Pesquisa indica diminuir consumo de certos peixes no AP devido elevado nível de mercúrio

Estudo identificou alta concentração em espécimes de tucunaré, traíra, pescada branca, mandubé e bagres, e também encontrou certa quantidade em pirarucus e piranhas

Uma pesquisa realizada por três instituições científicas analisou 400 amostras de peixes de rios do Amapá e identificou que na maioria havia uma concentração de mercúrio maior do que a recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A descoberta leva a uma recomendação que pode alterar a rotina de quem tem peixe como alimento essencial na mesa.

A substância química em excesso afeta o coração e cérebro do ser humano. Por isso, uma das orientações dos pesquisadores é a redução do consumo de algumas espécies encontradas no estado.

O estudo, publicado recentemente em revista internacional, foi feito nas bacias hidrográficas do Araguari, Amapari, Cassiporé, Oiapoque e Amapá Grande, e é um desdobramento de um levantamento iniciado em 2017.

Foto: Renata Ferreira/Iepé/Divulgação

Entre os animais analisados, os peixes carnívoros registraram a maior concentração de mercúrio (77,6%), seguidos pelos onívoros (20%) e herbívoros (2,4%). De acordo com o estudo, isso acontece porque nos carnívoros o mercúrio dos peixes consumidos se acumula no organismo.

Em razão disso, a recomendação é que sejam consumidas por semana até 200 gramas de tucunaré, traíra, bagres, mandubé ou de pescada branca. Pirarucu e piranha no máximo uma vez ao mês, apontam os pesquisadores.

Por serem da costa amapaense, tainha, acari e branquinha são as espécies mais seguras, acrescenta a pesquisa.

A doutora em peixes e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), Cecile Gama, ressalta que a intenção não é acabar o consumo de peixes, que integra a base da alimentação do morador da Amazônia, mas a ideia é conscientizar a população sobre o cuidado com a saúde.

“Quando vamos às feiras, nós não sabemos a origem certa do peixe, mas também nós não queremos que as pessoas parem de comer o peixe. Nesse trabalho estamos propondo uma forma mais segura de se alimentar com peixe, porque é um alimento base da população ribeirinha”, explicou.

Foto: Cecile Gama/Arquivo Pessoal

Problemas neurológicos, motores, cegueira, gastrointestinais, cardíacos e déficit de atenção no aprendizado de crianças são os riscos do consumo de mercúrio em excesso, segundo apontou o estudo. Também pode haver consequências para mulheres férteis.

A pesquisa aponta que o motivo para essa contaminação elevada nos peixes seria a presença de muitos garimpos ilegais no estado.

“Esses empreendimentos de garimpo não só jogam o mercúrio diretamente no ambiente, mas o desmatamento que eles causam libera o mercúrio que naturalmente já estaria no ambiente e gera queimadas. Isso tudo vai tá aumentando o nível de contaminação dos corpos d’água”, detalhou Cecile.

O especialista em conversação da ONG WWF, Marcelo Oliveira, explicou que o mercúrio fica no meio ambiente por pelo menos um século.

“O mercúrio fica até 100 anos na cadeia, então se a gente terminasse hoje de introduzir mais mercúrio através de atividade ilegais de garimpo, isso poderia ficar por mais 100 anos na cadeia alimentar. O que a gente precisa é atacar o problema em todos os níveis: municipal, estadual e federal”, disse.

Foto: Cecile Gama/Arquivo Pessoal

Oliveira acrescentou que o problema da poluição provocada pela extração de ouro ilegal é antigo e tem aumentado nos últimos anos.

“Desde a década de 70 esse problema acontece. Com os preços recordes de ouro, isso tem crescido e também com a sinalização positiva do governo federal de permissividade à essa ilegalidade. Nós temos visto os garimpos avançarem terras indígenas e unidades de conservação”, afirmou.

A pesquisa foi feita pelo Iepa, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), além da ONG WWF-Brasil, entre agosto de 2017 e março de 2018. O estudo foi publicado este mês na Revista Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública.

“Estamos preparando uma estratégia de interação com o poder público. Chamar o poder público estadual e também os senadores do Amapá para uma conversa, estabelecer o diálogo e uma construção de soluções para esse problema”, declarou Oliveira, como uma das saídas da poluição.

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