Democratizar o acesso da população periférica e promover um resgate histórico e cultural são alguns dos objetivos do projeto
É inegável a importância do acesso da população periférica a espaços culturais e científicos que contam parte da história e do futuro do ambiente onde vivem. Contudo, não é o que presenciamos no dia a dia.
Em Manaus, por exemplo, alguns espaços como o imponente Teatro Amazonas contam com acesso gratuito para quem nasceu no estado. Ainda assim, há um bloqueio comunicacional para quem vive em regiões periféricas, mais afastadas do centro da capital.
No campo científico, é comum observar em artigos e publicações de cunho internacional que os cientistas que mais pesquisam e publicam pesquisas da região são de fora da Amazônia.
Nesse sentido, com o intuito de promover um resgate histórico e cultural, dois amigos criaram um projeto para levar a população periférica para conhecer esses espaços na capital amazonense. Confira no Portal Amazônia:
Como surgiu
Dayrel Teixeira tem 23 anos e é criador da página @funkeiroscults de alcance nacional que traz memes, música e cultura periférica. Diego Brandão, o Dighetto, tem 18 anos e é fotógrafo. Ambos participaram da CreatorsAcademy, uma experiência de imersão voltada para criadores de conteúdo para adquirirem conhecimento sobre a Amazônia.
“Eu fui convidado pra participar do Creators Academy que levou 50 influencers pro município e tumbira e sairam outros projetos, foi uma oportunidade para ter contato com outros influencers, outras redes e a partir daí surgiu o projeto para dar autoestima para periferia e promover um resgate histórico.”
explicou Dayrel.
Nessa imersão, que passou pela comunidade do Tumbira, localizada numa Reserva de Desenvolvimento Sustentável, ocorreram debates sobre justiça climática, crise hídrica, e questões ambientais no geral.
Foi dessa experiência que Dayrel e Dighetto tiveram a ideia do projeto e passaram a articular com responsáveis pelo Museu da Amazônia, (Musa) para levar a periferia para conhecer o espaço, como comenta Dayrel:
“O Diego e eu temos muitas ideias assim e esse projeto veio em grande escala. Estamos conseguindo levar gente da periferia que nunca foi no Musa, lá pra dentro, ter esse resgate da periferia […] porque a gente vive esse dilema de morar aqui mas ser distante da cultura daqui”
revela.
O projeto
Sem nome definido ainda, Dighetto conta que o projeto ainda está na fase inicial. Um dos fatores que motivaram a ideia foi o fato de o Musa estar localizado de frente para a maior favela da capital amazonense e grande parte da população que reside lá nunca ter entrado em espaços científicos e relacionados à Amazônia, como o Musa.
“Através desse projeto a gente quer articular outras coisas dentro do musa, deixar a periferia mais próxima do Museu da Amazônia. A periferia que eu moro fica às margens da reserva Adolpho Ducke e a gente nunca teve essa oportunidade. Agora estamos com esse projeto de aproximar a periferia de locais de pesquisa, de reservas florestais porque querendo ou não é a nossa cultura e a gente nunca tinha entrado nesses locais.”
explana.
O Musa é um museu que ocupa 100 hectares da Reserva Florestal Adolpho Ducke. É uma área de floresta de terra firme, nativa, na qual podem ser encontradas algumas exposições, viveiros de orquídeas e bromélias, aráceas, palmeiras, samambaias, serpentes, aranhas e escorpiões, borboletas, cigarras, cogumelos e fungos, além de jardim sensorial, lago das vitórias-amazônicas e aquários.
Além disso, há uma torre de 42 metros que atraem turistas e moradores pela sua vista e é composto por sete trilhas com intuito de popularizar a ciência e promover uma educação científica e cultural para quem visita o espaço.
Entender o funcionamento da biodiversidade amazônica, da fauna e flora e aproximar a comunidade periférica e sociedade fora do meio científico desses lugares é uma oportunidade de democratizar o acesso à ciência e cultura, além de promover que a ciência não se restrinja apenas à uma ‘bolha’ científica.
“A gente cresce sem ligar muito pra isso porque não é uma coisa que tá muito ligada as pessoas da periferia, é sempre para gringos. A maioria das pessoas que frequentam esses lugares nem do nosso estado é, geralmente de outros estados e até de outro continente e vem fazer pesquisas na região e nós que somos daqui quase não vai lá.”
constata Dighetto.
Alcance
Por estar em fase inicial, o primeiro encontro levou cerca de 18 jovens para conhecer as instalações do Musa. A ideia é que semanalmente 20 jovens visitem esses espaços e que o projeto de expanda para outros espaços. “O musa é o pontapé inicial. A gente não quer ficar só no musa, a gente quer levar para outros espaços também, mas estamos começando pelo musa que é um espaço que tá perto da comunidade e a maioria nunca foi”, finaliza.