Considerado um acidente, a morte da artista completou 108 anos em 17 de fevereiro, mas algumas teorias ainda permanecem na lembrança popular.
Tradicionalmente, a jovem violonista Ária Ramos costumava desfilar com seu bloco durante o período de Carnaval em Manaus (AM). Admirada e querida, levava dezenas de pessoas para a plateia quando se apresentava. Em fevereiro de 1915 não foi diferente, mas um acontecimento transformou as festividades carnavalescas em luto: uma bala perdida.
A tragédia, que aconteceu durante baile realizado no Ideal Clube, no Centro da capital amazonense, completou 108 anos em 2023.
Ária Paraense Ramos era natural do Pará, filha do Major Lourenço Ramos e tinha duas irmãs, Pátria e Celeste. A veia musical era herança de família, à exemplo de Pátria, que tocava piano e também se apresentava, além de, por vezes, acompanhar a irmã.
A jovem violinista fazia parte de um grupo conhecido como ‘Paladinos da Galhofa’ e, na fatídica terça-feira de Carnaval, 17 de fevereiro de 1915, enquanto tocava a valsa ‘Subindo ao Céu’, uma bala perdida a atingiu.
A artista, que é considerada um dos símbolos da cultura manauara, foi socorrida pelas pessoas que acompanhavam a apresentação e levada à Santa Casa de Misericórdia, mas não resistiu ao grave ferimento e faleceu. Toda a cidade ficou comovida com o que foi considerado um acidente.
Teorias
Os mistérios em torno do caso são as teorias envolvendo possíveis suspeitos do crime. Uma das teorias mais contadas no decorrer dos anos é que a artista foi morta por um noivo ou ex-noivo ciumento.
A teoria mais inusitada é que as pessoas que estavam presentes no dia do baile associam a morte de Ária e a música ‘Subindo aos Céus’ a um presságio, ou seja, um prenúncio do futuro, de algo que estaria destinado a acontecer.
Alguns jornais noticiaram que uma jovem chamada Maria Travassos estava brincando com um revólver na festa e que acidentalmente acabou disparando e atingindo Ária. Outros noticiaram apenas que foi um tiro acidental.
Os possíveis suspeitos não foram presos ou punidos, pois na época a cultura popular acreditava que eles poderiam ser punidos pela justiça divina.
Homenagem
Como homenagem à violinista, uma lápide esculpida em mármore em tamanho real foi construída no Cemitério São João Batista. Na estátua, Ária está segurando um violino no braço direito, e o seu braço esquerdo se apoia num tronco de árvore. No colo ostenta um pingente com uma cruz.
O custo do mausoléu foi angariado junto à sociedade manauara, através de sessões artísticas realizadas em diversos espaços culturais. Ela está sepultada na Quadra 5.
Exposições fotográficas inspiradas na história da musicista foram realizadas, além de diversas outras manifestações no decorrer dos anos. Há, inclusive, um documentário, lançado no dia 27 de fevereiro de 2021, que conta com depoimentos de netos e bisnetos de Lourenço Ramos,.
Eles relatam sobre a vinda da família à Manaus e as relações com Portugal, incluindo viagens e outras aventuras, o auge da vida financeira da família na cidade e a intensa atividade artística dos filhos.
No documentário também há relato sobre a morte de outras pessoas importantes para a história da família, levando ao fim da passagem dos Ramos por Manaus e o que motivou a sua partida e, por fim, o retorno a Portugal para uma nova vida.