Taironas: um dos povos indígenas mais avançados da América pré-colombiana

Os vestígios mais conhecidos atribuídos aos taironas na Colômbia incluem centros com arquitetura de pedra, terraços agrícolas e sistemas hidráulicos.

Foto: Dwayne Reilander/Wikimedia Commons

Os taironas foram um conjunto de sociedades pré-colombianas que se desenvolveram nas encostas e planícies da Sierra Nevada de Santa Marta, no atual território da Colômbia, entre os departamentos de Magdalena, Cesar e La Guajira. A ocupação da região por populações sedentárias ou semissedentárias remonta a milênios, mas a formação cultural conhecida como “Tairona” apresenta evidências arqueológicas consistentes a partir do primeiro milênio e maior densidade populacional entre os séculos VIII e XVI depois de Cristo.

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As primeiras referências escritas sobre os indígenas taironas surgiram nos relatos coloniais do início do século XVI d.C., mas as evidências arqueológicas mostram ocupações sistemáticas em áreas costeiras e, posteriormente, em povoados montanhosos.

As populações taironas se organizaram em dezenas, possivelmente centenas de assentamentos, que iam desde a zona costeira até altitudes superiores a 1.200 metros. A redescoberta arqueológica de sítios como Pueblito e Teyuna, no século XX, reforçou a importância histórica dessa civilização.

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Os vestígios mais conhecidos atribuídos aos taironas incluem centros com arquitetura de pedra, terraços agrícolas e sistemas hidráulicos. Entre os sítios arqueológicos destacados está a chamada Ciudad Perdida (Teyuna, também conhecida como Buritaca-200), descoberta por moradores locais na década de 1970.

A cidade é datada aproximadamente entre os séculos VIII e XVI e é considerada mais antiga que Machu Picchu. Outras localidades costeiras e enseadas com ocupação prolongada, como Chengue, Neguanje e Buritaca, também concentram importantes achados cerâmicos e de metalurgia.

Cultura material: cerâmica, ouro e arquitetura

Foto: Rolf Müller/ Wikimedia Commons

A produção material tairona é marcada por cerâmica, complexos trabalhos em pedra e notável ourivesaria. Os artesãos trabalharam ligas de ouro e cobre (tumbaga) e produziram pendentes, máscaras e adornos corporais com a técnica da “cera perdida”.

O tratamento de superfície destacava o dourado do metal, conferindo grande valor simbólico e social aos objetos. As cronologias cerâmicas e metálicas mostram fases que vão de períodos anteriores a 200 a.C. até o final da presença pré-hispânica, com intensificação entre 900 e 1600 d.C.

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Organização social e modos de vida

Fontes arqueológicas e registros coloniais indicam que os taironas viviam em redes de povoados e chefias, com forte integração econômica regional. A ocupação incluía agricultura em terraços, cultivando milho, mandioca e outros produtos, além do manejo de recursos costeiros e rotas de trocas. O contato com os espanhóis no século XVI foi marcado por conflitos, levando parte da população a se refugiar em áreas mais altas da Sierra Nevada e ao abandono de muitos centros.

Descendentes e presença atual

Os povos que hoje habitam a Sierra Nevada de Santa Marta — Kogi, Arhuaco (Iku), Wiwa e Kankuamo — são considerados descendentes diretos das sociedades taironas. Essas comunidades vivem em territórios tradicionais, falam línguas do tronco chibcha e preservam práticas rituais, agrícolas e cosmologias próprias.

Foto de indígenas do povo Arhuaco (Iku) tirada em 2017. Foto: Kelly Tatiana Paloma/ Wikimedia Commons

Muitos sítios arqueológicos são vistos como sagrados, e há esforços conjuntos para preservar tanto o patrimônio cultural quanto o equilíbrio ambiental da região.

Costumes e aspectos rituais conhecidos

Estudos indicam que a vida tairona combinava práticas agrícolas, rituais ligados à natureza e produção de bens cerimoniais. A ourivesaria, os adornos corporais e representações simbólicas revelam papéis sociais diferenciados, com destaque para líderes rituais ou xamânicos.

As populações atuais herdeiras dessa tradição mantêm cosmologias que valorizam a proteção do território, os ritos de cuidado ambiental e a visão integradora entre humanos, montanha e mar.

Situação de preservação e arqueologia contemporânea

Desde a redescoberta de importantes sítios, foram criados parques nacionais e projetos de conservação. Ao mesmo tempo, problemas como o saque de peças, pressões econômicas e mudanças ambientais ameaçam a preservação do patrimônio. Pesquisas científicas e iniciativas de turismo controlado buscam conciliar proteção cultural e natural, além de respeitar os direitos dos povos descendentes.

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