Descobertas desde 2011, as espécies são encontradas, em sua maioria, na beira dos rios amazônicos.
Dados da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mostram que a bacia amazônica concentra a maior diversidade de peixes de água doce do mundo, com cerca de 2.257 espécies descritas até 2019. Estima-se que esse número seja 15% das espécies que são conhecidas pela ciência do total conhecido para o hábitat de água doce em todo o mundo.
Muito utilizado na culinária regional, entre os mais conhecidos no Amazonas, por exemplo, estão o tambaqui e o jaraqui, iguarias para quem deseja conhecer a Amazônia.
Mas você sabia que na região existem peixes transparentes? O Portal Amazônia listou algumas das espécies descobertas por pesquisadores desde 2011:
Cyanogaster noctivaga
Em meados de novembro de 2011, durante uma expedição de 15 dias no município de Santa Isabel do Rio Negro, a 846 quilômetros de Manaus, no Amazonas, ocorreu a captura de um peixe transparente denominado Cyanogaster noctivaga. Com dois centímetros de comprimento, o animal nunca havia sido identificado na literatura científica, de acordo com a líder da expedição, a bióloga Manoela Marinho.
O objetivo do grupo era capturar peixes de pequeno porte. Os pesquisadores se deslocavam para diferentes áreas do Rio Negro, no município de Santa Isabel. Só foi possível capturá-los em grande parte à noite, por conta disso, foi constatado que o peixe possui hábitos noturnos.
Devido às suas características, foi catalogado e denominado como Cyanogaster noctivaga, em referência à coloração e aos hábitos do peixe. Enquanto o primeiro nome “Cyanogaster” significa “estômago azul”, “noctivaga” faz menção ao “vaguear noturno” da espécie.
Para capturar um peixe com 2 centímetros de comprimento e corpo transparente, o grupo de pesquisadores coletou amostras em diferentes locais e habitats nos arredores do município.
Segundo o ictiólogo alemão Ralf Britz, uma noite os pesquisadores jogaram uma rede perto de uma praia rochosa e notaram um número de pequenos peixes transparentes nadando rápido. “A luz das nossas lanternas foi refletida pelos peixes e fez com que os seus corpos ganhassem uma cor azul brilhante. Naquele momento, vimos que tínhamos encontrado algo diferente”, relatou na época.
Priocharax nanus
Com 15 milímetros de comprimento, o Priocharax nanus foi encontrado pela mesma equipe da descoberta do Cyanogaster noctivaga. E também na região da Santa Isabel do Rio Negro.
O peixe possui características consideradas únicas, como a forma larval da nadadeira peitoral. O animal tem ainda mais raios na nadadeira pélvica e a presença de ossos que não existem em outras espécies.
O Priocharax nanus apresenta um colorido em vida bem característico, com várias faixas verticais escuras no corpo, pintas pequenas alaranjadas espalhadas pela cabeça, corpo e nadadeiras, envolto sobre um corpo transparente. A espécie tem aproximadamente 15 milímetros de comprimento.
Ammoglanis obliquus
No final de agosto de 2019, uma bióloga juntamente com mais dois amigos, realizou uma expedição de quase um mês pela Amazônia, com o objetivo de estudar o candiru, quando estavam passando por uma estrada vicinal em Rio Preto da Eva (município que fica à 78 km de Manaus) e encontraram um banco de areia em um igarapé que não estava entre os locais programados para coletas de peixes. Eles decidiram averiguar o local.
Ao jogarem a rede, “de primeira” acabaram encontrando os peixes do gênero Ammoglanis, bagres minúsculos e semitransparentes, para os quais não havia registro de espécies naquela região.
A espécie cresce até no máximo 1,5 cm e se diferencia de outros peixes do gênero por quantidade e formato de ossos, dentição e número e localização de nadadeiras. O padrão colorido, com diversas manchinhas espalhadas por todo o corpo, só é visto em outro Ammoglanis, o Ammoglanis pulex, encontrado na bacia do Rio Orinoco, na Venezuela.
Ao final de fevereiro, a bióloga Elisabeth Henschel publicou, junto a um grupo de pesquisadores do Laboratório de Sistemática e Evolução de Peixes Teleósteos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a descrição do Ammoglanis obliquus no periódico Zoosystematics and Evolution.
Crystal Tetra (Protocheirodon pi)
Encontrado recentemente em Rondônia, o Protocheirodon pi é mais conhecido como Crystal Tetra. É um peixe bem pequeno, chegando a aproximadamente 4 centímetros, e vive em locais que são de ‘água branca’, com a presença de sedimentos, nas margens do rio.
Um estudo publicado em 2016 pelos pesquisadores Richard Vari, Bruno Melo e Claudio Oliveira mapeou os lugares onde o Protocheirodon pi é encontrado. Os principais ficam nas partes central e oeste da bacia amazônica, como os rios Amazonas, Solimões, Purus, Madeira e Ucayali.
Uma das suas características que mais chamam atenção está no seu corpo translúcido e uma bexiga natatória estendida no corpo, que remete a letra grega ‘pi’.
Ele se alimenta principalmente de insetos e sementes que caem no rio. Outro aspecto interessante da espécie é que os machos e as fêmeas são idênticos. Por esse motivo, só é possível identificá-los através da dissecação.