Disputa por ilha no rio Amazonas aumenta tensão entre Colômbia e Peru na tríplice fronteira

O conflito envolve a ilha de Santa Rosa, localizada na tríplice fronteira amazônica entre Brasil, Colômbia e Peru.

Foto: Reprodução/Governo do Peru

A disputa entre Colômbia e Peru pela posse de uma ilha formada no rio Amazonas ganhou novos contornos recentemente e passou de um impasse diplomático para movimentações militares. O conflito envolve a ilha de Santa Rosa, localizada na tríplice fronteira amazônica entre Brasil, Colômbia e Peru. A região, que já apresenta desafios geográficos e sociais, agora se tornou palco de embates políticos e estratégicos.

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Nas últimas semanas, militares peruanos foram enviados para reforçar a presença do país na ilha, em resposta às acusações do presidente colombiano Gustavo Petro, que afirma que Lima se apropriou de um território que não pertence oficialmente ao Peru. Ao mesmo tempo, as Forças Armadas da Colômbia reforçaram a cidade de Letícia, localizada em frente à área contestada. O cenário reflete uma escalada diplomática que tem chamado atenção internacional.

O conflito ganhou força depois que o Peru publicou uma lei em julho deste ano criando o distrito de Santa Rosa de Loreto, que inclui a ilha em disputa. A decisão foi considerada pelo governo colombiano como uma violação de tratados anteriores, provocando declarações duras de Bogotá e uma série de reações políticas.

Origem da disputa pela ilha

A ilha de Santa Rosa surgiu no rio Amazonas devido ao processo natural de sedimentação. Essa formação recente não está prevista nos tratados que delimitam a fronteira da região, assinados há quase cem anos. Por isso, os dois países reivindicam a posse.

Gustavo Petro afirmou em entrevista ao jornal espanhol El País: “Eu quero que eles me expliquem por que chegou um helicóptero com militares à ilha de Santa Rosa se ainda não foi decidido que essa ilha é peruana”.

O presidente colombiano defende que seja feita uma nova convenção internacional para redefinir a situação territorial, alegando que o tratado original não contempla as formações recentes do rio.

O governo peruano, por sua vez, afirma que exerce soberania legítima sobre a região há mais de um século. Em comunicado oficial, destacou:

“O Governo do Peru expressa seu mais firme e enérgico protesto diante das declarações do Governo da Colômbia sobre os direitos soberanos e atos de jurisdição que o Peru exerce de forma legítima e legal”.

Além das disputas jurídicas, há também questões sociais. Cerca de três mil pessoas vivem na região, em comunidades que enfrentam carências estruturais, como falta de energia elétrica e abastecimento de água potável. Apesar do potencial turístico da ilha, relatos apontam abandono e ausência de políticas públicas.

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Visitas oficiais e demonstração de força

A tensão aumentou recentemente com a presença de autoridades dos dois países na região. No dia 7 de agosto, o presidente Gustavo Petro esteve em Letícia, onde transferiu uma celebração nacional colombiana como gesto de afirmação territorial. No mesmo dia, o primeiro-ministro do Peru, Eduardo Arana, e parte de seu gabinete também visitaram a área.

Essas visitas foram interpretadas como demonstrações de força política. Além disso, a imprensa peruana noticiou um suposto sobrevoo de aviões colombianos no espaço aéreo do Peru, o que aumentou o clima de desconfiança entre os países.

A crise, no entanto, não começou apenas agora. Autoridades colombianas já haviam questionado a ocupação da ilha no ano passado, mas a situação havia sido amenizada por meio da diplomacia. A publicação da lei peruana em julho reabriu o conflito e, desde então, a tensão só cresceu.

Impactos geográficos e estratégicos

A geografia da região também tem papel central na disputa. Estudos indicam que, até 2030, o curso do rio Amazonas poderá mudar, concentrando-se no lado peruano. Caso isso se confirme, a cidade de Letícia, na Colômbia, pode perder sua saída direta para o rio, o que representaria um impacto estratégico e econômico para o país.

Arnold Pérez, morador da ilha, resumiu o sentimento local em entrevista à rádio colombiana Caracol: “Tudo aqui é e sempre foi peruano: a comida, as pessoas, as escolas, a bandeira”.

Além das questões de soberania, a disputa reflete uma rivalidade mais ampla entre os dois países, marcada por desentendimentos diplomáticos desde 2022, quando o então presidente do Peru, Pedro Castillo, foi destituído. Na época, Petro classificou a decisão como um golpe e retirou o embaixador colombiano de Lima, levando o Peru a responder da mesma forma.

Diplomacia em foco

Apesar da escalada militar, os dois países ainda recorrem à diplomacia. A chancelaria colombiana declarou que “o governo colombiano usará, antes de tudo, os canais diplomáticos para defender a soberania nacional”.

A disputa pela ilha de Santa Rosa demonstra como formações naturais no rio Amazonas podem gerar impactos políticos significativos.

Ao mesmo tempo, revela os desafios enfrentados por comunidades locais que vivem em meio a tensões internacionais, em uma região marcada tanto pela riqueza da Floresta Amazônica quanto por sua vulnerabilidade estrutural.

O desfecho do impasse dependerá da habilidade de Colômbia e Peru em encontrar uma solução pacífica e negociada, que contemple os interesses estratégicos de ambos os lados e, sobretudo, leve em consideração as necessidades da população que habita a área em litígio.

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