O tamaquaré, espécie Uranoscodon superciliosus é um lagarto arborícola amplamente distribuído na Amazônia.
Os lagartos da espécie Uranoscodon superciliosus são conhecidos popularmente como tamaquaré, e estão distribuídos na maior parte do bioma amazônico, sendo encontrados nas florestas principalmente em áreas próximas à corpos d’água. Esse lagarto é bastante especial, sendo a única espécie no gênero. Pelo menos até o momento!
São animais arborícolas e com atividade diurna, vivendo ao longo da vegetação próxima aos igarapés, as chamadas zonas ripárias, ou em áreas alagadas como os igapós. Durante a noite, podem ser encontrados dormindo nos galhos acima dos igarapés, e é nessa hora que a camuflagem desse animal ajuda bastante.
A coloração marrom, praticamente da cor de um galho, é importante para evitar os predadores. Associada ao comportamento de se posicionar bem próximo e ao longo do galho, ficando imóvel, dificulta bastante que esse anima seja visualizada na natureza. Porém, as vezes a camuflagem pode não ser o suficiente e, caso o tamaquaré seja visto e se sinta ameaçado, outro comportamento de defesa é ativado.
Ao perceber que foi avistado por um possível predador, o tamaquaré salta do galho onde está e mergulha na água para tentar escapar. Por essa razão, muitas vezes o tamaquaré também é conhecido como lagarto mergulhador!
Os tamaquarés podem chegar até 16,2 cm de comprimento de corpo (a cauda pode ser maior que o tamanho do corpo!), ou seja, tamaquarés adultos podem alcançar mais de 30 cm de tamanho total. A cauda, além de comprida, é achatada lateralmente. Essa característica pode ser uma adaptação desse animal para o hábito arborícola e também para auxiliar o nado em casos de fuga.
O período reprodutivo desses lagartos ocorre durante o período de seca aqui na região, entre maio e novembro. Os machos e a fêmeas apresentam características visivelmente diferentes, conhecido como dimorfismo sexual, sendo os machos distinguidos das fêmeas por possuírem pontos amarelos na parte de cima do copo (região dorsal).
Apesar de ser considerado amplamente distribuído na Amazônia, ainda existem poucos estudos sobre o tamaquaré, como por exemplo, sobre o que esses animais comem. Sabe-se que como a maioria dos lagartos, esses animais se alimentam de pequenos invertebrados e, recentemente, foi publicado um artigo com um registro de um tamaquaré se alimentando de um minhocoçu, uma minhoca “maceta” como se diz por essas bandas. Bem legal, não?
Por ser um animal arborícola que vive nas matas ciliares e dependente dos corpos d’água, as principais ameaças para os tamaquarés são a perda do habitat devido ao desmatamento e a fragmentação, que levam ao assoreamento dos igarapés, bem como a poluição que esses corpos d’água sofrem com a expansão urbana.Além disso, os tamaquarés são ameaçados devido algumas crenças populares, sendo comercializados ilegalmente para fins mágico-religiosos.
Existe uma crença popular que diz que usando preparos derivado do tamaquaré, como o chá ou o pó, pode deixar uma pessoa boba, sendo esses preparos utilizados para “amansar” (para acalmar uma pessoa agressiva ou aliviar a raiva de alguém traído por sua esposa ou marido).
As pessoas que acreditam nessa lenda, fazem uma associação das características biológicas do tamaquaré e os efeitos que seu uso deve gerar. Animais que se movem lentamente (“lerdos”) e ficam imóveis para não serem notados, como o tamaquaré, são usados para acalmar as pessoas (“lerdar”). Nenhuma dessas “propriedades mágicas” dos tamaquarés foram cientificamente comprovadas, e essa prática tem contribuído para ameaçar as populações desse lagarto na Amazônia. Sem falar que comercializar, matar ou injuriar animais silvestres é crime previsto em lei. Não queremos fazer parte disso, certo?
Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre o tamaquaré, esse simpático e manso lagartinho!! Abraços de sucuri pra vocês e até ao próximo animal da nossa exuberante Amazônia!
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Para saber mais
Link para o artigo com o registro da predação de um minhocoçu por um tamaquaré. O artigo está em inglês e foi publicado pelos pesquisadores Amanda M. Picelli, Gabriel S. Masseli e Igor L. Kaefer, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM.