Emídio Vaz d’Oliveira nasceu em Vila Real, na região de Tras-dos-Montes, Portugal, a 19 de janeiro de 1910. Foram seus pais o tabelião Antonio da Costa Oliveira e D, Maria Vaz d’Oliveira. Veio para o Brasil com apenas 17 anos, já com o curso ginasial completado na sua terra natal, no Liceu Central Camilo Castelo Branco, desembarcando no Porto de Santos, SP, a 8 de julho de 1927. Permaneceu algum tempo em São Paulo antes de chegar a Manaus, em 1932, atendendo a um convite de seu irmão José Vaz d’Oliveira.
Na época a cidade contava com uns 80 mil habitantes, o Estado com 420 mil e representava um verdadeiro festival de arruinados, em decorrência do declínio do ciclo da borracha. Mesmo assim, aqui chegou aqui ficou, nunca mais saio de Manaus. Foi casado com a senhora Maria do Céu Beça Vaz d’Oliveira, talentosa professora pertencente à família de grande destaque em Manaus.
Aprovado no concurso de habilitação, concluiu na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Manaus o curso de Bacharel em Direito, turma de 1936, paraninfada pelo ilustre Senador e Ministro Professor Doutor Waldemar Pedrosa. Único português da turma, que estava constituída pelos seguintes Amazonenses: Amadeu Soares Botelho, Carlos Alberto de Aguiar Correa, Hamilton Belfort dos Santos, Heiroceryce Rodrigues Pessoa, João Batista Monteiro de Souza, Mario de Oliveira Adrião, Mario Jorge do Couto Lopes, Raphael Barbosa de Amorim, Roberval Belfort dos Santos e Sebastiao Norões.
Figura humana extraordinariamente agradável, magnânima, de muitas e agradáveis virtudes, o seu relacionamento social em Manaus foi amplo e instantâneo: era sempre recebido com carinho e alegria em todas as camadas sociais, pois que, todos sabiam, ali chegara um homem honrado, que só trilhava os caminhos da justiça e da solidariedade, ou como afirmou certo autor português, “o caráter do trasmontano é retilíneo desde o berço e firme até o fim dos tempos”. Em entrevista concedida ao jornal A Crítica, em 8 de julho de 1977, por ocasião do seu cinquentenário de vivencia no Brasil, com o título :o jovem de Vila Real ficou preso ao feitiço de Manaus”, assim declarou:
“Não tive grande participação na vida literária da mocidade de minha época. Como comerciante, não podia dedicar-me a literatura. Como bacharel, porém, estava ligado a mocidade intelectual, na qual, figuravam nomes como Adriano Jorge, Alvaro Maia, Leopoldo Peres, Genesino Braga, Arthur Cezar Ferreira Reis, Aristophano Antony, Ramayana de Chevalier, Herculano de Castro e Costa e Clovis Barbosa. A este se deveu a fundação da revista literária A Selva, que chegou a ter repercussão nacional, abrigando alguns escritores modernistas que despontavam como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado. O nome da revista fora dado em homenagem ao romance de Ferreira de Castro. Promovi, então, a vinda a Manaus dos escritores Adriano Moreira e Ernani Cidade. O próprio Ferreira de Castro não veio a Manaus por motivo de doença”.
As suas atividades comerciais e industriais foram seguras, arrojadas e intensas. Organizou e dirigiu em Manaus as empresas E.V. d`Oliveira & Cia., E.V. d`Oliveira (Seguros) Ltda. e Oliveira, Barbosa & Cia. Ltda. Foi um dos fundadores e o primeiro Diretor Presidente da Companhia Industrial Amazonense, pioneira na industrialização do estanho. Participou como acionista e membro do Conselho Fiscal da Companhia Brasileira de Juta, pioneira na industrialização da fibra no Amazonas, durante muitos anos o sustentáculo da economia amazonense.
Teve uma participação decisiva na localização em Manaus do hotel turístico que a Varig (durante muitos anos agenciou em Manaus esta importante companhia aérea brasileira) construiu na área da Ponta Negra. Sem a menor dúvida foi responsável direto, com seu entusiasmo e prestigio, pela construção do Hotel Tropical de Manaus.
A sua participação nas instituições sociais e beneméritas de Manaus igualmente foi de grande expressão, sobretudo pela retidão do seu caráter, sempre admiradas pelas numerosas provas de reconhecimento da sociedade manauense. Recebeu a Comenda “Equitem Ordinis Sancti Silvestri Pape” de Sua Santidade o Papa, bem assim, integrou a “Ordem do Cavalheiro de Concordia”, de Roma, Itália.
Presidiu a Real e Benemérita Sociedade Beneficente Portuguesa do Amazonas, de 1948 a 1951; Presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Amazonas; Diretor, Vice-Presidente e membro efetivo do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas, que lhe outorgou em 1988, com muita justiça, a Medalha do Mérito Empresarial J. G. Araújo; da Câmara Municipal de Manaus recebeu o título de Cidadão de Manaus, e da Prefeitura Municipal de Manaus a Medalha do seu Tricentenário. Foi do Conselho Fiscal do Banco do Estado do Amazonas; em Manaus foi Cônsul Honorário da França (1938-1943) e da Bolívia (Interino). Além da comenda papal, recebeu incontáveis títulos de alta significação, dentre os quais destacamos os outorgados pelo Luso Esporte Clube, tradicional entidade social-esportiva de origem portuguesa, pela Santa Casa de Misericórdia e pelo Aero Clube de Manaus, entidades que tiveram a participação direta da sua extraordinária ação criadora.
