Foto: Reprodução/Equador Viagens
Uma razão pela qual é possível ser otimista em relação ao futuro da PanAmazônia é que nenhum dos países precisa enfrentar uma explosão demográfica iminente. Esse não foi sempre o caso. Na década de 1970, as altas taxas de natalidade e as tradições católicas sugeriam que a América Latina estava enfrentando uma bomba-relógio demográfica. As populações nos países amazônicos estavam se expandindo de 2,4% a 3,5% ao ano, uma taxa que teria dobrado a sua população a cada vinte anos. Os esquemas de colonização das décadas de 1970 e 1980 foram concebidos, em parte, para criar uma válvula de escape para uma população em expansão.
Com exceção da Venezuela, o crescimento populacional nos países pan-amazônicos caiu para entre 1% e 0,5% ao ano, colocando-os em um grupo de países que inclui os Estados Unidos, o Canadá e a Espanha. O Brasil tem a taxa mais baixa, enquanto as mais altas são as do Equador e da Bolívia.
A Venezuela complicou esse panorama com sua implosão econômica, que levou à migração em massa de aproximadamente sete milhões de refugiados econômicos entre 2014 e 2023. A maioria foi reassentada na Colômbia, no Equador e no Peru, que apresentaram taxas de crescimento excepcionalmente altas durante esses anos.
Atualmente, as jurisdições da Pan-Amazônia abrigam aproximadamente 43 milhões de pessoas, contra 12 milhões em 1970. O crescimento ocorreu de forma progressiva, quase linear, mas houve um grande pico na década de 1980, quando os fluxos líquidos de entrada variavam de 100.000 a 300.000 imigrantes por ano. Se as tendências atuais continuarem, a Pan-Amazônia deverá ter uma população total de cerca de 60 milhões em 2050 e estabilizar-se em cerca de 65 milhões em 2100.
As taxas de natalidade na Amazônia são ligeiramente mais altas do que nas jurisdições não amazônicas, mas seguem as tendências nacionais com um atraso de cerca de vinte anos. Em comparação com outras regiões de florestas tropicais, esse é um cenário demográfico bastante moderado e deve ser um bom presságio para os ecossistemas naturais da Pan-Amazônia, bem como para as comunidades humanas que fazem dela seu lar.
Essas projeções presumem que não haverá outra migração em massa para a região; no entanto, o impacto da migração passada é evidente. Dados do Censo de 2010 do Brasil mostram que mais de três milhões de residentes da Amazônia Legal nasceram em uma das outras cinco macrorregiões. Por outro lado, menos de 400.000 cidadãos brasileiros nascidos na região Norte agora residem fora da mesma, e a maioria deles vive nos estados adjacentes de Mato Grosso e Goiás. No entanto, os dados do censo não abrangem os imigrantes de segunda geração, nem revelam os movimentos migratórios dentro da Amazônia. Talvez até dois terços da população da Amazônia brasileira se enquadrem nessas duas categorias.
Os povos indígenas representam cerca de 5% da população total, um dado que não inclui as comunidades Ribeirinhas/Ribereñas, que são descendentes de povos indígenas destribalizados, ou os Seringueiros, cujos antepassados eram os primeiros migrantes que buscavam meios de subsistência baseados na floresta, não muito diferente das comunidades indígenas.
Os defensores do meio ambiente e da causa social geralmente se referem a esses e a outros grupos semelhantes como “povos tradicionais” e frequentemente os incluem em iniciativas de políticas que buscam conservar os ecossistemas florestais naturais de forma justa e equitativa. O restante da população amazônica é composta por imigrantes ou descendentes de imigrantes que chegaram depois de 1960, e agora representam provavelmente cerca de oitenta por cento da população amazônica.
Em 1991, o local de nascimento da população da Amazônia Legal revela que os imigrantes vieram de todas as partes do Brasil. Rondônia tinha a maior proporção de imigrantes, enquanto o Amazonas tinha a maior proporção de habitantes nativos. No geral, a maior fonte de migrantes foi o Nordeste (painel inferior esquerdo); no entanto, essas estatísticas subestimam a contribuição dos nordestinos para a cultura amazônica, porque muitos residentes nativos são descendentes de imigrantes que vieram do Nordeste durante os dois booms da borracha. Fonte de dados: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2023. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA, Censo Demográfico.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Timothy J. Killeen e com tradução de Lisete Correa