Amazônia pré-colombiana possuía “cidades” com complexas estruturas tridimensionais, revela estudo

De acordo com os resultados do estudo realizado na Bolívia, locais pertenciam à cultura Casarabe, (500 a 1400 d.C) e são o primeiro caso conhecido para toda a planície tropical da América do Sul.

É provável que você já tenha escutado que a área que abrange a região amazônica só começou a ser desenvolvida social, econômica e culturalmente depois da chegada dos europeus na América.

No entanto, há registros de que em partes da Amazônia pré-colombiana (que consiste nos povos que habitavam a região antes da chegada dos colonizadores) existiam cidades bastante desenvolvidas, até mesmo com sistemas de reservatórios de água e estradas que interligavam assentamentos.

Um estudo publicado pela revista científica Nature no dia 25 de maio descreve mapas na região de Llanos de Mojos, na Bolívia, que revelam complexas estruturas tridimensionais como pirâmides e outros monumentos construídos sem o uso de pedras.

Confira detalhes do estudo e como os cientistas conseguiram mapear o relevo através do auxílio da tecnologia:

Foto: Nature/ Lidar revela urbanismo pré-hispânico de baixa densidade na Amazônia boliviana

O povo Casarabe e seus vestígios arqueológicos

O estudo realizado por pesquisadores liderados pelo arqueólogo alemão Heiko Prümers identificou construções feitas pelo povo Casarabe, que habitou a Bolívia entre os anos de 500 d.C a 1400 d.C na região de Llanos de Mojos, no sudoeste amazônico.

Esse denso sistema de assentamento de quatro camadas se concentrava dentro dos 4.500 km² da área de cultura Casarabe.

Foram documentados em detalhes dois grandes locais de assentamentos e 24 locais menores. Dentre os maiores, destacam-se o Cotoca (147 ha) e o Landívar (315 ha). 

Letras de A a F identificam as regiões mapeadas. Foto: Reprodução/Lidar revela urbanismo pré-hispânico de baixa densidade na Amazônia boliviana (Nature)

 A arquitetura detectada como cívico-cerimonial, era caracterizada por:


  • Plataformas escalonadas e estruturas em formas de U;
  • Pirâmides cônicas de até 22 metros de altura;
  • Pequenas plataformas retangulares conectados a locais de densidade mais baixa que se estendem por quilômetros;
  • Infraestrutura maciça de gestão de água com canais e reservatórios;
  • Paisagem antropogenicamente modificada;
  • Urbanismo tropical de baixa densidade
O estudo afirma que:

“As escavações e a bioarqueologia indicam que os sítios monumentais não eram centros cerimoniais desocupados, mas habitados durante todo o ano por agricultores que cultivavam uma diversidade de culturas, sendo o milho (Zea mays) o principal alimento básico”.

Trecho do estudo.

Mapeamento com o Lidar 

O Light Detection And Ranging (detecção e alcance da luz) consiste em uma tecnologia a laser capaz de mapear o relevo da região, mesmo em áreas cobertas por floresta.

A ferramenta revolucionou a arqueologia há pouco mais de 10 anos pois permite fazer em algumas horas um levantamento topográfico que, se fosse realizado em terra, levaria semanas ou meses.

O Lidar foi utilizado pelos pesquisadores ao todo em seis localidades de Llanos de Mojos, mapeando uma área de 204 m² durante cinco dias no fim da estação seca, para aumentar a eficácia da ferramenta. 

Foto: Nature/Lidar revela urbanismo pré-hispânico de baixa densidade na Amazônia boliviana

Importância da descoberta

 Em uma entrevista à revista Nature, um dos autores do artigo comenta que “esta é a primeira evidência clara de que havia sociedades urbanas nessa parte da Bacia Amazônica”. Portanto, o estudo rompe com o estereótipo de que as populações pré-coloniais eram pequenas e seu desenvolvimento limitado e, de acordo com pesquisadores da área, torna este o primeiro caso conhecido para toda a planície tropical da América do Sul.


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