Foto: Ronald Díaz/Conservação Internacional
Uma expedição científica realizada em Alto Mayo, bacia alta do rio Mayo, no norte da região de San Martín, no Peru, fez uma descoberta surpreendente: a descoberta de 27 novas espécies de fauna no coração da floresta amazônica, o que confirma que é um ecossistema de grande riqueza biológica. A descoberta causou surpresa e admiração no mundo.
Entre as descobertas mais surpreendentes feitas pela equipe, composta por cientistas da organização sem fins lucrativos Conservação Internacional e membros de grupos indígenas locais, estava um rato anfíbio com pés palmados e um peixe com cabeça redonda. O estudo foi desenvolvido em Alto Mayo, área que se estende dos Andes à Amazônia, “um mosaico complexo e diversificado de ecossistemas e comunidades locais”, segundo os pesquisadores.
A expedição científica, que faz parte do Programa de Avaliação Rápida da CI, durou 38 dias. Segundo a instituição, outras 48 novas espécies também podem ter sido encontradas, mas serão necessários mais estudos para determinar isso.
“Descobrir tantas novas espécies de mamíferos e vertebrados é verdadeiramente incrível, especialmente numa paisagem com tanta influência humana”, disse Trond Larsen, diretor sénior da Conservação Internacional.
Em relação ao rato anfíbio, a Conservação Internacional destaca que esta espécie semi-aquática vive num ecossistema conhecido como aguajeles, áreas pantanosas dominadas por palmeiras aguaje. O desmatamento para o cultivo de arroz, detectado em uma área designada como zona de recuperação de ecossistemas, ameaça o habitat único do rato.
Larsen afirmou que esta espécie, que provavelmente só vive em Alto Mayo, pertence a um grupo de roedores semi-aquáticos para os quais a maioria das espécies conhecidas são extremamente raras. Documentar até mesmo um único indivíduo “é uma grande conquista”, segundo o diretor.
Outra descoberta notável foi um sapo marrom escuro com um focinho longo pulando nas folhas, revelando brevemente uma barriga rosa brilhante.
Este sapo arlequim (Atelopus seminiferus), que já foi uma visão comum, agora é extremamente raro. Ao que tudo indica, de acordo com Larsen, ele nem deveria estar lá.
“Quase não pude acreditar”, acrescentou. “Este sapo não só está em perigo, mas esta espécie nunca foi encontrada tão abaixo na encosta da montanha. Foi a nossa primeira descoberta importante e um prenúncio de mais por vir”, disse ele.
Da mesma forma, foi descoberto um peixe com cabeça arredondada. Embora seja uma descoberta nova para a ciência, os indígenas Awajún que ajudaram na expedição já sabiam de sua existência.
Os cientistas que estudam peixes ficaram especialmente surpresos com sua cabeça alargada, algo que nunca tinham visto antes.
Os investigadores da Conservação Internacional dizem que as descobertas da expedição são a prova de que a natureza e as pessoas podem prosperar juntas, mas devem ser tomadas medidas agora para preservá-las.
“Sabemos muito pouco sobre a biodiversidade do planeta e estes ecossistemas guardam muitos mistérios”, disse Wily Palomino, biólogo da Conservação Internacional que fez parte da expedição. “Levaria 10 vidas para realmente entendê-los. Expedições como esta são apenas o começo”.
Um tesouro de descobertas
Durante a expedição, os pesquisadores cruzaram pântanos, lagoas e rios, escalaram montanhas até florestas nubladas e campos agrícolas. Enquanto isso, a equipe de 20 pessoas, incluindo guias indígenas e cientistas, coletou amostras, montou armadilhas fotográficas e redes e ficou atenta aos movimentos e sinais dos animais.
A equipe, formada por 13 cientistas e sete assistentes Awajún, registrou mais de 2.000 espécies de plantas e animais, incluindo 27 novas para a ciência e 49 que estão em perigo de extinção. Em particular, quatro das novas descobertas eram espécies de mamíferos.
Equipados com armadilhas fotográficas, sensores bioacústicos e outras tecnologias, eles exploraram até sete tipos de florestas em Alto Mayo, que vão de 570 a 2.230 metros acima do nível do mar, em busca de plantas, peixes, répteis, anfíbios, aves, mamíferos, borboletas e besouros.
No total, foram registradas 2.046 espécies, entre elas o camundongo anfíbio do gênero Daptomys, com dedos adaptados à água, e três novos anfíbios: um sapo-de-boca-estreita, outro do gênero Pristimantis e uma salamandra arbórea. Eles também encontraram oito peixes, 10 borboletas e dois escaravelhos. Outras 48 espécies aguardam análises que também possam confirmar sua novidade para a ciência.
Um besouro rola-bosta também foi encontrado. Esta espécie é normalmente encontrada apenas em florestas que não foram danificadas pela atividade humana, são indicadores de um habitat saudável. No entanto, lá estavam eles, no meio de uma floresta com cicatrizes claras onde os humanos haviam derrubado árvores, bem como plantações de café.
Da mesma forma, foi identificado um esquilo anão medindo apenas 14 cm, metade do comprimento do esquilo cinzento médio no Reino Unido. “Cabe facilmente na palma da sua mão. É adorável, tem uma linda cor marrom e é muito rápido”, disse Larsen.
*Com informações da Agência Andina