Yara, Saci, Vitória-régia: ilustrador cria cartazes inspirados no folclore brasileiro

Nemo, Ariel, Frozen. Essas e outras animações conquistaram o público em todo o mundo e muitas fazem uma releitura de lendas, mitos e crenças de vários países. Com essa percepção, o designer carioca Anderson Awvas (lê-se Auvás), de 29 anos, decidiu encontrar no Brasil histórias que pudessem encantar as pessoas tanto quanto uma jovem que decide velejar pelo Oceano Pacífico, com a ajuda de um semi-deus (Moana – Disney/2016), como a da Pequena Yara, uma linda sereia que vive no rio Amazonas.

Totalmente imerso nas pesquisas sobre o folclore brasileiro, Awvas contou ao Portal Amazônia que estuda desde 2013 a mitologia popular brasileira. Assim, há quatro anos, o artista começou a fazer reformulações de histórias do folclore baseado nos estudos do historiador Câmara Cascudo e ainda na consolidação de alguns destes gerada pelos livros de Monteiro Lobato.

“Entendi que não existe muito bem uma origem e que é uma coisa passada oralmente, como um ‘telefone sem fio’, então cada história toma outra forma dependendo de cada região. Mas se fosse real, como realmente seria? Como era antes do ‘telefone sem fio’ começar? Então fui buscar a história real de cada um, começar a entender que as coisas poderiam, sim, ter uma forma diferente”, contou. O primeiro da lista foi o Curupira.

O resultado foi a criação de ilustrações de histórias como as lendas amazônicas da Vitória Régia e da Yara adaptadas para o cinema, bem como a sinopse de cada uma, no projeto ‘Folclore BR: uma nova visão‘. “Fiz numa pegada mais infantil, tentando fazer uma provocação ao mercado para olhar pra cá pra dentro ao invés de olhar só lá pra fora e repensar nossa cultura, nossa mitologia indígena e nosso mercado de animação”. Veja aqui as releituras de outras lendas na versão adulta.

Segundo o ilustrador, uma das ideias é instigar o mercado cinematográfico brasileiro, que poderia concorrer com as gigantes produtoras como Disney, Pixar e Dreamworks. “Ao olhar todos os grandes filmes, sua mitologia, como retratam isso e pensar nisso um pouco, busquei trazer essa qualidade de adaptação, que já acontece há muito tempo lá fora, de uma forma mais brasileira. Como eu adaptaria uma história dessas no Brasil?”, questiona.

E se?

Mas vai muto além disso. Para Awvas o projeto é um exercício imaginativo que busca nas origens das lendas, suas misturas e confusões históricas uma nova forma de contá-las e de provocar. “Peguei os cartazes das maiores animações e trabalhei diretamente em cima deles, como uma paródia, para as pessoas criarem uma relação imediata, a gente vê nitidamente a referência, mas de uma forma lúdica. Assim as pessoas passam a se identificar mais com as lendas amazônicas, nossa mitologia”, explicou.

Para que essa dinâmica fosse ainda maior, no site, o ilustrador conta a história do cartaz, mostra o processo de criação e ainda estimula o pensamento fora do ‘lugar comum’. “E se a história fosse de outro jeito?”, indaga.

Queridinha

A história preferida até agora, revelou Awvas, é da Yara, uma vez que outro propósito em suas histórias é a questão educacional. “Porque a ideia da Yara, para mim, foi algo que preciso muito que aconteça, já ela trata de temas que não falamos com as crianças sobre, como a transsexualidade. Esse tema e crianças parece que não casam, que não é para falar sobre isso, mas é algo necessário. A história pode tocar todos de uma forma educativa e necessária”, defende.

Continuação

Neste projeto, o designer informou que ainda fará mais duas ilustrações: a da lenda de Anhangá (nome que indígenas Tupi da América pré-colombiana davam a um espírito que vive na floresta e toma a forma que quer) e ainda o que chama de ‘Vingadores brasileiros’, um cartaz que reúne diversas lendas, tal como no filme ‘A lenda dos Guardiões’. “O que quero é mostrar que a gente pode ter um bom filme aqui também, superinteressante, totalmente dedicado a algo que as pessoas vão parar para olhar e muitas perguntam ‘como assim isso é folclore?'”, afirma.

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