Joaquim Francelino de Araújo – nas curvas do tempo

Quem quer que ainda creia nos altos desígnios do homem sobre a face da terra; quem quer que ainda não tenha todo descrito da ação civilizadora nos destinos da humanidade; quem quer ainda não se tenha tornado em absoluto indiferente ao movimento regenerador que as conquistas do espírito humano vão operando no mundo, limpando – o dos preconceitos religiosos, libertando – o dos prejuízos políticos; quem quer que ainda se sinta agitado pelos superiores ideais de direito e de justiça; quem quer que ainda tenha alma para crer, coração para sentir – não pode deixar de se descobrir reverente e atencioso numa saudação que traduza respeito e consideração, ante a personalidade simpática desse homem que é a mais completa encarnação da bondade, no que ela contém de mais suave e de mais carinhoso, de mais belo e de mais sublime, de mais meigo e de mais angélico.

Joaquim Francelino de Araújo. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Nestes tempos de intensa vida e de desamor, em que por assim dizer o homem, no conjunto de todas suas faculdades, absorvido no dia a dia pela busca da sobrevivência que o domina por inteiro, não saindo do seu egoísmo se não para se mover na direção que lhe é indicada pelos seus interesses individuais, constitui um caso raro digno de menção, encontrarmos alguém com muita resignação para sofrer e com uma grande soma de bondade para com o próximo, com alma de crente sincero pairando mais alto por cima das mazelas sociais, com uma convicção profundamente inabalável de que a principal missão no seio das sociedades, a que mais o honra e lhe dá nobreza, a que mais engrandece exalta e dignifica é a prática do bem.

Fazer o bem eis em que consiste a religião de Joaquim Francelino de Araújo. Maçom atuante e um espírita convencido que somente a caridade o aproxima de Deus. Alquebrado pelos embates da diversidade da vida do que pelo peso dos anos vividos. Ele Joaquim Francelino de Araújo vai calmo, sereno, atravessando a existência firme na sua consciência tranquila de homem probo, apoiado na firmeza de seu caráter, sem as humilhações degradantes dos subservientes e nem tão pouco as revoltas histéricas dos libertinos, mas como simples e sincero apóstolo de uma religião que prega a paz, o amor e a caridade, trazendo consigo o espírito iluminado que lhe enche a alma generosa e boa. 

Por toda sua vida caminhou alheio as grandezas e as vaidades mundanas, sem vícios que lhe pudesse corromper a sua existência, sem ambições desmedidas que o torne hipócrita e cruel, tem o culto extremado da família, cujo lar tranquilo e modesto, porém honrado e alegre considerado por ele um templo sagrado, cuja vida como esposo e como pai nunca se desviou se quer uma linha, nem mesmo em pensamento, do rigoroso cumprimento dos seus deveres. Foi sim um exemplo de modelo e de virtudes.

Avenida Sete de Setembro, esquina com Avenida Getúlio Vargas, em 1940. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Se como chefe de família a sua conduta foi exemplar, como maçom dedicado e espírita por convicção teve uma vida irrepreensível. Considerado um homem de elevada alma nobre, mas sábia e sublime que a que presidiu a organização da maçonaria a época. Como maçom esteve intimamente convencido de que a maçonaria é a obra mais completa que o homem produziu e de que, como Instituição humana dispõem melhor do que qualquer outra de todas as instituições precisas para tornar o homem feliz, levantando-lhe o moral, refretando-lhe os instintos, desembaraçando do fanatismo religioso, tornando – o bom e justo, tolerante e sociável, sem ódios a satisfazer, sem vinganças a pôr em prática, pronto a qualquer sacrifício em proveito da liberdade e da justiça, onde quer que os tiranos tentem ofuscar o espírito humano – ou seja em nome das religiões ou da política, fundando definitivamente na face da terra o regime da paz e da fraternidade. 

A maçonaria lhe consagrou o melhor de sua existência. A seu serviço constante, ininterrupto, todos os dias empregou a sua atividade de forma incansável crente e fervoroso sem desanimar, mesmo quando o peso da fadiga lhe abatesse, sem jamais desertar ou abandonar a jornada. 

Por um longo período durante todas as noites trabalhou nas diversas oficinas do oriente de Manaus, dando salutar exemplo de uma dedicação sem limites, de uma correção irrepreensível, ensinando os neófitos, aconselhando os inexperientes, a todos carinhosamente envolvendo no manto augusto de sua bondade inesgotável. Sem ser um grande orador, sem pretensões a ser dono da palavra, contudo agrada sempre ouvi – lo falar, não pelos rasgos da eloquência, pela pompa das imagens, mas pelo alto cunho de sinceridade e convicção que dá as proposições que anuncia aos conceitos que emite a apologia que faz de tudo o que diz respeito as Instituições Maçonaria. Como seguidor fidedigno do espiritismo de Alan Kardec ele falava como vidente, como iluminado e ver – se que fica em êxtase, numa visão paradisíaca, na contemplação mística de beleza e celestiais, de tal maneira se lhe apresentam ao espírito as sublimidades dos princípios maçônicos. 

Avenida Eduardo Ribeiro, esquina com Avenida Sete de Setembro, em 1950. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Foi um dos sustentáculos mais fortes e mais dignos da sublime instituição maçônica amazonense, que lhe deve inestimáveis serviços, embora seu nome não seja lembrado nas lojas dos dias atuais. 

No dia 17 de dezembro de 1893, às sete horas no salão de honra no edifício da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas, com a presença do Sr. Governador do Estado Eduardo Gonçalves Ribeiro, Alberto Leal e Joaquim Francelino de Araújo presidiu a comissão encarregada de representar a Benemérita e Beneficente Loja Maçônica Esperança e Porvir, na inauguração do referido hospital. 

Ele foi um dos membros fundadores da Sociedade de Propaganda Espírita, criada em Manaus em janeiro de 1901. A Sociedade tinha por fim o estudo, a difusão do espiritismo e a prática da caridade. Neste mesmo ano ele assume a diretoria na função de tesoureiro. Em 1902, novamente aparece na diretoria como segundo vice-presidente. Em 1904, foi criada a Federação Espírita Amazonense e Joaquim Francelino de Araújo novamente toma parte da diretoria na função de tesoureiro.

Frente do Palacete Provincial, em 1950. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Joaquim Francelino de Araújo nasceu no Ceará no dia 12 de março de 1854, e foi iniciado maçonicamente no dia 24 de agosto de 1889, na Benemérita Loja Capitular Amazonas, no oriente de Manaus, nessa oficina exerceu o cargo de secretário durante cinco anos consecutivos e o de venerável mestre ao longo de doze anos seguidos e tendo prestado os mais relevantes serviços a esta oficina. A partir de 1909 e por um longo período foi o seu orador. A referida oficina concedeu – lhe o título de Benemérito e Remido. Foi – lhe concedido o título de Benemérito e Membro Honorário da Assembleia Geral do Grande Oriente do Brasil e do Grande Capítulo dos Noachitas, Benemérito das Lojas Esperança e Porvir e Fraternidade Amazonense, filiando – se nas Lojas Conciliação Amazonense, Rio Negro, Deus Lei e Perseverança e das Lojas Aliança, no Oriente de Canutama e União Paz e Trabalho no Oriente de Parintins. Foi membro honorário do Supremo Conselho do Brasil, foi um dos fundadores da Loja Capitular Fraternidade Amazonense e um dos instaladores do Consistório.

*Informações pesquisadas nas atas da Grande Benemérita Loja Simbólica Rio Negro nº 4.

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