No fim de cada tarde, milhares de periquitos da espécie tomam os céus e árvores que ficam na Avenida Ephigênio Sales e chamam atenção de quem passa pelo local.
Milhares de periquitos de asa branca (Brotogeris versicolurus) tomam conta da Avenida Ephigênio Sales, na Zona Centro-Sul de Manaus (AM), durante os fins de tarde. Há 12 anos, com voos e cantos característicos, eles chamam atenção de quem passa pela via. Eles surgem em pequenos grupos e, rapidamente, aparecem centenas até chegarem a milhares. As aves fazem um espetáculo no ar que impressiona.
Segundo o especialista em pássaros e pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Mário Cohn Haft, os periquitos de asa branca apareceram na área urbana de Manaus, pela primeira vez, em 2011, e foram atraídos pelos pés de manga da cidade.
Isso porque era uma safra de manga fora do normal e eles estavam em grande número. Assim, os periquitos passaram a dormir nas árvores desse trecho da Avenida Efigênio Sales, um importante corredor viário de Manaus.
É uma área da cidade cercada por condomínios e a primeira morada foi em 20 palmeiras imperiais. De acordo com o pesquisador, era um lugar seguro para pernoitar.
“Copas isoladas oferecem proteção. Troncos lisos, que uma cobra não subiria, uma mucura teria dificuldade em subir. A gente acredita que esses eram os fatores que faziam esse lugar ser irresistível para os periquitos, mas, com o uso, os periquitos acabaram matando essas palmeiras. Não propositalmente, mas de tanto pisotear e de agarrar nas folhas”,
contou Cohn Haft.
Esse é o décimo segundo ano consecutivo que os passarinhos migram para a capital amazonense e dormem em um trecho da Avenida. Chegam em outubro e ficam até março. Depois voltam pra casa que é na região de várzea, às margens do Rio Amazonas. “Ficam por aqui, mas são centenas no verão e dezenas de milhares, por volta de 10 mil, digamos, no inverno”, explicou o pesquisador.
Há cinco anos, o cirurgião dentista Paulo Calderon, acompanha as revoadas do consultório onde trabalha. “Quando estou aqui com os pacientes, eles não têm noção da situação. Aí eu faço um experimento. Eu abro a janela para eles. Eles se assustam porque é realmente ensurdecedor e a gente se encanta. É natureza mesmo”, contou.
Quem vê pela primeira vez pode até achar que os passarinhos estão desorientados durante os voos, mas o movimento que eles fazem ao final de cada dia é característico, antes de dormir. Logo depois, pousam nos galhos das árvores um ao lado do outro e ficam tão colados que até parecem folhas.
“Depois das 6h30, digamos, já foram, espalharam pela cidade, estão em pequenos grupos, aproveitando o que tiver de comida. Por volta das 17h30 começa essa loucura da chegada. Então, passam a noite inteira aqui, o dia inteiro fora, comendo por aí”, explicou o pesquisador do Inpa, referindo-se ao local.
Mas viver em área urbana e no canteiro central de uma avenida, é perigoso. Durante os voos, alguns são atingidos por veículos. Esse foi o motivo do lugar ter sido sinalizado, para diminuir os acidentes. “A gente sempre vê ônibus batendo neles. É triste quando não respeitam, passam muito rápido e isso acontece muito”, comentou a babá Patrícia Freitas.
Enquanto os periquitos de asa branca não vão embora, os moradores da região aproveitam a companhia nada discreta. “Muito gostoso. Tem dias que eles estão muito agitados. A gente vê um show, um espetáculo no céu e eu adoro muito isso. A gente está aqui pra saber que, na verdade, eles que adotaram e disseram ‘eu vou morar aqui e acabou-se, aqui é a minha casa'”, disse a jornalista Catiane Moura.
*Com informações de Ruthiene Bindá, da Rede Amazônica