Anuário de descobertas de insetos inédito no Brasil é fundamental para conservação, assegura entomologista

A compilação registrou um total de 680 novas espécies brasileiras de insetos descritas em 2020, classificadas em 245 gêneros, 112 famílias e 18 ordens. A ordem com mais espécies descritas foi a que compreende os besouros.

Do grego entomon (inseto) e logos (estudo), a palavra entomologia significa “estudo dos insetos” e basicamente consiste em uma área da biologia dedicada a estudar as características dos insetos, além da relação que estabelecem entre si, com o ser humano, com outros animais e com o meio ambiente no geral.

A entomologia tem relevante importância para sociedade uma vez que possibilita conhecimentos na medicina e na agricultura. Ao conhecer fatores como a morfologia e fisiologia dos insetos é possível entender mais sobre a prevenção de doenças do sistema imunológico além da produção de alimentos, como mel e corantes, e até em procedimentos estéticos.

Nesse sentido, foi publicado um compilado anual sobre hexapoda no Brasil. O anuário foi elaborado por uma equipe de 75 autores, a maioria bolsistas de doutorado e de pós-doutorado de várias partes do país. 

O Portal Amazônia entrevistou o principal autor do artigo, o entomologista Alberto Moreira Silva Neto, que explica alguns pontos das novidades na área. Confira:

Foto: Lucas Batista/Inpa

A publicação

O Anuário registrou um total de 680 novas espécies brasileiras de insetos descritas em 2020, classificadas em 245 gêneros, 112 famílias e 18 ordens. A ordem com mais espécies descritas foi Coleoptera, que compreende os insetos mais popularmente conhecidos como besouros, seguida da Hymenoptera, representada por abelhas, marimbondos, mamangavas, vespas e formigas.

Outras ordens de espécies, como Hemiptera (cigarras, percevejos, pulgões e cochonilhas) e dípteros (moscas, mosquitos, varejeiras, pernilongos, borrachudos e mutucas) também tiveram espécies novas descritas.

As espécies foram publicadas em um total de 219 artigos com 423 autores diferentes residentes em 27 países, com 73% de autores residentes no Brasil. Em relação ao número de autores por espécie, a maioria das espécies novas teve dois autores e o máximo foi de cinco autores por espécie. 

Importância 

O principal autor do compilado, Alberto Silva Neto pontua a importância do material: 

“Os resultados precisos e inéditos deste artigo trazem à tona de forma quantitativa e qualitativa o esforço da taxonomia brasileira na descoberta de novas espécies de insetos de um determinado ano (2020) e serão fundamentais para gerar suporte para decisões mais precisas sobre financiamento público para estudos sobre novas espécies, visando diminuir o abismo da falta de conhecimento sobre os insetos no Brasil que atualmente, segundo estimativas, possui menos de 30% de diversidade de insetos conhecida”,

relatou ao Portal Amazônia.

Pseudosympycnus bickeli, nova espécie de mosca descrita em 2020. Foto: Alberto Silva Neto/

Além disso, o pesquisador destaca que conhecer essas espécies é fundamental para a preservação da biodiversidade e comenta acerca do conhecimento de trabalhos nessa área.

“É fundamental o conhecimento acerca do esforço de trabalho que está sendo desenvolvido pelos cientistas para descrever e mapear as novas espécies de insetos brasileiras. O destaque deste trabalho é que ele é inédito, pois nenhum registro anual da descoberta e descrição de novas espécies de insetos já foi realizado antes para o Brasil”,

afirmou o entomologista.

A escolha pela entomologia

Graduado em ciências biológicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em ecologia e biomonitoramento pela mesma instituição e doutor em entomologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Neto conta que desde a infância gostava dos insetos. 

“Desde pequeno eu gostava muito de brincar com saúvas, ficava colocando trilha na comida das saúvas e os insetos sempre me chamaram muita atenção porque a qualquer lugar que você olhe, até dentro da sua casa você encontra insetos.[…] Eu sempre tive um fascínio pelos insetos, eu já entrei na escola sabendo que quando eu entrasse na graduação eu queria ser biólogo e queria estudar insetos”, contou.

Foto: Acervo pessoal/Alberto Silva Neto

Ao longo de sua carreira e contribuição científica, além de algumas descobertas, colegas de Alberto o homenagearam na descrição de algumas espécies. Uma delas é o caso da Esperança, um tipo de inseto nomeada como Capiguara albertoi

Nova espécie de Esperança nomeada em homenagem à Alberto. Foto: /Acervo pessoal

Tem também a Dinelytron betinho, uma nova espécie descrita em 2020 também em homenagem ao pesquisador: 

Dinelytron betinho, nome dado em homenagem à Alberto. Foto: Alberto Silva Neto/Acervo pessoal

Instituições 

O Inpa está na terceira posição entre as instituições brasileiras que mais publicaram sobre novas espécies de insetos descritas em 2020, com 149 autorias, atrás apenas da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Paraná (UFPR). Esse resultado contribui para situar o Amazonas no terceiro lugar entre os Estados brasileiros com maior número de autorias.

Foto: Divulgação

Disparidade de gênero

Apesar da visível relevância do artigo, Neto relata que dos mais de 400 autores, apenas 30% são mulheres, o que realça uma disparidade em relação aos gêneros e mostra que muito do conhecimento científico produzido em grande escala é produzido ainda por homens, o que pode estar relacionado ao acesso à ciência desde o ensino básico.

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