Causas históricas de naufrágios no olhar dos profissionais da navegação

O barco continua sendo o principal meio de transporte utilizado na Amazônia

Viajar na Amazônia significa ter a oportunidade de conhecer lugares, culturas, gastronomia, biodiversidade existente, partilhar histórias e essa experiência acaba sendo um grande aprendizado de vida. O barco continua sendo o principal meio de transporte utilizado na Amazônia e possibilita vivenciar lugares, compartilhar saberes e aprendizados diversos.
Barcos recreios na Amazônia – Foto: Reprodução internet

Entretanto, é muito importante o passageiro saber se prevenir de possíveis acidentes nos rios e aproveitar bem a viagem. Por isso, conhecer algumas causas históricas relacionadas aos naufrágios na Amazônia, na visão dos profissionais da navegação, pode ajudar a realizar uma viagem com mais tranquilidade, confiança e segurança.

Essas causas dizem respeito aos acidentes e naufrágios vivenciados no rio Madeira e podem ser aproveitadas também para a compreensão de outros rios da região amazônica, podendo variar desde a mudança de canal, questões de visibilidade, obstáculos naturais quanto a outros fatores (falta de educação preventiva, superlotação de passageiros e excesso de carga, falta de manutenção adequada às embarcações, consumo de bebida alcoólica e inexperiência da tripulação).

As possíveis causas desses acidentes e naufrágios ocorridos evidenciam situações peculiares, fragilidades no transporte de passageiros e cargas, falta de investimentos públicos e invisibilidades sociais relacionadas à importância do transporte fluvial de passageiros e cargas para a população ribeirinha na Amazônia. 

O conhecimento dessas causas nos leva a perceber a navegação praticada no rio Madeira, suas singularidades, desafios, medos e chamando atenção para melhores investimentos públicos no transporte fluvial de passageiros e cargas:


  • Superlotação de passageiros e excesso de cargas;
  • Mudança de canal e obstáculos naturais: bancos de areia, afloramento rochoso (pedral) e os tocos/pauzadas (paliteiros). Quando a embarcação bate em um desses obstáculos é arriscada ao tombamento e possibilidade de naufrágios. O barqueiro Claudinei diz:

O que me causa medo no rio Madeira são as pedras que geralmente a gente tá em comboio de balsa, quando bate no comboio desse aí, os cabos de aço voam que nem se fosse um palito de dente, quebra de uma forma onde tá pegando mesmo ou coisa assim, geralmente acontece um acidente, se a pessoa tiver ali na frente na hora…”. 

  • Falta de manutenção adequada às embarcações: os barcos recreios são construídos com madeira, de forma artesanal em oficinas (Carreira) e estaleiros às margens dos rios. A alegação da falta de manutenção adequada se dar pela dificuldade de acesso a estaleiros próximos a Porto Velho, até a saída da embarcação da cidade provocaria a descontinuidade na prestação de serviços aos passageiros;
  • Falta de visibilidade advinda de riscos ambientais: queimadas, cerração, nevoeiro, há problemas de acuidade visual dos próprios barqueiros, sendo aspectos relevantes para quem pilota alguma embarcação. Problemas de vista ou cansaço visual podem interferir na segurança da navegação.
  • Inexperiência da tripulação: quando se refere à falta de experiência da tripulação não se trata da competência profissional, uma vez que são habilitados pelo órgão competente, mas do desconhecimento do rio, sendo esse olhar prático que identifica bem as passagens perigosas, o canal que mudou, entre outros obstáculos;
  • Intempéries: causam medo, temor quando o barco está navegando, pois, a intensidade dos ventos pode chegar da maneira repentina e pegar a tripulação desprevenida. Essas intempéries são as tempestades rápidas e violentas e têm sido perigosas à navegação por causa da redução da visibilidade, os ventos são fortes e podem chegar a virar o barco, caso não dê tempo atracá-lo à beira de algum rio.  
Situação de naufrágio – Foto: Reprodução internet

A força dos ventos e dos banzeiros joga a embarcação contra o pedral, contra outros barcos e nesse momento exige atenção e responsabilidade redobrada de quem pilota o barco. Por exemplo, na hora de um temporal os passageiros evidenciam seus medos, ficando apavorados, principalmente os que estão acompanhados de crianças e idosos.

Os temporais no rio Madeira são considerados perigosos pelo ribeirinho porque ocorrem situações em que, estando no meio do rio pescando, vem de repente o temporal e costuma alagar a canoa, chegando virá-la repentinamente.

  • Falta de educação preventiva: a informação faz parte do exercício da cidadania e seria muito importante que essa educação voltada à navegação fosse mais reforçada pelos órgãos públicos fiscalizadores atuantes nesta área junto às escolas ribeirinhas para fomentar uma base educacional para a prevenção de riscos e acidentes na navegação no rio Madeira;
  • Consumo de bebida alcoólica: o consumo de álcool na embarcação é um fator de risco, principalmente em situação de emergência, apesar de ser proibida para a tripulação.
Interior do barco recreio – Foto: Lucileyde Feitosa

O direito à informação faz parte do exercício da cidadania, sendo de extrema importância que a tripulação do barco forneça todas as orientações necessárias aos passageiros quanto à utilização dos equipamentos de salvatagem (coletes salva-vidas e outros) e que os órgãos de fiscalização organizem campanhas educativas, cartilhas de orientações, vídeos, áudios aos passageiros para que tenham acesso às orientações essenciais de segurança e preveni-los de possíveis riscos e naufrágios. A comunicação ajuda a salvar vidas e garante uma viagem com mais segurança e experiências fascinantes!

Que esta experiência de Olhar Amazônia com pertencimento e justiça social possa ser multiplicada para a definição de campos possíveis de ação nas políticas públicas destinadas às populações ribeirinhas. Continue nos acompanhando e envie suas sugestões no e-mail:

Lucileyde Feitosa

Professora, Pós-Doutoranda em Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho/Portugal), Doutora em Geografia/UFPR, Integrante do Movimento Jornalismo e Ciência na Amazônia e colunista da Rádio CBN Amazônia/Porto Velho.

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