreas naturais que hoje coincidem com as áreas indígenas ou áreas que estão sendo requisitadas pelos indígenas. Que eles entendam que a existência dos povos indígenas está diretamente relacionada com a qualidade de vida que a gente ainda tem e que, sem esses territórios, sem essas populações vivendo por lá, as questões s globais se aceleram, como o próprio aquecimento global sendo reflexo de toda essa forma de viver que é a agricultura, monocultura, enfim, o agronegócio e o arrasamento da vegetação natural dessas regiões.

Então, acredito que a forma melhor da gente buscar apoio é formando uma consciência pública, política e social mais definida sobre a existência desses povos, da importância deles para manutenção do território e os benefícios que eles prestam, indiretamente ou diretamente, para toda a humanidade, para todo o globo.

Portal Amazônia: Quando um ancião indígena morre é como se perdêssemos uma biblioteca viva. Conte um pouco sobre a trajetória de militância da Vó Bernaldina em defesa da Amazônia.

Jaider Esbell: A Bernaldina é uma dessas mestras levadas pela covid, ela vinha aqui da região Norte, mas especificamente da Raposa Serra do Sol e do Maturuca, que é o coração político da nossa luta. Ela deixa um vazio muito grande porque ocupava um lugar de destaque mesmo. Por ser uma mulher, ser uma idosa e uma mestra, ela reunia várias habilidades e aplicava isso na política da resistência.

A Bernaldina vinha liderando há muito tempo um movimento encorajando a juventude, os próprios Tuxauas que são, geralmente, mais jovens, servindo de exemplo e entregando sua vida e sua força em defesa do território.

Ela tem essa trajetória muita bem narrada e deixada aqui nas regiões das serras, mas não só, até em Boa Vista ela passa também fazendo seu trabalho, avança pelo Brasil com suas habilidades artísticas e acaba ganhando o mundo quando ela vai ter um encontro com o Papa, em 2018, lá no Vaticano, também fazendo a mesma coisa que ela já faz aqui no meio do seu povo, levando a militância, a voz e a força dos povos da floresta.

É uma perda muito grande, embora ela tenha deixado muito do seu conhecimento registrado em livros, vídeos, gravações, filmes que acabam imortalizando a sua trajetória e esperamos que a juventude, os mais novos, nós mesmos que estamos vivos consigamos dar seguimento ao trabalho que ela gostava muito que era propagar e manter sempre viva a cultura do povo Makuxi especialmente como um povo forte, guerreiro e fundamental para o Brasil.

Portal Amazônia: A arte é um instrumento de transformação social e cultural. Como podemos evidenciar a arte como um elemento de defesa da Amazônia?

Jaider Esbell: A arte deve vir reforçada com todos os argumentos que já se conhece. Eu acredito que trabalhar essas questões e importante dentro de um ambiente educativo, conscientizador e não meramente especulativo e de sensacionalismo. A gente tem que achar um meio termo de encontrar esses esforços, colocar a arte que provoca esse pensamento, com uma espécie de tecnologia também pra compor essa reflexão. Que gere uma ação e alguma mudança propriamente dita na forma de conduzir os processos.

Fazer com que as novas gerações cobrem, reivindiquem cada vez mais do sistema político, que a nossa geração tem deixado falho, essa cobrança, essa exigência que esses governos façam de fato a grande mudança. Precisamos levar isso para essas futuras gerações, que serão, de fato, as afetadas diretamente pela grande crise que está chegando. 

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