Devido ao aumento da temperatura, as castanheiras na Amazônia não frutificaram no Amapá

Foram analisados os frutos de 205 castanheiras na região. A principal interferência climática ocorreu por conta do fenômeno El Niño entre 2015 e 2016

Uma pesquisa da Embrapa Amapá revelou a interferência de mudanças climáticas sobre a produção de frutos da castanha-da-amazônia dentro da Reserva Extrativista do Rio Cajari (Resex Cajari), no Sul do estado. O estudo ocorreu de 2007 a 2018 e foi publicado em janeiro na revista científica Acta, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Foram analisados os frutos de 205 castanheiras na região. A principal interferência climática ocorreu por conta do fenômeno El Niño entre 2015 e 2016, que elevou a temperatura média em aproximadamente 2 graus.

Nesse período, segundo o pesquisador líder do estudo Marcelino Guedes, as castanheiras mais altas tiveram as copas secadas pelo calor e não frutificaram.

Foto: Marcelino Guedes/Embrapa

“A pesquisa ocorreu a partir da 3 projetos aprovados voltados para produtos não-madeireiros. Durante esse monitoramento de mais de 15 anos, a gente pôde observar esse efeito da crise climática que já está afetando toda a nossa biodiversidade aqui na Amazônia e especificamente nesse caso, a castanheira”, 

disse o pesquisador.

A escassez diminuiu em até 8 vezes a produção da castanha e impactou o preço do produto que é a principal base econômica dos extrativistas nessa região do Amapá.

A reserva, que é monitorada de forma contínua pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e possui mais de 70 mil castanheiras, segundo um levantamento da instituição. 

 Como se adaptar às mudanças climáticas

Marcelino Guedes explicou que não há como reverter a situação, mas é possível encontrar maneiras de adaptação, como o manejo florestal sustentável e a regeneração com novas espécies em áreas do entorno dos castanhais.

“A gente monitora mais de 500 castanheiras na reserva e fez a pesquisa em mais de 200. Estamos trabalhando com o manejo florestal sustentável com as comunidades da região e também com a regeneração de mudas modificadas mais resistentes às altas temperaturas”, explicou o pesquisador.

Guedes informou ainda que a própria natureza auxilia nesse processo. Roedores como as cutias, por exemplo, pegam os frutos e enterram em roças para se alimentarem posteriormente. Como não conseguem encontrar todos os frutos depois, eles germinam e nascem nesses locais.

Foto: Marcelino Guedes/Embrapa

 O El Niño

O El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico que ocorre quando a temperatura das águas do oceano Pacífico Equatorial fica mais quente do que a média normal, influenciando no calor e umidade de várias regiões do mundo.

Em 2015 e 2016, esse fenômeno foi o mais intenso dos últimos 50 anos e afetou toda a região amazônica com uma temperatura máxima mensal de 2,1 graus, maior em relação à média máxima normal de outros anos.

Foto: Marcelino Guedes/Embrapa

 Impacto para produtores e consumidores

Em 2017, houve uma queda na produção de castanha em toda a Amazônia, com um total de 21.651 mil toneladas, 37% abaixo da média de 10 anos (2010-2019), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicados em 2021.

De acordo com a Embrapa, em 2017, a baixa produção de frutos da castanheira elevou o preço da lata de 11 quilos (unidade de referência para comercialização) de R$ 50,00 em 2016 para R$ 120,00 em 2017, em diversas áreas de extrativismo da Amazônia. No caso do Amapá a elevação foi ainda maior, ficou em torno de R$ 200,00.

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