Consequências da seca extrema no viver ribeirinho e no trabalho dos barqueiros

Toda essa problemática compromete a qualidade de vida e a segurança das populações ribeirinhas.

As comunidades ribeirinhas de Porto Velho sofrem com a seca extrema e histórica. A última registrada em proporção similar se deu em 2006. Vive-se um momento de intensas ondas de calor, mormaço e que afeta a qualidade de vida dos moradores, principalmente de crianças e idosos ocasionando problemas respiratórios.

E nessa época as condições adversas pioraram para quem vive de forma esparsa no espaço ribeirinho. A seca extrema tem impactado não somente a população, mas a fauna da região. Alguns problemas se intensificaram, os quais são destacados ao longo do texto, tais como:

Bancos de areias surgem devido a seca do rio Madeira. Foto: Thiago Frota/ Rede Amazônica

A mobilidade se tornou mais difícil no interior da Amazônia. O direito de ir e vir ficou comprometido, tendo em vista que a navegação ficou parcialmente prejudicada, não passando embarcações diariamente e as condições de navegabilidade se tornaram desafiadoras, mais difíceis porque os perigos estão embaixo d’água, sendo encontrados no rio Madeira paliteiros, pauzadas, praias de arrôto, pedrais (afloramentos rochosos) e animais em seu habitat, como jacarés, cobras, arraias, candirus e outras espécies carnívoras.

Além disso, a chegada das chuvas torrenciais em forma de temporais causadores do medo para quem navega, pois a visibilidade fica comprometida à noite por conta das chuvas e neblinas, o que poderá contribuir para os acidentes no rio. Por exemplo, a força dos ventos joga uma embarcação contra outra embarcação e até mesmo contra os pedrais.

As praias extensas também dificultam a mobilidade no interior da Amazônia, uma vez que os moradores precisam se deslocar em busca de assistência médica, comprar a cesta básica, visitar parentes ou receber seus salários ou benefícios do INSS. A distância gera muito mais sofrimento para quem precisa caminhar por longas faixas de terra.

Essas praias, estando nas proximidades dos barrancos íngremes e no canal do rio, dificultam a passagem de grandes embarcações e facilita os encalhes, batidas o que atrasa ainda mais uma viagem nos rios amazônicos.

Outro problema enfrentado pelos ribeirinhos é quanto a água potável, os poços secam e impactam seu viver e a situação da mudança climática evidencia a falta de ações concretas em prol dessas comunidades atingidas diretamente por este evento extremo.

Rio Madeira: seca histórica em Porto Velho em 2023. Foto: Reprodução/Rede Amazônica

A situação agrava ainda mais ao falar de frete, transporte de mercadoria, sendo observado o aumento dos valores da cesta básica em decorrência da dificuldade da navegação, o vencer as longas distâncias para entregar uma mercadoria nas localidades mais isoladas nessa época da seca.

Toda essa problemática compromete a qualidade de vida e a segurança das populações ribeirinhas. É importante reforçar a necessidade de orientações e informações para a prevenção de acidentes nos rios, sendo necessária uma educação geográfica voltada à navegação no espaço ribeirinho e que possa ser inserida nos currículos escolares.

Sem dúvida, as ações mobilizadoras nesse momento contribuirão para a conscientização da população ribeirinha a respeito dos impactos da seca em seu cotidiano, no trabalho dos barqueiros do rio Madeira e na segurança da navegação.

A proteção aos moradores e profissionais da navegação deve ser efetivada para que os mesmos consigam se proteger e agir diante dessa situação extrema de seca na Amazônia.

Que esta experiência de Olhar Amazônia com pertencimento possa ser multiplicada para a definição de campos possíveis de ação nas políticas públicas destinadas às populações tradicionais. Continue nos acompanhando e envie suas sugestões no e-mail: lucileydefeitosa@amazoniaribeirinha.com 

Sobre a autora

Lucileyde Feitosa é professora, Pós-Doutora em Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho/Portugal), Pós-Doutora em Geografia pela Universidade do Minho/Portugal, Doutora em Geografia/UFPR, Integrante do Movimento Jornalismo e Ciência na Amazônia e colunista do portalamazonia.com.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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