Castanha-do-brasil: sabores, tradições e cuidados

É preciso promover cada vez mais a adoção de boas práticas que possam oferecer mais segurança e manutenção dessa atividade tradicional que fortalece a identidade dos povos da floresta.

A prática do extrativismo em área ribeirinha requer conhecimento, diálogos e transmissão de saberes locais. No convívio do homem com a floresta há uma relação de aprendizado, sobrevivência, respeito e cuidados.

Os perigos existem no espaço amazônico e a população ribeirinha precisa conhecer e dominar técnicas tradicionais na prática de qualquer atividade extrativista. Por exemplo, a coleta da castanha-do-brasil requer cuidados especiais, sendo que acidentes podem acontecer porque os ouriços pesam em média 500 gramas, os quais costumam cair de uma altura de até 50 metros e podem ocasionar graves ferimentos até óbito nas pessoas não conhecedoras dessa atividade sustentável.

A comunicação e orientações ajudam a salvar vidas no interior da Amazônia, no sentido de evitar riscos de acidentes e garantir a segurança dos coletores e visitantes no acompanhamento dessa atividade tradicional.

Além de ser um trabalho perigoso, caso haja desatenção do coletor, se torna mais difícil em razão das longas distâncias e dificuldades de acesso por parte dos profissionais de saúde para prestarem os procedimentos básicos de primeiros socorros.

Ouriço e castanhas. Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

Castanhal

O Castanhal é o local composto por muitas castanheiras que podem ter entre 60 a 70 ouriços e situa-se em terra firme, cuja copa da árvore abriga diversidade de animais. “Suas copas servem para a morada de muitos animais, tais como: quatipuru, animal que adora roer os ouriços tanto nas árvores quanto no chão”, afirma o amazonense e artesão Evandro Pires.

Frutos da castanheira. Foto: Reprodução/Globo Rural

Os moradores mais antigos das comunidades ribeirinhas alertam para o perigo de passar embaixo das castanheiras porque caem muitos ouriços e podem causar acidentes fatais como já ocorridos. No cotidiano amazônico, esses acidentes acontecem, mas de forma isolada e não chegam a ser divulgados.

A coleta das castanhas deve ser feita durante a safra para encurtar o tempo dos ouriços no chão, considerando os aspectos da contaminação, apodrecimentos e animais que podem roer os ouriços como quatipuru e paca, assim como as perdas na produção extrativista.

Os coletores juntam os ouriços fora do alcance da copa da castanheira para evitar acidentes e em seguida são colocados em paneiros (cestos pendurados nas costas para carregar os frutos) e são feitos com fibras de envira por serem fortes e resistentes.

A coleta dos ouriços. Foto: Maurício de Paiva

Tanto as castanhas quanto os ouriços são bem aproveitados. As amêndoas fazem parte da base alimentar de uma família ribeirinha e também são vendidas nas feiras livres e mercados nas cidades amazônicas.

As famílias ribeirinhas aproveitam muito na culinária a castanha-do-brasil em vários pratos: ensopado de peixe na castanha, tapioca com castanha ralada, castanha com café e farinha, bolo com castanha, pé de moleque com massa puba, ensopado com caça no leite da castanha, de acordo com a massoterapeuta Maria da Glória.

Além da alimentação, o ouriço costuma ser aproveitado como carvão para o fogão a lenha e também como matéria prima para os artesãos amazônidas.

Cuidados e equipamentos na coleta da castanha

Recomenda-se evitar se abrigar embaixo de castanheira quando ocorrer um temporal porque podem cair tanto galhos quanto ouriços, assim como raios que podem causar sérios danos aos coletores e/ou visitantes. Os temporais costumam ser intensos, rápidos e violentos.

É preciso promover cada vez mais a adoção de boas práticas que possam oferecer mais segurança e manutenção dessa atividade tradicional que fortalece a identidade dos povos da floresta. Não se pode achar que o perigo é normal, é importante incentivar ações educativas e preventivas para esta atividade essencial das populações ribeirinhas.

Quando os ouriços caem, recomenda-se atenção total para evitar passar embaixo da árvore. Outro cuidado especial é quanto aos animais peçonhentos (cobras, formigas etc), os quais podem estar em meio ao amontoado de ouriços, antes da realização da quebra dos mesmos. Entre o intervalo da organização dos ouriços e da volta para a quebra, esses animais peçonhentos podem ter se abrigados entre os frutos.

O terçado ou facão com a lâmina grande é utilizado para fazer o corte do ouriço que possui em média de 10 a 15 castanhas. Nesse sentido, o uso de luvas, botas e capacetes podem ajudar na prevenção de acidentes ligados aos ouriços, animais peçonhentos e manuseios do terçado.

Que esta experiência de Olhar Amazônia com pertencimento possa ser multiplicada para a definição de campos possíveis de ação nas políticas públicas destinadas às populações ribeirinhas. Continue nos acompanhando e envie suas sugestões no e-mail: lucileydefeitosa@amazoniaribeirinha.com

Sobre a autora

Lucileyde Feitosa é professora, Pós-Doutora em Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho/Portugal), Pós-Doutora em Geografia pela Universidade do Minho/Portugal, Doutora em Geografia/UFPR, Integrante do Movimento Jornalismo e Ciência na Amazônia e colunista do portalamaoznia.com e da Rádio CBN Amazônia/Porto Velho.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Projeto de cosméticos sustentáveis assegura renda de comunidades na Amazônia

O Projeto Cosméticos Sustentáveis da Amazônia é uma parceria público-privada que congrega 19 associações de produtores focadas na extração da biodiversidade amazônica.

Leia também

Publicidade