Linhas enigmáticas de Nasca possivelmente marcaram estradas e trilhas no Peru, aponta pesquisa

Cientistas japoneses descobriram 168 novos grandes geoglifos desenhados em encostas ou colinas de Nasca.

A função e o significado por trás das linhas de Nasca é um mistério que intriga os cientistas há décadas. Agora, um grupo de pesquisadores japoneses considera que poderia ter sido uma forma de marcar caminhos e trilhas. As linhas misteriosas são um conjunto de centenas de figuras geométricas de animais, pessoas ou plantas localizadas em um imenso deserto na região de Ica, ao sul de Lima (Peru), feitas pela cultura Nasca (séculos I-VII) e cuja função e significado permanecem obscuro.

Masato Sakai, pesquisador da Universidade de Yamagata (oeste do Japão), lidera um grupo dedicado ao estudo dessas linhas enigmáticas que já descobriu, com a ajuda de arqueólogos locais, imagens aéreas e drones, mais de 350 figuras desde 2004.

Foto: Reprodução/

Descoberta recente

A descoberta mais recente feita por esse grupo de pesquisadores foi divulgada em dezembro de 2022. Cientistas japoneses descobriram 168 novos grandes geoglifos desenhados em encostas ou colinas. “No total , encontramos 168 figuras: cerca de 50 humanos, além de pássaros, gatos, cobras e também muitas figuras lineares e trapezoidais”, disse Sakai.

Desde o início do projeto de pesquisa em 2004 — e desde 2010 no terreno —, os cientistas japoneses já encontraram 358 figuras (incluindo os da nova descoberta), que procuram proteger, mas também entender o objetivo com o qual eles foram criados. 

Figuras de tipo linear e tipo de relevo

Sakai explica que existem dois tipos de figuras, as do tipo linear (como o conhecido beija-flor) e que foram feitas removendo as pedras pretas superiores para revelar a terra branca abaixo; e do tipo relevo, que combinam várias dimensões para compor uma figura.

“As do tipo linear existem no início e no fim de caminhos retos e podem ser utilizadas para percorrer de um vale a outro que fica a cerca de 20 quilômetros de distância, enquanto as do tipo relevo ficam ao lado de caminhos que não são retos e tendem a ser desenhados em declive “, afirma.

Tradicionalmente algumas das hipóteses conjecturavam que as linhas de Nasca eram um grande calendário astronômico , outros especialistas acreditavam que eram figuras religiosas e alguns ufólogos que eram pistas de pouso para naves extraterrestres.

Foto: Reprodução/Universidade de Yamagata

Uma civilização sem letras 

Para o pesquisador japonês, o foco de interesse sempre foi as letras e alfabetos, então ele queria saber como essa civilização poderia se comunicar sem ter esses sistemas. “Eu me interesso por letras. Todo mundo usa alfabeto, mas na civilização andina não tinha essa forma de se comunicar, então queria saber como faziam. Meu interesse era uma civilização sem letras”, enfatiza.

Apesar de sua idade, essas figuras célebres não foram descobertas até a década de 1930 porque a planura da superfície do deserto só permitia que os desenhos fossem vistos em sua totalidade do ar ou de algumas colinas circundantes. As figuras mais representativas conhecidas são: aranha, macaco, beija-flor, condor, pelicano, gaivota, caracol, baleia, cobra e lhama.

Nova fronteira com inteligência artificial 

Quando os pesquisadores japoneses começaram o projeto, tinham principalmente fotos de satélite ou aéreas, mas nos últimos anos também conseguiram incorporar drones, o que ajudou a encontrar centenas de figuras. Desde 2019, eles também firmaram um acordo com a gigante da tecnologia IBM, cuja inteligência artificial (IA) poderia ajudar a revelar a localização de mais figuras e esta, por sua vez, descobrir outras hipóteses sobre seu verdadeiro significado.

“Ao conhecer a localização destas figuras podemos perceber qual foi a experiência destas pessoas ao transitar por estas zonas. É sempre uma hipótese, mas esperamos que com a IA possamos verificar se está correta ou apresentar uma melhor, que corresponda aos novos dados”, 

diz o especialista.

Encontrar todos os números, que segundo o especialista podem passar de mil, é fundamental para poder preservá-los tanto do clima quanto das atividades econômicas da região, como mineração ou agricultura.

“Para o povo de Nasca, os geoglifos são motivo de orgulho porque a cidade não é tão grande assim, mas muitas pessoas vêm ver as figuras. Quando encontramos novas, compartilhamos a informação com a população local porque sabemos que eles vão respeitá-los e defendê-los, pois é obra de seus antepassados”, finaliza a pesquisadora.
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