Com o rompimento das relações diplomáticas com os países do eixo, imigrantes alemães, japoneses e italianos passaram a ser perseguidos
No ano de 1942, o Brasil cortou relações com os países do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. A partir disso, os imigrantes alemães, italianos e japoneses foram aprisionados em 11 campos de concentração espalhados pelo Brasil. O objetivo era impedir que os imigrantes agissem como agentes infiltrados para seus países de origem.
O único campo de concentração localizado na região amazônica, Tomé-Açu, aprisionou cerca de 480 famílias de japoneses, 32 de alemães e alguns italianos, vivendo sob regras rígidas dentro do campo.
“O Brasil, muito pressionado pelas relações externas, fez ações de contenção dos ‘inimigos de guerra’, que eram os estrangeiros do Eixo – os alemães, italianos e japoneses”, explica Priscila Perazzo, professora e pesquisadora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e autora de Prisioneiros da guerra: os “súditos do Eixo” nos campos de concentração brasileiros.
Até o ano de 1942, a colônia japonesa localizada no estado do Pará, criada por imigrantes por meio da Companhia Nipônica de Plantação (Nantaku) e da Cooperativa Agrícola do Acará, ficava abeira do rio Acará, há 200km da capital, Bélem. Rodeada pela floresta amazônica, e acessível somente por via fluvial, a comunidade japonesa que se formou em torno da Nantaku e da Cooperativa era uma candidata ideal para sediar um desses campos. Em 17 de abril de 1942, os japoneses perderam o direito aos seus bens, por meio de uma declaração de caducidade, e a vila às margens do rio Acará foi isolada. Nascia o Campo de Concentração de Tomé-Açu.
Boa parte das 49 famílias que viviam na região, à época, eram de agricultores, e tinham pouco conhecimento sobre os combates que ocorriam em sua terra natal. Mesmo assim, foram considerados “prisioneiros de guerra”, termo geralmente usado para militares apreendidos em combate, mas que, naquele momento, também foi usado para civis.
A colônia de imigrantes passou a ser isolada e fazer parte do perímetro do campo. Casas, o hospital e outras construções comunitárias foram, do dia para noite, subordinados ao poder do Estado. Muitos dos imigrantes forçados a se deslocar não eram obrigados a ficar reclusos em celas, porém também não tinham onde se alojar ou se alimentar.
Rotina do campo de concentração
A rotina do campo de Tomé-açu era baseada em privações, como o confisco de bens dos imigrantes. Livros, aparelhos de rádio, armas e embarcações foram levados por autoridades brasileiras, que, por vezes, usufruiam desses bens em benefício próprio. O governo brasileiro tinha como preocupação, a comunicação dos imigrantes com o mundo exterior. Por conta disso, correspondências eram censuradas nas agências de correio de Belém e não era permitido que os habitantes do campo se comunicassem uns com os outros.
“As pessoas eram vigiadas diariamente pelas forças policiais locais para não se comunicarem umas com as outras. Caso fossem pegas com tal prática, seriam penalizadas”, explica Elton Sousa, professor e pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coautor do livro e documentário Por terra, céu e mar: histórias e memórias da Segunda Guerra Mundial na Amazônia.
Além das restrições de locomoção e de comunicação, os imigrantes se dedicavam à subsistência do campo, de acordo com normas de trabalhos braçais estipuladas pelo governo. O campo também sofria com o racionamento de energia e, às 21h, soava o toque de recolher.
O campo de concentração de Tomé-Açu foi mantido até 1945. Com o fim da guerra, esse e outros locais semelhantes que funcionavam pelo Brasil foram extintos. Os ex-prisioneiros foram libertados e muitos deles tiveram que recomeçar a vida a partir do zero. A região só se recuperou economicamente após o conflito, quando, impulsionada pelos imigrantes japoneses, chegou a se tornar a maior produtora mundial de pimenta-do-reino.
Com informações da BBC News Brasil