A nova espécie foi descoberta em armadilha feita de garrafa pet instalada próximo a estrutura do meliponário científico no Bosque da Ciência
Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) identificaram uma nova espécie de abelha-sem-ferrão, nomeada “Scaptotrigona hylaeana“. A nova espécie foi descoberta após a equipe do Grupo de Pesquisas em Abelhas (GPA/Inpa) instalar armadilhas-isca próximas ao meliponário (coleção de colmeias de abelhas sem ferrão de vários tipos) científico do Inpa.
De acordo com a pesquisadora do Inpa e líder do GPA, Gislene Zilse, a nova espécie tem características morfológicas próprias, semelhantes às abelhas-sem-ferrão do grupo não-meliponas, caracterizadas por colmeias populosas, cuja entrada é feita de cerume material maleável produzido pelas abelhas a partir de cera misturada com própolis. Esse grupo de abelhas tem menor tamanho e apresentam as asas que geralmente ultrapassam o comprimento do abdome.
Inicialmente, as armadilhas foram instaladas para testar se as abelhas eram atraídas pelo cheiro de extrato de geoprópolis. Ao verificar as armadilhas, a equipe encontrou um enxame de abelhas com características diferentes das encontradas no Bosque da Ciência e pesquisadas no Inpa. Após análises, confirmou-se que era uma nova espécie.
“A estratégia das armadilhas foi testada pela primeira vez na Amazônia como projeto de Mestrado de Iris Andrade da Cruz. As armadilhas foram distribuídas em comunidades de Parintins, na Reserva Florestal Adolfo Ducke e alguns exemplares foram testados no Bosque da Ciência, que felizmente resultou na atração desta espécie. Daí, conseguimos fazer a identificação pelos colegas especialistas do INPA e estamos iniciando novas pesquisas acerca de sua biologia, capacidade produtiva e seus principais elementos característicos”
explica a pesquisadora.
As armadilhas são feitas com garrafas pet revestidas com jornal e colocadas dentro de sacos pretos para bloquear a luz solar. Dentro das garrafas e no orifício de entrada é pulverizado extrato de geoprópolis moída, proporcionando aderência para evitar que as abelhas escorreguem no pet de plástico, além de odorizar a armadilha para atrair as abelhas.
Preciosidade no meio da região urbana
Apesar de as armadilhas terem sido colocadas em áreas mais afastadas da zona urbana da capital, a nova espécie foi descoberta no Bosque da Ciência, uma área de fragmento florestal em Manaus. Gislene ressalta que essa descoberta mostra como a natureza pode sobreviver mesmo em meio à degradação humana. A origem exata da nova abelha, ou seja, o ninho natural de onde ela soltou enxame, se do Inpa ou do fragmento florestal da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), localizado a poucos metros do Instituto, ainda não é conhecida.
“A natureza é forte e capaz de se manter apesar da intervenção humana. Embora ainda não saibamos ao certo de onde veio essa abelha, o ninho original pode estar aqui no Inpa ou na Ufam, o que podemos dizer é que é uma espécie presente num fragmento florestal. Sua presença é um indicativo de que elas se sentiram seguras em construir sua nova casa (colméia) aqui. Isso demonstra que esse ambiente ainda é valioso e propício para a vida das abelhas, uma vez que as abelhas só sobrevivem em ambientes saudáveis”
comemora Gislene.
Pesquisa com Abelhas
O resultado positivo da nova descoberta tem mostrado eficiência nas pesquisas realizadas pelo GPA e na conservação dessas espécies. O Inpa desenvolve atividades conscientizando as pessoas sobre a importância das abelhas para os ecossistemas e no desenvolvimento de técnicas para criação e manejo das abelhas, realizando a meliponicultura, com a finalidade de dar novas alternativas comerciais e manutenção de suas populações naturais.
A prática da meliponicultura tem muitas finalidades. Além da produção de mel, considerado um produto de alta qualidade e sabor diferenciado, a criação de abelhas-sem-ferrão contribui para a polinização de plantas nativas, ajudando a manter a biodiversidade e a conservação dos ecossistemas locais, propiciando geração de emprego e renda, além de promoção da cultura social.
No estado do Amazonas, podemos encontrar cerca de 120 espécies de abelhas-sem-ferrão, da tribo Meliponini. Entre as espécies criadas estão a uruçu-boca-de-renda ou jandaíra e a jupará, que são encontradas no Bosque da Ciência.
O Inpa também desenvolve outras pesquisas na Amazônia, como a pesquisa que estruturou um perfil físico-químico para que Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf) emitisse a Portaria Nº 253 de 31/10/2016 instituindo o Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel de abelhas-sem-ferrão no Amazonas. Além dos trabalhos sobre as questões de manejo e quais são as espécies podem ser criadas.