A sua antiga e formosa residência, no centro de Manaus, foi transformada a 28 de novembro de 2001, pela Secretaria de Cultural do Estado, em “Biblioteca e Centro Cultural de Artes Infantil Emídio Vaz d’Oliveira”, para atender crianças de 4 a 10 anos, do pré-escolar e ensino fundamental, em pleno funcionamento.Em 19 de janeiro de 2002 recebeu post mortem a homenagem definitiva dos seus numerosos e saudosos amigos e admiradores: tem o seu nome adotado na Ordem do Mérito Luso-Brasileiro do Amazonas “Comendador Emídio Vaz de Oliveira”, instituída com o objetivo de homenagear personalidades que se destacam em diferentes áreas de atuação voltadas para o progresso do Amazonas. Foram fundadores desta Ordem do Mérito seus velhos amigos José de Moura Teixeira Lopes, Alfredo Ferreira Pedras, José dos Santos da Silva Azevedo, Alfredo Monteiro Vieira, José Bernardo Cabral, Jose Roberto Tadros, Phelippe Daou, Milton de Magalhaes Cordeiro e Abrahim Sena Baze.
É natural que tenha recebido diferentes formas de homenagens dos mais variados recantos, tributadas em reconhecimento dos seus valiosos e inusitados dotes de proficiência, honradez e equilíbrio. Assim, ficam registradas algumas das homenagens que recebeu:
Municipais
- Título de Cidadão Benemérito de Manaus, concedido pela Câmara Municipal de Manaus (1972);
- Diploma da Prefeitura Municipal de Manaus comemorativo ao tricentenário de Fundação de Manaus (1969);
- Placas de Honra ao Mérito, conferidas em 1964, 1977 e 1983 pelo Ideal Clube, de Manaus.
Estaduais
- Ordem do Mérito do Estado do Amazonas, no grau de Comendador (1983);
- Medalha da Cidade de Manaus Casa Forte do Rio Negro (1969);
- Medalha Tiradentes, concedida pela Policia Militar do Amazonas;
- Medalha Cruz dos Serviços Relevantes, concedida pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas;
- Medalha Amigo da Marinha, concedida pelo Comando Naval da Amazônia Ocidental;
- Medalha Mérito Empresarial J. G. Araújo, concedida pela Associação Comercial do Amazonas;
- Diploma de Sócio Benemérito da Associação Comercial do Amazonas;
- Diploma de Sócio Benfeitor da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas;
- Diploma de Sócio Benfeitor da Santa Casa de Misericórdia, de Manaus (9-7-1986);
- Diploma de Sócio Benfeitor do Aero Clube de Manaus (30-6-1944);
- Diploma de Destaque Comercial, do ano de 1982, concedido pela Associação Comercial do Amazonas, Federação do Comercio do Amazonas e Câmara dos Dirigentes Lojistas do Amazonas;
- Diploma de Honra do Mérito concedido pela União Brasileira de Escritores – UBE;
- Diploma de Sócio Fundador do Clube Juscelino Kubitscheck;
- Placas de Homenagem da Superintendência da Zona Franca de Manaus, em 1982 e 1983;
- Placa Honra ao Mérito do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do amazonas (10-6-1994);
- Medalha 1º. Centenário da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas;
- Homenagem do escritor Jorge Amado com o poema “Cantiga da Amazônia”;
- Homenagem do poeta Luiz Pereira com a poesia Emídio Vaz;
Nacionais
- Medalha de Honra ao Mérito concedida pelo Exército Brasileiro;
- Comenda do Mérito Escolar Marechal Rondon (1966);
- Medalha do sesquicentenário da Independência do Brasil;
- Medalha “Congresso Rosa de Ouro” comemorativa a N.S. Aparecida, Basílica de Aparecida, SP, 15-8-1967;
- Medalha Comemorativa do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, realizado no Rio de Janeiro (1955);
- Medalha Comemorativa da 1ª. Travessia Aéreo do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, 1922-1972;
- Medalha do 1º. Centenário da Congregação de Sant`Ana;
- Participante da comitiva de homenagem do Brasil a Santa Igreja Católica Apostólica Romana (1950);
Internacionais
- Ordem do Infante D. Henrique, concedida pelo Governo de Portugal, no grau de Comendador;
- Ordem de São Silvestre, da Santa Sé Vaticano, no grau de Cavaleiro, concedida por Sua Santidade o Papa;
- Ordem dos Cavaleiros da Concordia (Roma, Itália) concedida pelo Príncipe e Marquês Arturo Della Scala, no grau de Comendador;
- Ordem do Albatroz, de Portugal, no grau de Comendador;
- Medalha da Cidade de Vila Real (Portugal), sua cidade natal;
- Medalha da União das Comunidades de Cultura Portuguesa;
- Medalha do 1º. e 2º. Congresso das Comunidades de Cultura Portuguesa;
- Título de Cidadão de Miami, Florida, EUA;
- Diploma de Honra ao Mérito conferido pelo Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro;
- Medalha Comemorativa do X Ano da revolução de Portugal;
- Medalha do Instituto Português de reumatologia de Portugal (1977);
- Medalha Comemorativa ao 7º. Centenário do Primeiro Floral de D. Dinis, Vila Real (1989).
Emídio Vaz d`Oliveira faleceu em Manaus a 29 de dezembro de 1996, com 86 anos. Foi um denodado empreendedor, um benemérito de muitas causas, mas, acima de tudo, um iluminado homem de bem, abençoado por Deus. (RACL).
Fonte: Depoimento do genro senhor José de Moura Teixeira Lopes.