Conheça a história do demônio dos sonhos: Jurupari, o Deus do Sol

A figura folclórica pode aparentar várias formas, conforme a região onde a lenda é contada. 

Uma das figuras mais faladas do folclore amazônico é o Jurupari. Originário do Tupi, o nome possui mais de um significado, tendo como suas definições “boca; tirar da boca” ou “aquele que vem a nossa rede”, em alusão a sua história como o demônio do pesadelo.

Jurupari pode aparentar várias formas. Conta-se que o deus seria um homem de boca torta que está sempre rindo ou uma grande cobra com braços. Em outras regiões, pode ser um homem sábio, um bebê invisível ou somente uma presença divina.

Foto: Reprodução / Eduardo Arruda

A figura também é parte da lenda do guaraná, no qual, por inveja de um pequeno indígena, que era estimado em toda a tribo, acabou se transformando em serpente e matando a criança.

As histórias a respeito desse ser mitológico se misturam e são ao menos duas: 

O demônio dos sonhos

Na versão mais conhecida, Jurupari é o deus da escuridão e do mal, que visita os indígenas em sonhos, deixando as vítimas assustadas ao causar pesadelos e presságios ruins. Durante o sonho, a pessoa é impedida pelo deus de gritar, causando asfixia.

Essa versão foi estimulada e contada pelos jesuítas como a personificação do próprio mal, descaracterizando as crenças indígenas sobre a entidade divina. 

O Filho do Sol  

Em outra versão, Jurupari era filho de uma indígena chamada Ceuci, uma virgem que acabou tendo um filho a partir de um milagre. Um dia, Ceuci descansava na sombra de uma árvore, a árvore do bem e do mal, onde o consumo de suas frutas eram proibidas às moças no dia que estivessem em período fértil.

Ceuci ao perceber os frutos, acabou comendo um e ao morder, o caldo do fruto escorreu pelo seu corpo nu, alcançando o meio de suas coxas, fecundando-a. Meses depois, a gravidez foi descoberta, o que causou indignação de toda a comunidade da aldeia e acabou sendo exilada por decisão do Conselho de anciões.

Distante da aldeia, Ceuci deu a luz ao seu filho, Jurupari, ‘o filho do sol’, e foi enviado à terra pelo próprio sol, para que pudesse reformar os costumes da terra e encontrar a mulher ideal para que ele pudesse se casar. Lembra outra história?

Foto: Reprodução / Naomi Covacs

Com apenas sete dias de vida, Jurupari já aparentava ter 10 anos e seu conhecimento chamou a atenção de todos, que passaram a ouvir suas palavras e ensinamentos de novos costumes, que ameaçavam a sociedade matriarcal e instituía o patriarcado. Jurupari realizou festas cerimoniais, onde somente os homens podiam participar e aproveitava para passar os seus ensinamentos, o que acabou afastando ele de sua mãe.

Inconformada pelos ideais e por saudade do filho, Ceuci resolveu espiar em uma noite o cerimonial dos homens, ação que era considerada proibida, e a punição seria a pena de morte. 

Furtivamente, ela entrou no território onde os homens estavam reunidos, mas antes do fim da cerimônia, Ceuci acabou sendo atingida por um raio enviado por Tupã. 

Em diferentes versões, supostamente o raio teria sido enviado por Jurupari, sem saber que era sua mãe. Ao se deparar com a situação, o ‘filho do sol’ foi chamado para ressuscitar sua mãe, mas não fez, pois não podia abrir exceções em suas leis. Jurupari então disse:

“Morreste mãe, porque desobedeceste à lei de Tupã. É a lei que eu vivo a ensinar, não vou te ressuscitar, mas te recomendo: Sobe, bela, radiante e pura para um mundo melhor. Cumpriste a verdadeira missão de mãe, que é cheia de amor, renúncia, desenganos e sofrimento. Meu pai irá recebê-la de braços abertos lá no céu”.

Cheio de luz, o corpo da agora considerada deusa começou a subir, atravessando o espaço e transformou-se na estrela mais resplandecente da constelação das Plêiades, permanecendo lá até os dias de hoje, como lembrança da importância de respeitar às leis de Jurupari, o ‘Filho do Sol’.

E aí? Conhece mais alguma versão da lenda?


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